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São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 2003

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AMÉRICA LATINA

Estudo revela que taxa de homicídios é a menor desde 86; para analista, sensação de segurança cresceu

Violência na Colômbia cai no governo Uribe

FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO

No primeiro ano inteiramente sob o governo linha-dura do presidente Álvaro Uribe, a Colômbia, o país mais violento da América Latina, apresentou uma redução significativa em vários índices de violência. A taxa de homicídios, por exemplo, teve uma redução de 21% com relação a 2002 e é a mais baixa desde 1986.
As conclusões fazem parte do relatório "Balanço de Segurança na Colômbia 2003", divulgado nesta semana pela Fundação Segurança e Democracia.
A entidade não-governamental é presidida por Alfredo Rangel, 49, que, como assessor de Segurança Nacional do ex-presidente Andrés Pastrana (1998-2002), participou das frustradas negociações de paz com a guerrilha terrorista de esquerda das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), encerradas em fevereiro de 2002.
O fracasso nas negociações foi um dos fatores que mais contribuíram para a eleição de Uribe, que, com o apoio da direita do país, assumiu em agosto de 2002 com um duro discurso de combate aos grupos armados. A Colômbia vive uma guerra civil quase ininterrupta há 39 anos.
Mas a violência continua alta. A taxa de homicídios está em 50 mortos para cada 100 mil habitantes, segundo o estudo.
No Brasil, a taxa está em 27 homicídios para cada grupo de 100 mil habitantes, segundo a ONG Conectas Direitos Humanos.
Já a taxa de sequestros caiu 39% neste ano. Ainda assim, houve 2.145 pessoas sequestradas até novembro, o que dá a incrível média de um crime desse tipo a cada quatro horas no país.
A seguir, a entrevista que Rangel concedeu à Folha:

 

Folha - A política de Uribe está dando certo?
Alfredo Rangel -
Sem dúvida alguma, é uma demonstração de que a política do governo está sendo bem-sucedida. O governo tem conseguido melhorar a percepção que os colombianos têm de sua própria segurança. Em média, eles sentem que vivem hoje em um país muito mais seguro que o que existia há um ano e meio, quando começou o governo Uribe. Essa percepção está respaldada nas cifras, que demonstram que os indicadores de segurança melhoraram. Por exemplo, a taxa de homicídios é mais baixa dos últimos 16 anos.

Folha - O balanço sugere uma relação direta entre o combate aos grupos armados ilegais e a queda da criminalidade. A atividade guerrilheira e os crimes comuns são mesmo indissociáveis?
Rangel -
Cerca de um terço desses homicídios está relacionado com o conflito armado. O restante é resultado do narcotráfico e da delinquência organizada. Mas os grupos guerrilheiros e os paramilitares estão muito relacionados com o crime comum, é difícil traçar uma linha divisória entre esses grupos irregulares e a delinquência. Por exemplo, os guerrilheiros realizam cerca de 60% dos sequestros no país, muitas vezes em aliança com delinquentes.

Folha - A política de segurança nacional tem uma grande parte financiada pelo dinheiro americano vindo do Plano Colômbia. Não há um risco de a violência recrudescer quando essa ajuda terminar?
Rangel -
Não está muito claro até quando essa ajuda americana vai durar. Sem dúvida, o Estado colombiano vai necessitar dessa ajuda até o momento em que consiga recuperar a paz. Os EUA, muito provavelmente, vão continuar mantendo esse auxílio até melhorar substantivamente as condições de segurança na Colômbia. Se a ajuda dos EUA perdurar até que seja realizada uma negociação política com a guerrilha e uma desmobilização dos paramilitares, muito provavelmente haverá uma queda da violência.

Folha - O sr. participou do governo Pastrana, cujo fracasso nas negociações ajudou a eleição de Uribe. Hoje, o sr. considera que tenha sido uma política errada?
Rangel -
Sim. O governo anterior pecou por ter sido excessivamente generoso e ingênuo, sobretudo na primeira etapa de negociações com a guerrilha das Farc. Deveria ter imposto condições muito mais rigorosas, transparentes e públicas com relação à presença das Farc na área desmilitarizada, onde se desenvolviam os diálogos. Uribe deveria analisar com detalhe as experiências positivas e negativas para não repeti-las com os paramilitares, que buscam negociar com o governo.

Folha - O sr. crê que o endurecimento do combate ao crime na Colômbia transferirá para o Brasil parte da estrutura do narcotráfico e da guerrilha?
Rangel -
Se o Brasil fizer esforços suficientes para controlar suas fronteiras, impedirá que o conflito colombiano invada o território brasileiro. A responsabilidade de proteção da fronteira é mútua. Se as fronteiras da Colômbia com os países vizinhos não fossem tão permeáveis ao tráfico de armas, produtos químicos, explosivos e outros equipamentos para os grupos ilegais, talvez os problemas na Colômbia não fossem tão críticos.



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