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INVASÃO DO SUL
Para antropólogo, onda migratória iniciada nos anos 70 é a responsável por mudanças comportamentais
Hispânicos nos EUA vivem duas realidades
DE WASHINGTON
Existem dois tipos de hispânicos vivendo nos Estados Unidos.
Os mais educados, ricos e estabelecidos no país há duas ou três gerações, e uma nova leva, que vem
chegando ao país desde os anos
70, fugida dos ciclos de crise econômica da América Latina e,
principalmente, do México.
Esse segundo grupo ganha bem
menos, tende a ter mais filhos e
produz adolescentes que abandonam com mais facilidade a escola
e engravidam de forma precoce,
perpetuando a mesma situação.
Segundo José Limón, diretor do
Center for Mexican-American
Studies, da Universidade do Texas, as duas fases do fluxo migratório de hispânicos para os EUA
criaram ""duas sociedades distintas dentro da mesma".
Leia, a seguir, trechos da entrevista que Limón, professor de antropologia em Austin, concedeu à
Folha.
(FERNANDO CANZIAN)
Folha - Qual o impacto dos atuais
fluxos de imigração hispânica nos
EUA? Ela tende a continuar firme?
José Limón - Mais recentemente,
tem chegado muito mais gente do
México e também de outros países da América Latina. Os fluxos
continuam. É uma imigração que
não se antecipava e que começou
nos anos 70, com raízes estabelecidas no estado geral da economia
e da política interna desses países.
O que temos agora por conta
disso, principalmente no caso do
México, são duas sociedades dentro de uma mesma.
A primeira é composta de hispânicos e mexicano-americanos
que já estão aqui há anos, há duas
ou três gerações, e que atingiram
um certo êxito. E há uma outra,
dos que vieram a partir dos anos
70. Essa segunda onda ainda persiste e, na maioria dos casos, é formada por pessoas que chegam em
uma situação ilegal e trazendo um
histórico de pobreza extrema.
Ao longo dos anos, por essas características, esses novos imigrantes constituíram uma sociedade
totalmente diferente, em termos
sociais e comportamentais, em
relação à primeira.
No caso dos mexicanos, dos 12
milhões de pessoas vivendo nos
EUA, cerca de 2 milhões se encaixam nesse segundo grupo.
Essas duas sociedades se conhecem, não estão totalmente isoladas uma da outra, mas não se misturam muito. Em alguns casos, a
primeira ajuda a segunda na obtenção de empregos.
Folha - Qual o impacto da população hispânica sobre a política norte-americana?
Limón - Os hispânicos tradicionalmente se identificam mais
com o Partido Democrata. De uns
anos para cá, no entanto, os democratas vêm achando que não
precisam fazer mais nada para
conquistar esses votos. De maneira correta e oportunista, os republicanos vêm procurando conquistar esse espaço.
Há dois pontos de vista dentro
do Partido Republicano. De um
lado, há os muitos incomodados
com a quantidade de mexicanos e
hispânicos que chegam aos EUA e
que antecipam uma espécie de
""corrupção social" do país.
Mas entre os republicanos mais
comerciantes, que reconhecem
nos hispânicos uma mão-de-obra
que convém, o quadro é totalmente diferente. Eles sabem que
esses imigrantes trabalham por
muito menos no setor agrícola e
na construção, por exemplo, onde
há muitos ilegais atuando sem serem incomodados.
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