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SAÚDE
Painel de conselheiros de agência governamental diz que implantes da empresa Inamed são seguros, mas ainda há duvidas
EUA deverão liberar próteses de silicone
CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK
Com mais de 600 mil pacientes
insatisfeitas e depois de mais de
uma década de banimento do
mercado, as próteses de silicone
para os seios podem estar prestes
a voltar para os consultórios dos
cirurgiões plásticos dos EUA.
Na semana passada, um painel
de conselheiros da FDA (a agência que controla a venda de medicamentos e alimentos nos EUA)
atestou a segurança dos implantes
de silicone fabricados pela empresa norte-americana Inamed.
Essa recomendação é o primeiro passo para a volta das próteses.
A Inamed seria a única companhia beneficiada, mas a FDA ainda não definiu data para o parecer
definitivo. Na maioria dos casos,
o órgão endossa as avaliações
emitidas pelo seu painel de conselheiros. "Acredito que uma grande quantidade de informação já
tenha sido divulgada", diz Michael Miller, cirurgião plástico
membro do painel da FDA. "Os
riscos são pequenos e conhecidos.
O paciente pode decidir", completou Miller.
Por determinação da FDA, se as
próteses voltarem a ser utilizadas,
os pacientes serão obrigados a assinar um termo de compromisso
antes de se submeterem à cirurgia. "Com essa cláusula, dificilmente mulheres que tiverem problemas de saúde causados pelo silicone poderão processar os fabricantes", informa o advogado
Kenneth B. Moll, do escritório de
advocacia Kenneth B. Moll & Associados. O escritório é um dos
maiores representantes de causas
contra a indústria de próteses.
A polêmica sobre a segurança
do silicone está reaberta. "Esse estudo da Inamed é superficial. Não
houve uma amostra diversificada
de mulheres. Essas próteses nunca deveriam ser usadas novamente", argumenta Moll. A Inamed
rebate. Para a empresa, as pesquisas são confiáveis e a utilização de
implantes de silicone é o tema
mais estudado na FDA.
Em 1992, o órgão proibiu o uso
de implantes de silicone no país
depois de uma enxurrada de reclamações de pacientes com deformações e com outros problemas de saúde causados pelos produtos.
À época, o órgão concluiu que
as próteses não eram seguras. O
risco de vazamento do silicone
para o corpo e informações insuficientes sobre os potenciais perigos das próteses foram as razões
alegadas para o banimento. Hoje,
as próteses podem ser usadas em
pequena escala. Apenas cirurgias
de reconstrução mamária ou de
substituição de próteses defeituosas estão autorizadas.
Mas, em meados de outubro, a
FDA recebeu um pedido para a liberação comercial das próteses
-com uma série de estudos e pareceres laboratoriais fornecidos
pela Inamed. De acordo com essas pesquisas, não há comprovação da relação entre próteses de
silicone e doenças crônicas ou
graves como lúpus e neuropatias.
O risco de vazamento de gel para o corpo, apontado há 11 anos
como a maior falha desses produtos, foi considerado pequeno. Segundo a Inamed, 1,2 % das mulheres que usaram os implantes
para aumentar os seios tiveram
esse problema.
Processos milionários
Paralelamente à discussão sobre
a segurança dos implantes, correm processos milionários contra
os fabricantes.
Estimativas de órgãos de saúde
dos EUA calculam que, desde o
surgimento em 1962, as próteses
foram implantadas em 2 milhões
de mulheres. Desse total, cerca de
600 mil estão registradas num
programa coletivo de indenização
por danos causados pelas próteses de diversos fabricantes. Aproximadamente 85 mil já receberam
indenizações totais ou parciais.
Entretanto muitas das mulheres
inscritas nesse programa, explica
o advogado Moll, ainda não desenvolveram nenhuma doença
associada aos implantes. Elas se
registraram por precaução. "Essa
é uma recomendação que fazemos às nossas clientes, já que esse
acordo é válido até 2015", diz. O
escritório comandado por ele representa 15 mil pacientes. As indenizações obtidas por suas clientes somam mais de US$ 5 bilhões.
O maior número de processos
de consumidoras americanas e
também de outras partes do planeta é dirigido contra a empresa
Dow Corning, que até o começo
dos anos 90 detinha 50% do mercado.
O volume expressivo de indenizações, que hoje soma mais de
US$ 6 bilhões, levou a empresa à
falência. Um novo acordo entre as
vítimas e a Dow Corning foi assinado. O cronograma de pagamentos ainda não foi estabelecido, mas cada paciente poderá receber uma indenização que parte
do piso de US$ 5 mil, mas pode
chegar a US$ 250 mil. Essa tabela
de valores é bem menor que os
pedidos iniciais de indenização,
que variavam de US$ 200 mil a
US$ 1 milhão.
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