|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Lula admite renegociar o Tratado de Itaipu
DA ENVIADA A ASSUNÇÃO
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu a entender ontem que, apesar das reações em
contrário da área técnica do governo, o Brasil irá ceder às pressões do Paraguai para rever
condições da parceria na hidrelétrica Itaipu Binacional. Segundo ele, "tudo aquilo que for
possível negociar nós vamos
negociar, porque nós queremos
ajudar os parceiros".
Ele, porém, estabeleceu um
limite para atender à reivindicação paraguaia para aumentar
o preço que o Brasil paga ao
país pela energia excedente
(93%) de Itaipu. "Na questão
das tarifas, vamos aguardar a
demanda deles, porque qualquer aumento de tarifa que incidir em aumento de tarifa para
o povo brasileiro, aí fica complicado", disse.
Já na base área para embarcar de volta ao Brasil após assistir à posse de Fernando Lugo
em Assunção, Lula assumiu um
tom quase paternalista ao falar
em entrevista coletiva sobre a
ajuda brasileira ao Paraguai.
Segundo ele, o Brasil tem
"uma enorme responsabilidade
de ajudar os países mais pobres
da América do Sul e do Mercosul a se desenvolver".
"Temos de ajudar os mais pobres a se desenvolver porque,
na medida em que eles se desenvolverem, vão fazer crescer
todo o bloco e todo o continente. Não tem nenhum sentido
um país ser rico e os outros serem pobres", acrescentou.
Segundo Lula, "os deputados,
os senadores, o presidente da
República e os ministros têm
de ter compreensão de que temos de ajudar os mais pobres".
Foi um duplo recado: ao ministro de Minas e Energia, Edison
Lobão, que é radicalmente contra aumentar os preços da
energia paraguaia, e ao Congresso, que poderá vir a ser chamado para rever o tratado.
No início deste mês, Lugo entregou ao assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, um conjunto de
reivindicações sobre Itaipu. Ele
quer liberdade para vender a
energia a Argentina, Uruguai e
Chile -o tratado determina exclusividade ao Brasil.
O chanceler Celso Amorim
negou que o Brasil queira ser
"bonzinho" com os vizinhos
pobres: "Ser generoso não é ser
bonzinho, é olhar seu próprio
interesse no longo prazo. O
Brasil só será forte com a América do Sul forte e unida".
Na posse
No trajeto a pé entre o Palácio de Governo e a Catedral
Metropolitana, escalas da posse de Lugo, Lula primeiro foi
recebido aos gritos de "Itaipu,
Itaipu" pelos que defendem a
revisão do tratado. Depois, reagiu e foi cumprimentar os manifestantes com apertos de
mão e abraços. Os gritos passaram a ser: "Lula-lá, Lula-lá".
Foram seis minutos de cumprimentos à longa fila que se
formava ao longo do passeio.
Vez ou outra, a palavra de ordem mudava para "renegociação, renegociação".
Lula abriu a fila de cumprimentos a Lugo e foi o presidente que por mais tempo conversou com ele. No final, deu-lhe
um longo abraço. Para Lula,
Lugo é "a esperança da renovação". O brasileiro disse ter sugerido ao paraguaio "paciência
e capacidade de negociação".
Um outro tema na pauta bilateral é a tensão entre os agricultores brasileiros que produzem
no Paraguai e os camponeses
locais que resistem à presença
deles. Lula defendeu os brasileiros: "Pessoas que têm terras
legalmente contratadas devem
ser respeitadas". E advertiu que
tentar invadir-lhes as terras é
"uma violência contra o princípio da legalidade".
Os dois países acertam agora
a data de uma viagem oficial de
Lugo ao Brasil, a primeira que
ele fará depois da posse.
(EC)
Texto Anterior: Vice aproveita ausência para irritar Cristina Próximo Texto: Frases Índice
|