São Paulo, quarta-feira, 15 de abril de 2009

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Coreia do Norte retomará programa nuclear

Um dia após anúncio de sanções da ONU em reação a disparo, regime rompe diálogo com Grupo dos Seis e expulsa técnicos da AIEA

Casa Branca contemporiza e fala em negociação direta com norte-coreanos; teste de suposto míssil no dia 5 foi recebido como provocação


DA REDAÇÃO

A Coreia do Norte expulsou ontem técnicos da AIEA (agência atômica da ONU) e anunciou a retomada de seu programa nuclear militar, em retaliação à condenação, pelo Conselho de Segurança da ONU, do disparo de um foguete no dia 5. A declaração do organismo determina que se façam cumprir restrições ao país, alvo de sanções desde 2006, quando testou uma bomba atômica.
Pyongyang abandonou também o Grupo dos Seis (EUA, Rússia, Japão, China e as Coreias), fórum das negociações que culminaram no desligamento do reator nuclear de Yongbyon, em 2007. Especialistas afirmam que a usina de Yongbyon possa voltar a enriquecer plutônio em três meses. O material é usado em bombas.
Foi "uma resposta desnecessária a uma declaração legítima, que reflete a preocupação do Conselho de Segurança", disse a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton. "Esperamos ter uma oportunidade de discutir isso não apenas com nossos aliados, mas também, eventualmente, com os norte-coreanos", contemporizou.
Segundo o Conselho, o lançamento do Taepondong-2 violou os termos da resolução de 2006 que obriga Pyongyang a abandonar os programas nuclear e balístico. Mais brando do que o defendido pelos EUA, o texto evoca o congelamento de ativos de empresas norte-coreanas no exterior.
A declaração, aprovada por unanimidade, não especifica se o aparato era um foguete civil, como afirma Pyongyang, ou um míssil balístico, com alegam EUA e Japão. O tema divide especialistas, unânimes apenas em afirmar que Taepondong-2 e sua carga caíram no mar.
O lançamento, apresentado como um sucesso pela imprensa norte-coreana, tem importantes implicações internas para o regime. O ditador convalescente Kim Jong-il precisa estar em posição de força para fazer seu sucessor -e vencer a corrida espacial com o rico vizinho do sul seria um imenso golpe de propaganda.

Negociação turbulenta
O disparo foi também uma provocação internacional. Isolado desde o colapso do bloco soviético, o regime comunista norte-coreano resiste em razão do seu relativamente avançado programa militar.
A Coreia do Norte abandonou o Tratado de Não Proliferação Nuclear em 2005. A ruptura foi precedida por divergências com a AIEA e por um crescente cerco dos EUA -o então presidente, George W. Bush, incluiu o país no "eixo do mal", ao lado do Irã e Iraque.
Com o teste de uma bomba atômica, em 2006, Pyongyang voltou à posição de força e barganhou compensações econômicas (petróleo e alimentos) e políticas em troca do abandono dos programas balístico e nuclear, rechaçados pela ONU.
A conciliação empacou em 2008, diante de atrasos nas contrapartidas acordadas e no desmonte nuclear norte-coreano. Em protesto, Pyongyang suspendeu a desativação da planta de Yongbyon e expulsou técnicos da AIEA.
O endurecimento surtiu efeito, e a Casa Branca retirou o país da lista de Estados patrocinadores do terrorismo.
A contínua pressão desgastou, porém, as relações com Seul. A eleição, em dezembro, do presidente Lee Myung-bak marcou uma ruptura com a política de concessões adotada na última década pela Coreia do Sul, que buscava selar uma paz definitiva. A Guerra da Coreia (1950-53) foi interrompida por um cessar-fogo, ainda vigente, mas não houve acordo de paz.

Com agências internacionais


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