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De Bogotá a Paris, milhares pedem libertação de reféns
Atos pelos seqüestrados na Colômbia foram os primeiros após o resgate de Ingrid
Manifestantes exigem que Farc soltem mais de 700 ainda em cativeiro; para ex-refém Clara Rojas, marcha é sinal de unidade do país
RODRIGO VARGAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BOGOTÁ
Centenas de milhares de pessoas tomaram ontem as principais ruas e avenidas de Bogotá
em uma marcha para pedir a libertação de todos os seqüestrados por grupos ilegais colombianos, em especial os em poder das Farc (Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia).
A convocação, que coincidiu
com a festa do Dia da Independência da Colômbia, reuniu na
capital parentes e amigos de colombianos mortos, seqüestrados ou desaparecidos em quatro décadas de conflito armado.
A cena se repetiu por 1.100
municípios colombianos e outras 90 cidades no mundo inteiro, com manifestantes de branco e música. Libertada há 19
dias, após mais de 6 anos de cativeiro, a franco-colombiana
Ingrid Betancourt comandou
um ato em Paris, num palco
montado em frente a torre Eiffel, ao lado do pop star colombiano Juanes e do cantor espanhol Miguel Bosé.
"Veja esta Colômbia, veja a
mão estendida do presidente
[Álvaro] Uribe. Entenda que já
não é mais hora de derramar
sangue", disse Ingrid ao novo líder das Farc, Alfonso Cano.
A ex-refém prometeu continuar mobilizada pela libertação dos ainda seqüestrados. Segundo cáculos de ONGs colombianas, são 3.500 pessoas seqüestradas na Colômbia -mais
de 700 estão em poder da guerrilha.
Um dos temores de algumas
famílias das pessoas ainda em
cativeiro era que o tema fosse
esquecido depois da libertação
da seqüestrada mais célebre
das Farc. Outro temor é que
Bogotá lance ofensivas militares contra a guerrilha sem levar
em contar a segurança dos reféns.
Esperança e mediação
Presente à Plaza Bolívar, onde a multidão se concentrou ao
fim da marcha em Bogotá, a advogada colombiana e ex-assessora de Ingrid, Clara Rojas -libertada em janeiro após seis
anos de cativeiro- qualificou o
dia de ontem como um "sinal
inequívoco" de unidade.
"Este é o momento de estarmos juntos e clamar às Farc para que tomem uma ação concreta e libertem os reféns."
À Folha, Rojas disse estar
"feliz" com a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
e sua participação, ao lado de
Uribe, de um ato em Letícia, na
fronteira com o Brasil (leia texto nesta página).
"Estamos todos muitos felizes que Lula esteja nos acompanhando nesta união de esforços pela libertação dos seqüestrados. Tenho muito carinho por ele e espero que possamos compartilhar outros momentos importantes", disse.
Sobre o papel que o governo
brasileiro poderia desempenhar no processo de pacificação, Rojas disse considerar que
o país já faz um "grande esforço" neste sentido.
"É claro que sempre é possível buscar alternativas, sempre
que isso ajudar a libertar outros reféns."
Lula já disse que só atuará no
conflito se Uribe pedir. Mas o
governo colombiano, fortalecido pelo exitoso resgate de Ingrid e outros 14 reféns no último dia 2, já declarou que buscará contato direto com a guerrilha e suspendeu a mediação
de países europeus.
O policial aposentado José
Villamille, 54, veio logo cedo à
marcha em Bogotá. Trazia uma
faixa com a foto de um colega,
Luis Mendieta, seqüestrado
em 1998 com outros 30 policiais. Carta de Mendieta, trazida por uma refém libertada,
narrou o inferno do cativeiro
na selva e emocionou a Colômbia no começo do ano.
"Ele [Mendieta] era o nosso
comandante. Hoje vim trazer
uma mensagem para todos
eles, para que tenham confiança e para que saibam não os esquecemos", disse.
Também com camisetas e
cartazes personalizados, Arturo Rubiano, 34, veio lembrar o
irmão, Edgar Garzón, seqüestrado pelas Farc em 2004. Ele
diz que a recente libertação de
Ingrid fez renascer as esperanças da família.
Com a REDAÇÃO e agências internacionais
Por falta de opções em vôos comerciais, a reportagem fez o trecho Rio Branco-Bogotá em aeronave da FAB, à convite da Presidência
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