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SUCESSÃO NOS EUA / PÚBLICO E PRIVADO
Investimento na Petrobras cria problema para McCain
Empresa brasileira atua no Irã, ação criticada pelo candidato republicano
Caso é exemplo de lacuna entre retórica e prática na atual corrida à Casa Branca; Obama também se desfez de aplicações iranianas
LM Otero - 18.jun.08/Associated Press
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McCain em campanha; ele conclamou empresas e cidadãos a boicotar empresas com negócios no Irã
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Apesar de basear seu programa de segurança nacional numa retórica belicosa e especialmente dura em relação ao Irã, o
senador John McCain mantinha dinheiro investido em empresas com atuação naquele
país do Oriente Médio até o início deste mês. Um dos fundos
que contavam com aplicações
do candidato republicano à sucessão de George W. Bush tem
na Petrobras seu carro-chefe.
A empresa brasileira de petróleo atua tanto no golfo do
México norte-americano quanto no golfo Pérsico iraniano. Os
investimentos de McCain
constam de relatório de 2006
dos bens do senador tornado
público pelo site OpenSecrets,
mantido pelo Center for Responsive Politics, de Washington, ONG que mapeia o dinheiro na política americana. O ano
é o mais recente disponível.
O total investido pelo senador, quantia que pode variar
entre US$ 315 mil e US$ 650
mil, estava em três fundos mútuos do JP Morgan destinados
aos filhos dele com Cindy
McCain. Os maiores investimentos de cada um dos três
fundos são numa empresa petrolífera com atuação no Irã.
No caso da Petrobras, o fundo
em questão é o Emerging Markets Equity Fund, especializado em empresas dos chamados
mercados emergentes.
Segundo o OpenSecrets,
McCain tinha aí entre US$ 15
mil e US$ 50 mil -os políticos
não são obrigados a declarar o
valor específico. Procurada pela Folha, a assessoria do candidato disse que encaminhou o
caso, mas não tinha enviado
resposta até a conclusão desta
edição. Informado da polêmica
pelo jornal, o escritório de imprensa da Petrobras no Rio de
Janeiro disse que não comentaria o assunto.
Depois da publicação dos investimentos, Tucker Bounds,
um dos assessores de imprensa
de McCain, disse ao jornal
"USA Today" que o senador havia se desfeito de dois dos fundos e que a situação em relação
ao terceiro seria avaliada. Assim como o atual presidente
dos EUA, George W. Bush, o
companheiro de partido à sua
sucessão defende uma legislação mais dura para empresas e
pessoas físicas que tenham negócios com o governo iraniano.
Pela lei atual dos EUA, são
passíveis de sanções companhias norte-americanas e suas
subsidiárias que façam negócios com o Irã. Podem ser impedidas de fazer empréstimos
em bancos americanos e assinar contratos com o governo.
Em discurso feito no começo
do mês no Comitê Israelo-Americano de Assuntos Públicos (Aipac, na sigla em inglês),
principal lobby pró-Israel dos
EUA, McCain havia exortado
empresas e cidadãos a usar esse instrumento -deixar de fazer negócios com empresas
que têm negócios com o Irã-
como maneira de pressionar o
governo daquele país a desistir
de seu programa nuclear atual.
"Bombardeie o Irã"
"Quanto mais pessoas, empresas, fundos de pensão e instituições financeiras ao redor
do mundo deixarem de investir
em companhias que fazem negócios com o Irã, a elite radical
que controla aquele país se tornará ainda mais impopular do
que é agora", discursou então o
candidato. Um dos hits do site
YouTube é o senador cantando
uma música com as letras alteradas para "Bombardeie o Irã".
Num encontro com eleitores
na Carolina do Sul em 18 de
abril de 2007, o então pré-candidato foi indagado sobre quanto tempo os americanos teriam
de esperar antes de mandar
uma mensagem dura a Teerã.
Ele respondeu dizendo: "Você
conhece aquela velha música
dos Beach Boys, "Bomb Iran'?"
Então, cantou: "Bomb, bomb,
bomb". O nome da música que
ganhou cover do grupo em 1967
é "Barbara Ann".
Não é a primeira vez que os
atos dos candidatos contradizem sua retórica. No mês passado, Cindy McCain teve de retirar US$ 2 milhões que mantinha investidos em dois fundos
que realizam negócios com empresas com atuação no Sudão.
A decisão veio depois de revelação feita pela ONG Divestment Task Force, que milita
por um boicote ao país africano
que é palco de um dos maiores
massacres da era contemporânea, na região de Darfur.
Segundo a mesma OpenSecrets, também Barack Obama
mantinha dinheiro investido
em um fundo que aplica em
empresas que fazem negócios
com o Irã. Depois de informado
do fato, o senador se desfez do
investimento. No começo da
campanha, o virtual candidato
democrata defendia um diálogo maior do que o atual com o
regime islâmico de Teerã. Nas
últimas semanas, no entanto,
tem endurecido sua retórica
em relação ao país.
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