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Comandante do Exército paquistanês é fiel da balança
Em país dividido, parecer do general Ashfaq Pervaiz Kayani será decisivo
Sucessor de Musharraf à frente das Forças Armadas tem elos tribais; histórico de militares inclui tanto golpe como ajuda em transição
IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com a previsível queda de
Pervez Musharraf, o Paquistão
volta seus olhos para outro homem em uniforme: o general
Ashfaq Pervaiz Kayani, o comandante do Exército que detém o verdadeiro poder num
país em que a palavra democracia é muito usada, mas pouco
vivenciada em sua turbulenta
história.
Com o afastamento de Musharraf, as duas facções que controlam o poder político no Paquistão perdem o seu ponto de
unidade. Era a oposição ao misto de general, ditador e presidente que estabelecia os laços
entre gente tão díspar como o
ex-premiê Nawaz Sharif e o
"primeiro-viúvo" Asif Ali Zardari. OK, há as acusações generalizadas de corrupção contra
ambos, mas digamos que isso
ainda não pode ser base de
compromisso político público.
A tendência é que as divergências de interesses de ambos,
especialmente nas questões
particulares das poderosas
Províncias paquistanesas, se
intensifiquem ao ponto de afastamento ou mesmo da ruptura.
É aí que entra Kayani. Aos 55
anos, esse membro de uma importante tribo da região de Rawalpindi tem fama de ser apolítico, embora tenha comandado
durante três anos o mais importante serviço secreto do Paquistão, o ISI. Ou seja, entende
da "realpolitik" paquistanesa
como poucos.
Sua ascensão ao comando do
Exército coincidiu com a progressiva queda de Musharraf,
de quem era visto como braço
direito. Assumiu o posto no fim
do ano passado, no lugar do
presidente, após seu malvisto
golpe contra o Judiciário.
Para quem esperava uma
marionete, mostrou-se independente: determinou que todos os oficiais graduados que
ocupavam cargos na administração civil voltassem para o
quartel e alertou Musharraf
publicamente de que não deveria haver fraude no pleito parlamentar de fevereiro.
Aproximou-se assim dos novos detentores do poder político e fez valer sua promessa de
recuperar a imagem do Exército, mas com um distanciamento saudável que o tornou, aos
olhos dos EUA, talvez o único
interlocutor confiável neste período de turbulência.
Por fim, mas de forma alguma menos importante, é Kayani quem controla de fato o acesso ao arsenal nuclear do Paquistão. O pavor do Ocidente é
alguma das ogivas cair nas
mãos dos extremistas que pululam pelo país, e por ora o risco parece estar domesticado.
Com tudo isso, Kayani é o
"kingmaker" de plantão, o verdadeiro esteio para quem assumir o poder político. Historicamente, os militares já cumpriram esse papel no Paquistão
em 1988, quando facilitaram a
transição da ditadura do general Zia ul-Haq para o primeiro
mandato de Benazir Bhutto.
Mas é bom lembrar que eles
também mudaram de idéia depois, como o próprio governo
de Musharraf comprova.
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