São Paulo, quarta-feira, 21 de setembro de 2011

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ANÁLISE

Dissolver a união monetária europeia seria difícil demais

MARTIN WOLF
DO "FINANCIAL TIMES"

Os membros da zona do euro estão sofrendo forte ataque de remorso pela adesão.
No entanto, o ponto central da união cambial estava em que ela seria irrevogável. Qualquer discussão sobre possíveis saídas volta a introduzir o risco cambial.
Ainda assim, agora que o tabu que impedia discutir o tema foi violado, a possibilidade de uma dissolução ou saída de alguns integrantes da união precisa ser examinada. Será que isso é possível, ou mesmo desejável?
Nouriel Roubini, da Universidade de Nova York, argumentou em artigo no "Financial Times" que a Grécia deveria tanto decretar moratória sobre suas dívidas quanto abandonar o euro.
A criação de uma nova moeda nacional se tornaria inevitável, nesse caso. A Grécia tem imenso deficit em conta corrente e uma economia deprimida. Uma grande depreciação real é requerida.
Mas a ideia de uma saída da zona do euro seria muito difícil de implementar. Em termos legais, significaria que o país teria de abandonar a União Europeia. O país, como resultado, provavelmente também seria excluído do mercado unificado.
E, além disso, encontraria dificuldades para sair de forma rápida e limpa. Quando a notícia começasse a se espalhar, surgiria uma corrida a todos os seus passivos.
O governo teria de limitar saques bancários. Muitas empresas quebrariam. E o contágio seria inevitável -boa parte da dívida grega é detida por instituições de fora.
Portanto, qualquer saída, mesmo de um país pequeno e fraco, assusta. O que aconteceria em caso de saída de um país forte como a Alemanha? Haveria imensas fugas de capital. Além disso, uma saída alemã desestabilizaria a porção restante da zona do euro e provavelmente resultaria em desintegração.
O abandono do euro pelo país central da União não representaria ameaça apenas ao mercado unificado, mas a todo o tecido cooperativo da Europa no pós-guerra.
Os países criaram a união monetária, e agora precisam garantir que ela funcione.
No momento, o necessário é uma expansão econômica agressiva no centro. Em longo prazo, o mínimo seria um grau muito maior de solidariedade e disciplina fiscal.
Será que isso é viável? Não sei. Mas sei o que está em jogo. Se a zona do euro odeia ser colocada na frigideira, não deveria pular no fogo.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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