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Campo pressionará por mais concessões
Produtores pedem medidas específicas para cada setor; analistas apontam necessidade de haver mais negociações
Rival parabeniza presidente por decisão; especialistas vêem janela para Cristina tentar reconstruir sua popularidade pré-conflito
DE BUENOS AIRES
Mais do que um fim na guerra do governo com o campo,
que se estendeu por mais de
quatro meses, ruralistas, membros da oposição e analistas
vêem a anulação do aumento
de impostos sobre as exportações de grãos, anunciado ontem, como um primeiro passo
para o fim da crise.
"Acredito que termina o conflito e começa uma nova etapa
de negociações entre o campo e
o governo", afirmou o presidente da Sociedade Rural Argentina, Luciano Miguens,
apontando para a necessidade
de criar um plano agropecuário
nacional, outra exigência dos
ruralistas.
Já para o presidente da Federação Agrária Argentina,
Eduardo Buzzi, "é uma alegria
que o governo tenha cumprido
com a mensagem que lhe mandou o Congresso", mas ainda é
preciso criar políticas específicas para atender as necessidades dos pequenos produtores.
Uma das principais rivais de
Cristina Kirchner e sua oponente nas eleições do ano passado, a líder da frente de oposição Coalizão Cívica, Elisa Carrió, foi das poucas a dar o conflito por encerrado. Mais do que
isso, disse que o governo sai fortalecido com a medida. "Pela
primeira vez a vejo deixando
para trás a política de confrontação. Por isso, felicito a presidente pela decisão", afirmou.
Até mesmo o vice-presidente
Julio Cobos, responsável pela
derrota do governo no Senado
ao desempatar a votação contra
o governo, afirmou que a decisão da presidente "vai ser muito bem recebida", embora também tenha sugerido que é preciso trabalhar novas medidas
para o setor agropecuário.
Política setorizada
Os ruralistas exigem políticas específicas para cada setor
agrícola, como o de carne, o de
leite, o de trigo e as economias
regionais, além de uma instância de diálogo permanente com
o governo para discutir os temas do campo.
Para o analista político Hugo
Haime, a presidente fez o que
se esperava dela diante de uma
situação em que não tinha alternativa: "Se não anulasse a
resolução, em menos de dez
dias, as pessoas estariam nas
ruas. Poderia ser o começo de
uma crise maior". "Com a anulação da medida, ela conseguiu
destravar o conflito, mas ainda
há coisas para resolver, como as
outras exigências agropecuárias. Esse é apenas o princípio
da solução", diz o analista.
Segundo Haime, a situação
agora se alivia, abrindo espaço
para que o governo "desarme" o
conflito e recupere as condições favoráveis que tinha antes
da crise. "Essa é a melhor oportunidade para curar as feridas
dentro do partido e com os aliados e para voltar a ser amiga da
sociedade."
(ADRIANA KÜCHLER)
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