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Sob pressão, Geórgia assina cessar-fogo com a Rússia
Moscou diz que também assinará, mas como mediadora; Bush critica russos
Documento não menciona "integridade territorial" da Geórgia; Medvedev volta a defender a independência de territórios autonomistas
DA REDAÇÃO
O presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili, assinou ontem o acordo de cessar-fogo negociado terça-feira pela França,
em nome da União Européia. A
assinatura se deu em Tbilisi,
após negociação de cinco horas
com a secretária de Estado
americana, Condoleezza Rice.
A entrevista de Rice e Saakashvili com os jornalistas sofreu atraso de três horas, num
claro indício de que o dirigente
georgiano hesitou ou tentou
obter novas garantias que o
texto não poderia lhe dar.
A secretária de Estado afirmou que o presidente Dmitri
Medvedev assinaria em Moscou o mesmo documento, com
o qual os dois países já haviam
se comprometido na terça-feira, o que oficializaria o compromisso de a Rússia "se retirar
imediatamente" da Geórgia.
Isso é só em parte verdade. O
acordo dá ao Kremlin o direito
de manter militares na Ossétia
do Sul e na Abkházia, duas regiões separatistas georgianas
que textos internacionais de
1992 praticamente definiram
como protetorados russos.
A Geórgia também podia
manter forças nesses dois territórios, mas perdeu o direito, segundo o acordo de cessar-fogo,
depois do conflito que ela iniciou no último dia 7.
Assinatura russa
O governo georgiano, aliado
dos EUA, saiu enfraquecido dos
confrontos, em detrimento dos
russos. O texto que Saakashvili
assinou dá aos russos a possibilidade de patrulhar dentro da
Geórgia, 10 km além da divisa
da Abkházia e da Ossétia do Sul.
A porta-voz de Medvedev
afirmou ontem à noite que as
duas regiões autonomistas já
haviam assinado o documento
e que, após a assinatura de Saakashvili, Medvedev o faria,
"mas como um mediador".
Ou seja, a Rússia não se vê como parte envolvida no conflito.
É "mediadora", diz a porta-voz,
"da mesma forma que a União
Européia e a OSCE (Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa)", organismo
que desde 1992 supervisiona os
dois territórios separatistas.
Em declarações ao lado de
Saakashvili, Rice disse que o
acordo "não é sobre o futuro da
Abkházia ou da Ossétia do Sul",
mas um texto "que obriga os
russos a retirarem seus militares". Pouco depois, no entanto,
reconheceu aos russos o direito
à zona-tampão. Disse ser uma
solução temporária, pois "em
alguns dias" chegariam forças
de paz da Europa.
Tal iniciativa, porém, dependeria de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU,
onde a Rússia tem poder de veto. Ontem, Medvedev disse que
a presença de forças internacionais não seria aceita pelos
moradores da Ossétia do Sul e
da Abkházia, já que eles enxergam a Rússia como "a única capaz de garantir a estabilidade
regional".
Saakashvili acusou os integrantes europeus da Otan, a
aliança militar ocidental, de terem dado a senha para a operação militar russa contra seu
país, ao vetarem, em abril, o ingresso formal da Geórgia.
Referia-se à França e à Alemanha, que argumentaram na
conferência da Otan, em Bucareste, que a Geórgia, com problemas territoriais, exigiria a
intervenção da aliança para
ajudá-la em caso de conflito.
Em Washington, o presidente Bush voltou a criticar a Rússia em termos pesados. Afirmou que "ameaças e intimidações não são formas aceitáveis
para a condução de políticas no
século 21". Defendeu a "integridade territorial" da Geórgia.
A chanceler alemã, Angela
Merkel, em visita à Rússia, onde foi recebida por Medvedev,
afirmou também que "o ponto
central para a solução política
do conflito deve ser a integridade territorial da Geórgia".
Ocorre, diz a Reuters, que a
questão da integridade, que estava na versão inicial da proposta de cessar-fogo da França,
sumiu. Há menção a "independência e soberania" do país.
Independência
O presidente Medvedev sublinhou a impossibilidade de
manter a integridade territorial
do pequeno país vizinho. "Depois de tudo o que aconteceu, é
pouco provável que os sul-ossetianos e a população da Abkházia possam conviver no mesmo
Estado que os georgianos."
Ou seja, voltou a advogar a independência das duas regiões,
com a automática desintegração territorial da Geórgia.
Com agências internacionais
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