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Conflito fratura base de Cristina
Crise prolongada com o campo ameaça aliança do peronismo com radicais e racha central sindical
Desgaste tem reflexos no Congresso; mesmo com maioria, presidente suou para aprovar na Câmara
o aumento de impostos
ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES
De 2003 a 2007, o presidente
Néstor Kirchner governou com
tranqüila maioria no Congresso, apoio de grande parte de governadores e prefeitos e sustentação da maior central de
trabalhadores do país. No fim
do ano passado, transferiu a faixa presidencial e toda a base de
apoio para a mulher, a atual
mandatária Cristina Kirchner.
Tudo parecia perfeito até
março, quando Cristina determinou um aumento dos impostos sobre as exportações de
grãos, gerando quatro locautes
agropecuários, bloqueios de estradas e desabastecimento.
O conflito trouxe seqüelas:
fraturou a base de apoio parlamentar, dividiu o partido oficial, o Justicialista (peronista),
rachou a principal central sindical e uniu setores do campo e
da cidade contra o governo.
A base de apoio começou a se
dissolver no campo. O interior
e a periferia de Buenos Aires foram os principais eleitores de
Cristina, que não tinha apoio
nas grandes cidades. Hoje, essa
base de votos se perdeu.
Em março, Cristina tinha
64% de imagem positiva em
duas das principais Províncias
agrícolas do país, Entre Ríos e
Corrientes. Em junho, esse índice caiu para 17%. "Antes do
conflito, sua imagem no campo
estava acima da média nacional. Hoje, está abaixo da média", afirma o analista Fabián
Perechodnik, da consultoria
Poliarquía, autora do estudo.
O descontentamento no interior se refletiu na "rebeldia"
de prefeitos e governadores peronistas, que preferiram ficar
ao lado de suas bases no campo
do que de um governo impopular. Para evitar um desgaste
ainda maior, a presidente enviou o projeto de lei que determinava o aumento de impostos
ao Congresso. A aprovação parecia óbvia, já que o governo
tem maioria qualificada no Legislativo. No entanto, a vitória
na Câmara, há uma semana, foi
suada, após 19 horas de sessão.
A chamada Concertação Plural formada por Kirchner para
as últimas eleições, com o apoio
de membros da União Cívica
Radical e de outros partidos, se
dispersou durante a crise.
Kirchner, hoje presidente do
Partido Justicialista, ligou para
cada deputado da base de apoio
para garantir a aprovação.
Para a votação no Senado,
nesta quarta, convocou uma
marcha até o Congresso para
pressionar os legisladores.
O analista Julio Burdman, do
Centro de Estudos Nova Maioria, acredita que o governo deve
aprovar o projeto, apesar das
dissidências. "O problema é
que essa dissidência pode crescer se os Kirchner não mantiverem uma equilíbrio com a
própria tropa", diz.
Senso comum
Outro personagem que ganhou protagonismo e voz própria em meio ao conflito foi o
vice-presidente, Julio Cobos,
um dos radicais que se associaram ao governo. No auge da crise, Cobos convocou reuniões
com líderes ruralistas e governadores, falou em buscar consensos e foi o primeiro a sugerir
que o projeto de aumento dos
impostos deveria ser enviado
ao Congresso. "Com o discurso
do senso comum, dizendo o que
a maioria das pessoas pensa
diante de um governo que não
aceita dissidência, Cobos recuperou o protagonismo da função", diz Perechodnik.
O episódio mais recente da
fratura da base de apoio do governo foi a divisão, na semana
passada, da Confederação Geral do Trabalho, a CGT, maior e
mais importante central sindical da Argentina e garantia de
público nos atos oficiais.
Outra ameaça ao futuro político dos Kirchner é o ressurgimento de dissidências dentro
do peronismo. "Na América Latina, a perda de popularidade e
de apoios internos constitui
um coquetel explosivo para
qualquer governante", diz
Burdman.
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