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IGREJA
Roma espera 400 mil pessoas para cerimônia que reconhecerá como santo frade capuchinho marcado por estigmas
Papa celebra hoje canonização de Padre Pio
PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO
Roma deve celebrar uma das
maiores cerimônias religiosas de
sua história hoje, quando a Igreja
Católica reconhece como santo
um frade capuchinho venerado
na Itália e em vários outros países.
Padre Pio (1887-1968) ganhou
notoriedade como confessor e
por seus dons espirituais extraordinários. Como diz sua biografia
oficial no Vaticano, "viveu imerso
nas realidades sobrenaturais". Segundo devotos, ainda em vida tinha a capacidade de estar em dois
lugares ao mesmo tempo.
Experiências místicas marcaram sua vida, junto com os estigmas, que apareceram quando ele
tinha 23 anos, nas palmas das
mãos, nos pés e no tórax, semelhantes às chagas que Jesus Cristo
recebeu na cruz. As feridas cicatrizaram apenas no dia de sua morte, mais de 50 anos depois.
Apesar da saúde cada vez mais
frágil, o papa João Paulo 2º, 82,
deve comandar a cerimônia de
canonização.
Autoridades civis de Roma esperam ao menos 400 mil peregrinos, e a polícia trabalha com um
esquema de segurança para cerca
de 600 mil pessoas.
Em 1999, mais de 300 mil pessoas foram à beatificação do frade. O evento serviu de balão de
ensaio para as celebrações em Roma do Grande Jubileu dos 2.000
anos do nascimento de Cristo.
Hoje, mais de 4.000 ônibus e 50
trens especiais vão transportar
fiéis de todos os recantos da Itália.
Ao lado de cardeais, bispos, políticos e artistas, assistirá à cerimônia o menino Matteo Colella,
11, que se curou de uma meningite supostamente graças à intercessão de Padre Pio. Como é de praxe, o caso foi examinado por um
tribunal científico e eclesiástico.
Devotos de países como Itália,
EUA e Brasil (cujas agências de
turismo religioso organizaram
viagens especiais para a canonização) vêm se reunindo em grupos
de oração para recordar os numerosos milagres a ele atribuídos.
Cerca de 150 biografias dele foram escritas nos últimos dois
anos, além dos CDs e dos sites sobre ele. Uma obra curiosa é o livro
"VIPs Devotos de Padre Pio", em
que artistas como Sophia Loren
contam como o frade italiano teria mudado sua vida.
Estigmatizado
Na semana passada, Gerardo
Violi, consultor médico para a
causa da canonização de Padre
Pio, anunciou a formação de uma
comissão de médicos, advogados,
teólogos e psiquiatras para estudar os estigmas de Padre Pio.
A intenção é persuadir o Vaticano a reconhecê-lo oficialmente
como um estigmatizado. Se isso
vier a acontecer, ele será apenas o
quarto caso ao qual o Vaticano
deu sanções oficiais. Os outros
são os de são Francisco, santa Catarina e santa Clara.
O reconhecimento já se fez presente de certa forma. O papa Paulo 6º chegou a descrever Padre
Pio, apenas três anos depois da
morte, como uma "representação
fiel dos estigmas de Nosso Senhor" -palavras que aparecem
em seu túmulo.
Além disso, em 3 de março de
2000, João Paulo 2º e o secretário
de Estado do Vaticano, cardeal
Angelo Sodano, referiram-se a ele
como o "frade estigmatizado".
A diocese de Roma inaugurou
recentemente uma exposição cuja
principal obra é uma das luvas
que Padre Pio usava para cobrir as
feridas na palma da mão.
Biografia
Conhecido como o "crucifixo
vivo", Padre Pio (cujo nome de
batismo é Francesco Forgione)
nasceu em Pietrelcina, na arquidiocese de Benevento. Filho de
camponeses, entrou para o noviciado aos 16 anos.
Em 1916, foi mandado para o
mosteiro de San Giovanni Rotondo, onde passou a maior parte de
sua vida e foi enterrado.
Então um pequeno vilarejo, San
Giovanni Rotondo atualmente é
uma espécie de Lourdes da Itália,
que recebe 7,5 milhões de visitantes por ano, apesar de ter apenas
23 mil habitantes.
Entre os milagres atribuídos a
Padre Pio quando ainda estava vivo, inclui-se a cura de uma amiga
de João Paulo 2º, a psiquiatra polonesa Wanda Poltawska, que tinha um tumor na garganta. Em
consideração, Poltawska assistiu à
beatificação em 1999.
Apesar de admirador de Padre
Pio, que conheceu em 1947
(quando Karol Wojtyla ainda era
estudante em Roma), o papa desmentiu que ele tivesse previsto
sua eleição e o atentado de que foi
vítima, em 1981.
Desconfiança
Sua fama de santidade era tão
grande que a devoção suscitou a
desconfiança da Santa Sé e levou o
Vaticano, que criticava seu estilo
rigoroso de religiosidade, a investigar sua trajetória.
"Padre Pio é um santo homem,
mas seus seguidores se comportam às vezes de forma ridícula e
supersticiosa", afirmou o papa
João 23, que o proibiu de celebrar
missas e decretou que os sacerdotes não deveriam peregrinar a San
Giovanni Rotondo, onde ele vivia.
Nos anos que se seguiram à sua
morte, a fama de santidade e de
milagres foi crescendo cada vez
mais, tornando-o um fenômeno
da Igreja Católica.
"Ele exerceu o ministério por 58
anos, de manhã e à noite, com horas e horas dedicadas aos que se
voltaram para ele: homens e mulheres, doentes e saudáveis, ricos e
pobres, clérigos e leigos, vindos de
perto e de longe", afirmou o cardeal português José Saraiva Martins, que é o prefeito da Congregação das Causas do Santos no Vaticano desde 1998.
"Em sua causa de canonização,
essa é definitivamente sua maior
asserção de glória: a prova de sua
santidade e o exemplo mais claro
que ele deixou para padres de todo o mundo neste século e nos séculos vindouros", declarou.
João Paulo 2º já beatificou e canonizou mais pessoas que todos
seus antecessores desde a fundação, em 1594, da Congregação das
Causas dos Santos -eles nomearam 808 beatos e 296 santos. O papa realizou mais de 1.300 beatificações e 470 canonizações desde
que foi eleito, em 1978.
A festa litúrgica -dia do santo- de Padre Pio será em 23 de
setembro, dia de sua morte.
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