São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 2002 |
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VENEZUELA Homem-forte do presidente, Rangel classifica a greve geral de "sabotagem" e defende o "aprofundamento" das negociações Chávez quer diálogo mas não cede, diz vice
ROGERIO WASSERMANN DA REDAÇÃO O governo venezuelano considera o "aprofundamento do diálogo" a saída para a crise política por que passa o país, mas não cederá às exigências feitas pela oposição para a renúncia do presidente Hugo Chávez e a convocação de eleições antecipadas. Em entrevista por telefone à Folha, na tarde de anteontem, o vice-presidente do país, José Vicente Rangel, classificou a greve geral liderada pela oposição desde o dia 2 de "sabotagem terrorista". A greve, convocada para pressionar Chávez a aceitar um referendo sobre seu mandato, que termina em 2007, praticamente paralisou a indústria petroleira, principal fonte de divisas do país. Apesar dos fortes sinais de desabastecimento e das declarações de outros membros do governo de que o país poderá até mesmo importar gasolina e mão-de-obra para compensar os efeitos da greve, Rangel nega que ela esteja afetando a vida cotidiana do país. "Com uma paralisação de 12 dias, ou o país é extremamente poderoso para resistir a ela, ou não existe paralisação", disse. "O país está funcionando perfeitamente." Homem-forte do governo Chávez, no qual já foi ministro das Relações Exteriores e da Defesa, Rangel é também o representante do presidente na mesa de diálogo mediada pela OEA (Organização dos Estados Americanos). Mesmo com a presença em Caracas do secretário-geral da OEA, César Gaviria, há mais de um mês, até agora os esforços da mesa foram infrutíferos. Folha - Qual é a saída para a atual
crise política na Venezuela? Folha - Mas o diálogo é possível?
O secretário-geral da OEA, César
Gaviria, está tentando mediar um
diálogo, mas até agora não há resultados. Que tipo de entendimento é possível? Folha - Mas tanto o governo
quanto a oposição mantêm posições muito duras, sem dar sinais de
que podem ceder. Folha - A oposição exige a convocação de um referendo ou de eleições antecipadas. O governo pode
ceder nesse ponto? Folha - Então que proposta o governo teria à oposição? Folha - Os EUA defenderam em
um comunicado a realização de
eleições antecipadas como uma
possível saída para a crise venezuelana. Qual a posição do governo em
relação a esse comunicado? Folha - Existe uma proposta em
discussão na Assembléia Nacional
para uma emenda constitucional
que permita a convocação de um
referendo ou de eleições antecipadas. Qual a posição do governo? Folha - E se essa emenda for aprovada, o governo permitiria a realização de eleições antecipadas? Folha - Mas os deputados governistas votariam a favor dessa
emenda? Folha - Então o governo não tomaria posição em relação à votação? Folha - A situação no país está se
deteriorando, com uma greve geral que já chega quase a duas semanas. Como o governo pretende
enfrentar isso? Folha - Mas não deveriam sair 40
petroleiros por dia? Folha - Que objetivo teria essa sabotagem? Folha - O governo está preparado
hoje para enfrentar uma eventual
tentativa de golpe, como a que tirou Chávez do poder por dois dias? Folha - Em abril, oficiais das Forças Armadas apoiaram o golpe. Por
que isso não poderia se repetir? Folha - E a questão do apoio popular? As pesquisas mostram uma
grande insatisfação com o presidente, e a oposição tem conseguido reunir muita gente em suas manifestações. Folha - Na semana passada, em
um ato da oposição na praça França de Altamira, três pessoas foram
mortas num tiroteio, pelo qual a
oposição acusou o governo. As pessoas que dispararam têm ligações
com o governo? Folha - O acirramento das manifestações não pode levar a uma situação como a de 11 de abril, quando ao menos 17 pessoas foram
mortas durante uma manifestação
em Caracas? Folha - Existe a possibilidade de o
governo decretar um estado de exceção se a greve continuar? Folha - E até que ponto o país pode resistir com o prolongamento
da paralisação na indústria petrolífera, pilar de sua economia? Folha - Mas a economia não está
sendo afetada? A agência de classificação de risco americana Standard & Poors acaba de rebaixar a
classificação da dívida pública venezuelana por considerar que a
greve torna a situação econômica
mais complicada. Folha - Chávez termina seu mandato, em 2007? Folha - Chávez conversou por telefone nesta semana com o presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio
Lula da Silva. Ele recebeu algum
pedido ou sugestão de Lula para lidar com a crise? Folha - O governo venezuelano
espera algum tipo de ajuda ou
apoio do futuro governo Lula? |
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