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153 morrem em queda de avião na Espanha
Desastre ocorreu na decolagem de MD-82 da empresa Spanair, que faria viagem de Madri ao arquipélago das Canárias
Até a noite passada tinham sobrevivido 19 pessoas; causa ainda é incógnita, mas relatos indicam que um dos motores pegou fogo
Efe
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Bombeiros e Guarda Civil inspecionam o local do acidente, no aeroporto de Barajas, Madri
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI
Goretti Álvarez preparava-se
para embarcar para Las Palmas, a capital do arquipélago
das Canárias, quando ouviu o
que descreveria depois como
"uma explosão demasiado perfeita", tão perfeita que ela
achou que "só podia ser uma simulação".
Não era. Era "o mais parecido
ao inferno que jamais vi na vida", diria o guarda civil José de
los Ángeles, ao voltar do local
onde caiu e praticamente se desintegrou um avião MD-82, que
deveria fazer o vôo JK 5022, da
empresa aérea espanhola Spanair, entre o aeroporto madrileno de Barajas e a Las Palmas
para onde iria Goretti. Iria,
aliás, exatamente nesse vôo,
não fosse o fato de que a Ibéria
cobrava 10 menos que a Spanair para o percurso e ela preferiu economizar esse dinheiro
(equivalente a R$ 25). Acabou
economizando a própria vida.
Das 172 pessoas a bordo (dez
tripulantes e 162 passageiros,
inclusive dois bebês, que sobreviveram), apenas 19 estavam
internadas ontem em hospitais
de Madri, o que significa que os
mortos são 153, cifra confirmada pelo governo espanhol.
A Cruz Vermelha previa
"uma longa noite" trabalhando
para resgatar os corpos no local
da queda, nas imediações da
pista 36, conhecida como "La
Isla" (a ilha), por ser a mais remota do aeroporto de Barajas.
O vôo JK 5022 estava atrasado cerca de uma hora, por "problemas técnicos", quando iniciou a decolagem às 14h45
(9h45 em Brasília), chegou a
sair do solo, mas "comeu a pista, comeu a pista toda e, minha
mãe do céu, notei uma bola de
fogo e uma explosão. Caiu como uma folha de árvore", deporia Martha Natividad de las Rosas, testemunha da tragédia, a
primeira que ocorre em Barajas em 25 anos.
Caiu em uma zona de difícil
acesso junto a um riozinho.
Policiais, médicos e enfermeiros que estiveram no local
da queda coincidiram em relatar que a traseira do avião estava totalmente separada do resto do aparelho, o que acabou
sendo a salvação para os 19 sobreviventes (15 dos quais estavam ontem à noite em estado
grave ou muito grave).
"Como o avião se partiu,
muitas pessoas caíram no rio
ou ao solo, e pudemos resgatá-las, evitando que se queimassem", depôs o bombeiro Miguel Ángel. O guarda civil De
los Ángeles relata que, quando
os grupos de socorro começaram a chegar, havia cadáveres
"fervendo".
Fogo no motor
Embora não haja informação
oficial sobre a causa do acidente, como é de praxe nesses casos, testemunhas dizem que o
motor esquerdo pegou fogo.
Mas só após a complexa investigação habitual descobrirá as
causas do incêndio, se é que foi
mesmo o motivo.
Os "problemas técnicos" que
levaram ao atraso na partida do
vôo não tinham relação alguma
com um incêndio no motor, de
acordo com a análise que o comandante Rafael Velón, piloto
da Ibéria, fez para a cadeia radiofônica "Ser". Seria, na versão por ele ouvida entre os pilotos, um problema de indicação
de temperatura.
Mesmo o fogo no motor não
basta para explicar a queda. "O
incêndio no motor por si só não
leva a uma catástrofe como a
que ocorreu", diz Felipe Laorden, do Colégio Oficial de Pilotos da Espanha.
De todo modo, a tripulação
chegou a informar aos passageiros que poderia haver um
atraso ainda maior, se fosse necessário trocar de avião, o que
acabou não acontecendo. Para
Laorden, no entanto, "ninguém
em sã consciência levanta vôo
sem estar absolutamente seguro de que não há problemas no
aparelho".
O avião acidentado tinha 15
anos de idade, nove deles a serviço da Spanair e, de acordo
com a companhia, passara pela
revisão devida no dia 25 de janeiro deste ano -rigorosamente dentro dos prazos.
Os cadáveres estavam sendo
levados para o Pavilhão 6 do
Ifema ("Instituto Ferial Madrileño"), exatamente o mesmo
pavilhão em que se improvisou
um necrotério após os atentados terroristas contra os trens
de Madri, há quatro anos e
meio. Os mortos de então foram 191.
Zapatero
O presidente do governo espanhol, José Luis Rodríguez
Zapatero, interrompeu suas férias (estava na reserva de Doñona, paradisíaco recanto da
Província de Huelva) para voltar a Madri. Chegando à capital,
foi direto ao aeroporto, onde
deu uma entrevista lamentando o acidente.
"Logicamente, o governo está comovido e afetado, como
estão todos os cidadãos espanhóis, com esta tragédia que se
abateu hoje sobre nós", disse.
Ele elogiou a atuação das forças
de resgate e anunciou o início
imediato de investigações comandadas pelo Ministério do
Desenvolvimento para determinar a causa do acidente.
É a segunda vez este mês que
uma crise obriga Zapatero a interromper as férias (habituais
em toda a Europa no mês de
agosto, verão pleno). A primeira foi na semana passada, para
reunião de emergência do gabinete, destinada a discutir a crise econômica que provocou a
desaceleração da economia e a
explosão do desemprego.
O líder oposicionista Mariano Rajoy, derrotado por Zapatero nas eleições deste ano, que
estava de férias na Galícia, também voltou a Madri.
O acidente de ontem foi o
pior desastre da aviação espanhola desde 1983, quando 181
pessoas morreram na queda de
um Boeing 747 da colombiana
Avianca, que se preparava para
pousar em Madri.
Seis anos antes, o país fora
palco do maior acidente aéreo
da história, quando dois Boeing
747 colidiram nas Ilhas Canárias, e 583 pessoas morreram.
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