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Pentágono dá início a "ajuda humanitária" para Geórgia
Missão anunciada por Bush é resposta a pressão interna por socorro a aliado
Ato pode gerar tensão por destacar forças dos EUA em território sob controle russo;
para Kremlin, Bush precisa escolher de que lado está
DA REDAÇÃO
No primeiro anúncio palpável após dias de retórica flutuante, os EUA anunciaram ontem uma operação militar de
"assistência humanitária" na
Geórgia, que na véspera aceitou
um plano de cessar-fogo negociado entre a União Européia e
o governo da Rússia.
A ação pode elevar a tensão
entre EUA e Rússia, por implicar no destacamento de militares americanos em território e
espaço aéreo controlados, na
prática, por Moscou.
"A missão será vigorosa e
contínua", disse o presidente
americano, George W. Bush, ao
lado de seu secretário da Defesa, Robert Gates. O primeiro
cargueiro com suprimentos
chegou a Tbilisi ontem.
Segundo Bush, outros destacamentos da Força Aérea dos
EUA e das forças navais no mar
Negro -onde a Rússia também
mantém embarcações militares- serão usados na missão
em breve. "Esperamos que a
Rússia cumpra seu compromisso de deixar entrar todas as
formas de assistência humanitária (...) e garanta que todas as
linhas de comunicação e transporte, incluindo portos, aeroportos, estradas e o espaço aéreo, permaneçam abertos."
A secretária de Estado dos
EUA, Condoleezza Rice, viajará
para Paris, onde se reunirá com
o presidente Nicolas Sarkozy,
mediador do conflito, e em seguida paraTbilisi, para "transmitir o apoio inabalável dos
EUA ao governo da Geórgia".
"A Rússia está arriscando
suas aspirações ao tomar atitudes que são incoerentes com os
princípios das instituições [internacionais]", disse Bush. A
Casa Branca afirmou ainda ter
"relatos críveis" de que a Rússia
viola o acordo de cessar-fogo.
Presença militar
O anúncio de Bush responde
sobretudo a pressões internas.
Ontem, o conservador "The
Wall Street Journal" disse que
"a credibilidade dos EUA está
em questão enquanto o governo Bush hesita em responder à
invasão russa da Geórgia. Até
agora o governo parece desaparecido em combate".
A missão anunciada ficou
distante do envolvimento militar direto pretendido pelo presidente da Geórgia, Mikhail
Saakashvili, que chegou ao poder em 2003 com apoio dos
EUA e colocou o país na rota de
adesão à Otan, a aliança militar
ocidental. Mas foi entendido
-e maximizado- pelos georgianos como um "ponto de inflexão" no conflito.
Saakashvili chegou a dizer
que a ação significa "definitivamente uma presença militar
americana" e que os EUA controlariam portos e aeroportos
locais -algo que foi rapidamente negado pelo Pentágono.
Horas antes, Saakashvili havia criticado as declarações iniciais dos EUA, para ele "brandas demais". "As primeiras declarações foram percebidas pelos russos quase como uma luz
verde", disse ele à CNN.
Desde o início do conflito, na
última quinta-feira, quando a
Geórgia invadiu o território separatista da Ossétia do Sul, os
EUA reagiram de forma inconsistente. Anteontem, o governo
americano disse ser "irrelevante" apontar culpados na crise.
Para a Geórgia, há anos embalada em promessas de apoio
e treinamento militar dos EUA,
a posição foi praticamente um
abandono por parte do aliado.
Saakashvili chegou a comparar as reações do Ocidente às
políticas de apaziguamento antes da Segunda Guerra Mundial
(1939-1945). "O apaziguamento em 1938 causou dezenas de
milhões de mortes à Europa."
Em Moscou, o chanceler russo, Sergei Lavrov, respondeu ao
anúncio de Bush dizendo que
os EUA devem escolher entre a
Geórgia e a Rússia.
"Nós entendemos que a atual
liderança georgiana é um projeto especial dos EUA, mas um
dia os EUA vão ter que escolher
entre defender o seu prestígio
com um projeto virtual ou uma
parceria real que requer ações
conjuntas", disse.
Com agências internacionais
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