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Chávez não irá à cúpula do Mercosul no fim deste mês
É a primeira ausência desde que a Venezuela aderiu ao bloco, em dezembro de 2005; caso RCTV causou tensões
Presidente venezuelano visitará a Rússia e o Irã; parceiros regionais não deram apoio formal ao fim da concessão de emissora
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Em meio a incertezas sobre a
entrada da Venezuela no Mercosul, o presidente Hugo Chávez cancelou sua participação
na próxima reunião do bloco,
marcada para o final deste mês,
em Assunção. É a primeira vez
que o mandatário venezuelano
perderá uma cúpula desde que
formalizou a adesão do seu
país, em dezembro de 2005.
Chávez trocará a capital paraguaia por Moscou, onde estará no dia 29, data da cúpula. Um
dos temas da visita é a compra
de cinco a nove submarinos -a
Rússia é o principal fornecedor
de armas do governo venezuelano. O negócio, segundo o jornal econômico russo "Kommersant", pode chegar a US$ 2
bilhões. De lá, a comitiva segue
para o Irã.
O governo venezuelano diz
que ausência em Assunção não
está relacionada com problemas recentes dentro do bloco e
que se trata apenas de uma
coincidência de datas entre a
cúpula e um convite feito a
Chávez pelo presidente russo,
Vladimir Putin.
"A Venezuela crê que seja positiva a aliança ao bloco", disse
à Folha ontem o deputado chavista Saul Ortega, presidente
da Comissão de Política Exterior da Assembléia Nacional.
"Agora, há interesses de multinacionais que financiam políticos em diferentes países e que,
em geral, atacam essa vontade
integracionista."
Desde a adesão da Venezuela, na cúpula de Montevidéu,
há um ano e meio, Chávez havia participado dos dois encontros presidenciais seguintes,
nos quais defendeu uma "profunda reforma" do Mercosul.
No último, realizado em janeiro, no Rio, prometeu "descontaminá-lo do neoliberalismo".
Desde então, a Venezuela sofreu dois reveses dentro do bloco, ambos envolvendo sua decisão de não renovar a concessão
do canal oposicionista RCTV,
que expirou no final de maio,
sob o argumento de que a emissora apoiou a tentativa de golpe
contra Chávez, em 2002.
Dias antes do fim das transmissões, a Venezuela tentou,
durante reunião de chanceleres do Mercosul em Assunção,
uma declaração de apoio à decisão de Chávez, que vem gerando uma série de protestos
na Venezuela. Nenhum dos outros quatro países respaldou o
pedido de Caracas.
Mas a crise veio depois que
Chávez chamou o Congresso
brasileiro de "papagaio" de
Washington, em resposta a um
requerimento do Senado para
que o presidente venezuelano
revisse o caso da RCTV.
As declarações de Chávez
provocaram ameaças dos partidos oposicionistas PSDB e
DEM (ex-PFL) de bloquear a
entrada da Venezuela no Mercosul na votação do protocolo
que permite a adesão desse
país como membro pleno do
bloco. O próprio presidente
Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu que haverá dificuldades para a aprovação.
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