São Paulo, domingo, 13 de outubro de 2002

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NEOCONSERVADORES

Intelectuais influentes nos anos Reagan retomam inspiração e são a vanguarda da hostilidade ao Iraque

Bush renova fôlego da direita americana

PATRICK JARREAU
DO ""LE MONDE", EM WASHINGTON

A era Reagan lhes proporcionou seus anos dourados. Eles remodelaram profundamente a direita; seus jornais e centros de estudos estão cada vez mais influentes. Hoje eles têm livre trânsito na Casa Branca, são ouvidos por George W. Bush e organizam o campo a favor da guerra contra o Iraque.
Eles são os mais ardorosos partidários da guerra contra o Iraque, de uma ação unilateral que prescinda da ONU e da redefinição ampla e profunda da política externa dos EUA. São conhecidos como os neoconservadores, e sua corrente redefiniu a direita americana e vem ganhando influência cada vez maior na Casa Branca.
Com George W. Bush, esses intelectuais e militantes reencontram a inspiração dos anos Reagan: ""America is back" -a América está de volta. Será a influência deles determinante no momento em que o governo americano enfrenta dificuldades com a ONU?

O poderoso de Washington
William Kristol é o homem mais poderoso de Washington? Em seu escritório no ""Weekly Standard", repleto de livros, jornais e documentos, o sorridente diretor de Redação parece estar cansado de ouvir essa pergunta tão banal. ""Dê uma folga, por favor! Esse governo não gosta muito de mim. E devo lembrar que apoiei a candidatura de McCain [que perdeu para Bush a indicação republicana para concorrer à Presidência em 2000"."
Apesar disso, durante os meses de discussão sobre o Iraque, a impressão que se teve é que William Kristol e seus amigos estavam em toda parte. Um deles, Elliot Cohen, professor da Universidade Johns Hopkins, publicou um livro sobre o poder militar. Na contracapa, a opinião de Kristol sobre a obra: ""Um livro que o presidente Bush deveria ler". Em Crawford, sua fazenda no Texas onde tirou férias, em agosto, George W. Bush se deixou fotografar com o livro recomendado debaixo do braço.
Enquanto a discussão sobre o Iraque corria solta na imprensa, em agosto, William Kristol desencadeava uma investida nas redações, alimentada por mensagens de fax. Após o discurso do vice-presidente, Dick Cheney, em agosto -no qual afirmou não ter dúvidas de que Saddam Hussein possui armas de destruição de massa e de que pretende usá-las contra os EUA-, Kristol decretou: ""O debate na administração chegou ao fim. Agora é preciso ir ao Congresso para pedir que aprove a ação contra o Iraque".
Outro dia ele enviou um novo editorial ao ""Weekly Standard", pedindo que o secretário de Estado, Colin Powell, se não estiver de acordo com a política do presidente Bush, ""se afaste e deixe que outra pessoa faça o trabalho". Dizendo que o ""New York Times" errou ao colocar Henry Kissinger entre os adversários da guerra, ele preveniu os jornalistas contra essa ""informação equivocada".
Às vezes a mensagem é exclusivamente de Kristol; em outras ocasiões, é um editorial assinado em conjunto com seus acólitos Fred Barnes ou Robert Kagan. Nos momentos graves, podem ser 30 deles a subscrever solenemente uma carta aberta endereçada a Bush. Foi o que fizeram após os ataques de 11 de setembro, para expressar seu espanto pelo fato de os grupos palestinos que organizam os atentados suicidas não figurarem na lista dos grupos terroristas combatidos pelos EUA.

Romper com os hábitos
""Eles não são muitos, mas a Casa Branca presta muita atenção ao que dizem", observa Jim Hoagland, principal redator de internacional do ""Washington Post". Quando Brent Scrowcroft, assessor de Segurança Nacional do primeiro presidente Bush, ou o ex-presidente democrata Jimmy Carter denunciam aqueles que introduzem ""modificações fundamentais" na política externa dos Estados Unidos, é principalmente este grupo que têm em mente.
Quer o assunto seja o Oriente Médio, o Iraque, a Arábia Saudita ou mesmo a ONU, eles querem romper com os hábitos da política americana. Assim, são conhecidos como "neoconservadores".
Ao longo dos anos, essa escola de pensamento vem conquistando um espaço considerável na galáxia dos grupos de reflexão republicanos. Em Washington, vários institutos transmissores de idéias e análises à administração federal e aos parlamentares são animados ou controlados por pessoas dessa tendência política.
""O importante é o capital intelectual", explica Michael Horowitz, um dos dirigentes do Hudson Institute. Para ele, esse ""capital" não se encontra mais nas universidades, atoladas em empreendimentos ideológicos inúteis.
""Roosevelt ou, 30 anos mais tarde, Kennedy podiam se fazer cercar de acadêmicos universitários para criar o New Deal ou a Nova Fronteira. Kissinger era professor universitário quando Nixon o tomou como assessor. Hoje, os universitários não têm nada para contribuir aos políticos", afirma esse jurista engajado na luta pela liberdade religiosa e contra a exploração sexual no mundo.
Os neoconservadores são influentes na mídia. Eles dão o tom na Fox News, a emissora de jornalismo de Rupert Murdoch -que financia o ""Weekly Standard"-, e suas idéias dominam a página de opinião do ""Wall Street Journal". Alguns dos mais talentosos comentaristas do ""New York Times", do ""Washington Post", da ""Time" ou da ""Newsweek" -William Safire, George Will, Charles Krauthammer- são dessa linha.
Para concluir, ela está presente no governo. Paul Wolfowitz, o número dois do Pentágono, faz parte da linha dos neoconservadores, assim como John Bolton, um dos assistentes de Powell.
Cheney tem a seu lado uma simpatizante desse pensamento na pessoa de sua mulher, a ensaísta Lynn Cheney. Desde os atentados de 11 de setembro de 2001, a posição dos neoconservadores vem se fortalecendo junto à opinião pública e nos círculos do poder. Por uma razão simples, afirmam os próprios: suas idéias são claras.


Tradução de Clara Allain


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