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NEOCONSERVADORES
Intelectuais influentes nos anos Reagan retomam inspiração e são a vanguarda da hostilidade ao Iraque
Bush renova fôlego da direita americana
PATRICK JARREAU
DO ""LE MONDE", EM WASHINGTON
A era Reagan lhes proporcionou
seus anos dourados. Eles remodelaram profundamente a direita;
seus jornais e centros de estudos
estão cada vez mais influentes.
Hoje eles têm livre trânsito na Casa Branca, são ouvidos por George W. Bush e organizam o campo
a favor da guerra contra o Iraque.
Eles são os mais ardorosos partidários da guerra contra o Iraque,
de uma ação unilateral que prescinda da ONU e da redefinição
ampla e profunda da política externa dos EUA. São conhecidos
como os neoconservadores, e sua
corrente redefiniu a direita americana e vem ganhando influência
cada vez maior na Casa Branca.
Com George W. Bush, esses intelectuais e militantes reencontram a inspiração dos anos Reagan: ""America is back" -a América está de volta. Será a influência
deles determinante no momento
em que o governo americano enfrenta dificuldades com a ONU?
O poderoso de Washington
William Kristol é o homem
mais poderoso de Washington?
Em seu escritório no ""Weekly
Standard", repleto de livros, jornais e documentos, o sorridente
diretor de Redação parece estar
cansado de ouvir essa pergunta
tão banal. ""Dê uma folga, por favor! Esse governo não gosta muito de mim. E devo lembrar que
apoiei a candidatura de McCain
[que perdeu para Bush a indicação republicana para concorrer à
Presidência em 2000"."
Apesar disso, durante os meses
de discussão sobre o Iraque, a impressão que se teve é que William
Kristol e seus amigos estavam em
toda parte. Um deles, Elliot Cohen, professor da Universidade
Johns Hopkins, publicou um livro
sobre o poder militar. Na contracapa, a opinião de Kristol sobre a
obra: ""Um livro que o presidente
Bush deveria ler". Em Crawford,
sua fazenda no Texas onde tirou
férias, em agosto, George W. Bush
se deixou fotografar com o livro
recomendado debaixo do braço.
Enquanto a discussão sobre o
Iraque corria solta na imprensa,
em agosto, William Kristol desencadeava uma investida nas redações, alimentada por mensagens
de fax. Após o discurso do vice-presidente, Dick Cheney, em
agosto -no qual afirmou não ter
dúvidas de que Saddam Hussein
possui armas de destruição de
massa e de que pretende usá-las
contra os EUA-, Kristol decretou: ""O debate na administração
chegou ao fim. Agora é preciso ir
ao Congresso para pedir que
aprove a ação contra o Iraque".
Outro dia ele enviou um novo
editorial ao ""Weekly Standard",
pedindo que o secretário de Estado, Colin Powell, se não estiver de
acordo com a política do presidente Bush, ""se afaste e deixe que
outra pessoa faça o trabalho". Dizendo que o ""New York Times"
errou ao colocar Henry Kissinger
entre os adversários da guerra, ele
preveniu os jornalistas contra essa ""informação equivocada".
Às vezes a mensagem é exclusivamente de Kristol; em outras
ocasiões, é um editorial assinado
em conjunto com seus acólitos
Fred Barnes ou Robert Kagan.
Nos momentos graves, podem ser
30 deles a subscrever solenemente
uma carta aberta endereçada a
Bush. Foi o que fizeram após os
ataques de 11 de setembro, para
expressar seu espanto pelo fato de
os grupos palestinos que organizam os atentados suicidas não figurarem na lista dos grupos terroristas combatidos pelos EUA.
Romper com os hábitos
""Eles não são muitos, mas a Casa Branca presta muita atenção ao
que dizem", observa Jim Hoagland, principal redator de internacional do ""Washington Post".
Quando Brent Scrowcroft, assessor de Segurança Nacional do primeiro presidente Bush, ou o ex-presidente democrata Jimmy
Carter denunciam aqueles que introduzem ""modificações fundamentais" na política externa dos
Estados Unidos, é principalmente
este grupo que têm em mente.
Quer o assunto seja o Oriente
Médio, o Iraque, a Arábia Saudita
ou mesmo a ONU, eles querem
romper com os hábitos da política
americana. Assim, são conhecidos como "neoconservadores".
Ao longo dos anos, essa escola
de pensamento vem conquistando um espaço considerável na galáxia dos grupos de reflexão republicanos. Em Washington, vários
institutos transmissores de idéias
e análises à administração federal
e aos parlamentares são animados ou controlados por pessoas
dessa tendência política.
""O importante é o capital intelectual", explica Michael Horowitz, um dos dirigentes do Hudson Institute. Para ele, esse ""capital" não se encontra mais nas universidades, atoladas em empreendimentos ideológicos inúteis.
""Roosevelt ou, 30 anos mais tarde, Kennedy podiam se fazer cercar de acadêmicos universitários
para criar o New Deal ou a Nova
Fronteira. Kissinger era professor
universitário quando Nixon o tomou como assessor. Hoje, os universitários não têm nada para
contribuir aos políticos", afirma
esse jurista engajado na luta pela
liberdade religiosa e contra a exploração sexual no mundo.
Os neoconservadores são influentes na mídia. Eles dão o tom
na Fox News, a emissora de jornalismo de Rupert Murdoch -que
financia o ""Weekly Standard"-,
e suas idéias dominam a página
de opinião do ""Wall Street Journal". Alguns dos mais talentosos
comentaristas do ""New York Times", do ""Washington Post", da
""Time" ou da ""Newsweek" -William Safire, George Will, Charles
Krauthammer- são dessa linha.
Para concluir, ela está presente
no governo. Paul Wolfowitz, o
número dois do Pentágono, faz
parte da linha dos neoconservadores, assim como John Bolton,
um dos assistentes de Powell.
Cheney tem a seu lado uma simpatizante desse pensamento na
pessoa de sua mulher, a ensaísta
Lynn Cheney. Desde os atentados
de 11 de setembro de 2001, a posição dos neoconservadores vem se
fortalecendo junto à opinião pública e nos círculos do poder. Por
uma razão simples, afirmam os
próprios: suas idéias são claras.
Tradução de Clara Allain
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