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AMÉRICA LATINA
Estudo revela que taxa de homicídios é a menor desde 86; para analista, sensação de segurança cresceu
Violência na Colômbia cai no governo Uribe
FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO
No primeiro ano inteiramente
sob o governo linha-dura do presidente Álvaro Uribe, a Colômbia,
o país mais violento da América
Latina, apresentou uma redução
significativa em vários índices de
violência. A taxa de homicídios,
por exemplo, teve uma redução
de 21% com relação a 2002 e é a
mais baixa desde 1986.
As conclusões fazem parte do
relatório "Balanço de Segurança
na Colômbia 2003", divulgado
nesta semana pela Fundação Segurança e Democracia.
A entidade não-governamental
é presidida por Alfredo Rangel,
49, que, como assessor de Segurança Nacional do ex-presidente
Andrés Pastrana (1998-2002),
participou das frustradas negociações de paz com a guerrilha
terrorista de esquerda das Farc
(Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), encerradas em
fevereiro de 2002.
O fracasso nas negociações foi
um dos fatores que mais contribuíram para a eleição de Uribe,
que, com o apoio da direita do
país, assumiu em agosto de 2002
com um duro discurso de combate aos grupos armados. A Colômbia vive uma guerra civil quase
ininterrupta há 39 anos.
Mas a violência continua alta. A
taxa de homicídios está em 50
mortos para cada 100 mil habitantes, segundo o estudo.
No Brasil, a taxa está em 27 homicídios para cada grupo de 100
mil habitantes, segundo a ONG
Conectas Direitos Humanos.
Já a taxa de sequestros caiu 39%
neste ano. Ainda assim, houve
2.145 pessoas sequestradas até novembro, o que dá a incrível média
de um crime desse tipo a cada
quatro horas no país.
A seguir, a entrevista que Rangel concedeu à Folha:
Folha - A política de Uribe está
dando certo?
Alfredo Rangel - Sem dúvida alguma, é uma demonstração de
que a política do governo está
sendo bem-sucedida. O governo
tem conseguido melhorar a percepção que os colombianos têm
de sua própria segurança. Em média, eles sentem que vivem hoje
em um país muito mais seguro
que o que existia há um ano e
meio, quando começou o governo Uribe. Essa percepção está respaldada nas cifras, que demonstram que os indicadores de segurança melhoraram. Por exemplo,
a taxa de homicídios é mais baixa
dos últimos 16 anos.
Folha - O balanço sugere uma relação direta entre o combate aos
grupos armados ilegais e a queda
da criminalidade. A atividade guerrilheira e os crimes comuns são
mesmo indissociáveis?
Rangel -Cerca de um terço desses homicídios está relacionado
com o conflito armado. O restante
é resultado do narcotráfico e da
delinquência organizada. Mas os
grupos guerrilheiros e os paramilitares estão muito relacionados
com o crime comum, é difícil traçar uma linha divisória entre esses
grupos irregulares e a delinquência. Por exemplo, os guerrilheiros
realizam cerca de 60% dos sequestros no país, muitas vezes em
aliança com delinquentes.
Folha - A política de segurança
nacional tem uma grande parte financiada pelo dinheiro americano
vindo do Plano Colômbia. Não há
um risco de a violência recrudescer
quando essa ajuda terminar?
Rangel - Não está muito claro até
quando essa ajuda americana vai
durar. Sem dúvida, o Estado colombiano vai necessitar dessa ajuda até o momento em que consiga
recuperar a paz. Os EUA, muito
provavelmente, vão continuar
mantendo esse auxílio até melhorar substantivamente as condições de segurança na Colômbia.
Se a ajuda dos EUA perdurar até
que seja realizada uma negociação política com a guerrilha e uma
desmobilização dos paramilitares, muito provavelmente haverá
uma queda da violência.
Folha - O sr. participou do governo Pastrana, cujo fracasso nas negociações ajudou a eleição de Uribe. Hoje, o sr. considera que tenha
sido uma política errada?
Rangel - Sim. O governo anterior pecou por ter sido excessivamente generoso e ingênuo, sobretudo na primeira etapa de negociações com a guerrilha das Farc.
Deveria ter imposto condições
muito mais rigorosas, transparentes e públicas com relação à
presença das Farc na área desmilitarizada, onde se desenvolviam os
diálogos. Uribe deveria analisar
com detalhe as experiências positivas e negativas para não repeti-las com os paramilitares, que buscam negociar com o governo.
Folha - O sr. crê que o endurecimento do combate ao crime na Colômbia transferirá para o Brasil
parte da estrutura do narcotráfico
e da guerrilha?
Rangel -Se o Brasil fizer esforços
suficientes para controlar suas
fronteiras, impedirá que o conflito colombiano invada o território
brasileiro. A responsabilidade de
proteção da fronteira é mútua. Se
as fronteiras da Colômbia com os
países vizinhos não fossem tão
permeáveis ao tráfico de armas,
produtos químicos, explosivos e
outros equipamentos para os grupos ilegais, talvez os problemas na
Colômbia não fossem tão críticos.
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