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Bush e Rice enaltecem aliado apesar de falhas
De crucial na política de Washington para a região, Musharraf passou a ser dispensável
Apesar de vultosa ajuda financeira norte-americana, paquistanês falhou em neutralizar a atuação de grupos radicais na fronteira
DA REDAÇÃO
O presidente George W.
Bush e a secretária de Estado
dos EUA, Condoleezza Rice,
apressaram-se ontem em homenagear Pervez Musharraf,
que renunciou à Presidência do
Paquistão nove anos após tomá-la em um golpe de Estado.
Um dos porta-vozes da Casa
Branca, Gordon Johndroe, disse que Bush "admirava os esforços de Musharraf rumo à
transição democrática e seu
comprometimento na luta contra a Al Qaeda e outros grupos
extremistas".
Rice elogiou Musharraf por
sua "delicada opção" pelo combate ao extremismo islâmico.
"Por essa razão, ele tem nossa
profunda gratidão."
As declarações traduzem um
certo grau de personalização
das relações entre Washington
e Islamabad entre 2001, com o
11 de Setembro, e outubro do
ano passado, quando Musharraf se viu obrigado a deixar a
chefia das Forças Armadas e teve início o processo de esvaziamento de seu poder.
Tezi Shaffer, ex-embaixadora americana em Islamabad e
hoje chefe de pesquisas do Centro de Estudos Estratégicos Internacionais, de Washington,
destaca o quanto eram fortes,
entre Musharraf e Bush, as relações pessoais.
Foi em parte por causa disso,
diz o "Financial Times", que o
ex-ditador paquistanês conseguiu facilmente se apresentar
diante de Bush como a personificação da barreira que impediria os radicais islâmicos de se
apoderarem de seu país -algo
contestável, pois os partidos religiosos estão bastante divididos e totalizaram menos de um
décimo dos votos nas eleições
legislativas de fevereiro último.
Essa personificação teve um
início menos amistoso. O "Financial Times" também diz
que Musharraf, em suas memórias, afirma que, no final de
2001, "um alto funcionário
americano" ameaçou bombardear o Paquistão e levá-lo de
volta à idade da pedra caso ele
não aderisse à guerra contra o
terrorismo. Richard Armitage,
o diplomata em questão, nega
que tenha feito ameaça. Mas
Musharraf parece ter captado a
mensagem perfeitamente.
Rompeu com o Taleban, grupo fundamentalista que acabava de ser deposto no vizinho
Afeganistão, e passou a receber
os US$ 10 bilhões que somaria
de então até agora em ajuda militar norte-americana.
Lição mal feita
A verdade é que Musharraf
não fez sua lição de casa. Os
grupos radicais islâmicos estão
hoje mais atuantes na fronteira
entre o Paquistão e o Afeganistão. Disso resulta o aumento do
número de mortes de militares
ocidentais, sobretudo americanos, em solo afegão.
Há mais: a CIA, serviço de inteligência dos Estados Unidos,
diz o "New York Times", monitora a entrada no Afeganistão
de mais combatentes estrangeiros que usam o Paquistão
como escala. A CIA também diz
que permanecem sólidas as ligações entre a inteligência paquistanesa e Maulavi Jalaluddin Haqqani, um dos elos com a
Al Qaeda na região de fronteira.
De um ano para cá a mídia
americana vazou confidências
de Washington sobre a incompetência do regime paquistanês. Os EUA acreditavam que a
abertura democrática no país
favoreceria seus objetivos. Arquitetaram o retorno do exílio
da ex-premiê Benazir Bhutto.
Vencendo as eleições legislativas, ela voltaria à chefia do governo e dividiria o poder com
Musharraf.
Mas ela foi assassinada em
dezembro, provavelmente por
ter sido identificada pelos terroristas como a nova carta a ser
jogada pelos americanos.
Dispensável
No ano passado, o número
dois do Departamento de Estado, John Negroponte, qualificou Musharraf de "indispensável". Indagado ontem se a afirmação ainda era válida, o porta-voz em Washington disse que
"a guerra ao terrorismo é mais
importante que os indivíduos".
É também verdade que Washington não se movimentou
para evitar o afastamento do
ex-aliado. Há dias qualificou de
"questão interna do Paquistão"
as articulações para o impeachment do presidente. Ou, como
afirma ao "Monde" a cientista
política Marian Abou Zahab,
para o governo americano
Musharraf deixou de ser uma
solução para se tornar parte do
problema paquistanês.
Com agências internacionais
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