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IRAQUE OCUPADO
Para a assessora de Bush, os ideais americanos, agora questionados, foram responsáveis pela derrota de Hitler
Rice defende o "idealismo americano"
BERNA G. HARBOUR
DO ""EL PAÍS", EM BERLIM
Condoleezza Rice, assessora de
Segurança Nacional da Casa
Branca, enfrentará, nas próximas
semanas, o desafio de tornar digna de crédito uma transferência
de soberania aos iraquianos, de
conquistar o respaldo para a permanência das tropas americanas
no Iraque e de reduzir o impacto
da tortura de prisioneiros.
Rice admite que o processo iraquiano vive uma crise e que, por
isso, o que ela chama de "idealismo americano" -levar a democracia a quem não tem- está
sendo questionado. Mas rebate:
"Sem o idealismo americano, não
teríamos derrotado Hitler, não teria havido uma Alemanha unificada nem uma Rússia livre".
Pergunta - Os EUA parecem agora
estar dispostos a aceitar uma teocracia xiita, se ela for eleita pela
população, ou a hipótese de deixar
o país se o governo eleito pedir. O
que seria inaceitável?
Condoleezza Rice- Os EUA permanecem apenas em lugares em
que são bem-vindos. Sobre as
eleições, o que nos impressionou
é que todos os setores -xiitas, sunitas, curdos ou turcomanos-
estão muito comprometidos com
uma estrutura de governo que garanta os direitos individuais.
Comprometemo-nos a respeitar a unidade do Iraque. Assumimos nossa responsabilidade na
segurança do Iraque até o momento em que os iraquianos estejam em condições de garanti-la.
Mas vamos transferir o poder a
um governo soberano.
A maioria quer a democracia e a
liberdade. O Iraque não tem tradição teocrática.
Pergunta - A violência ameaça a
transferência de soberania em 30
de junho?
Rice- Quanto mais nos aproximamos da transferência, mais
tentativas haverá de interromper
o processo. As próximas semanas
serão difíceis. Não há nada que os
terroristas desejem mais do que
nos ver adiar a transferência da
soberania. Essa seria sua vitória. A
transferência precisa acontecer.
Pergunta - A guerra esfriou as relações dos EUA com a França e a
Alemanha, e agora as imagens de
torturas pioraram suas relações
com os países árabes.
Rice- Acho que as fotos provocaram vergonha e horror entre os
americanos. Não fomos ao Iraque
para isso. Minha primeira reação
foi: ""É lamentável porque pode
relegar à sombra o que os americanos realizaram no Iraque".
Ao mesmo tempo, porém, nos
oferece uma chance para que todos os Estados democráticos recordemos que ninguém nunca
disse que os seres humanos não
cometem atos maus. A diferença,
numa democracia, é que os que
fazem coisas más são castigados.
Pergunta - Se o governo iraquiano pedir às forças americanas que
saiam, elas o farão?
Rice- Os EUA permanecem com
o consentimento do governo.
Acredito que o povo e o governo
iraquianos compreendam que o
Iraque ainda não possui forças
adequadas para garantir a segurança. Não precisamos inventar
mecanismos. É uma prática bastante difundida: quando há governos novos, quando guerras
chegam ao fim, é comum que a
segurança provisória seja dirigida
por uma força estrangeira.
Pergunta - Mas, se o governo eleito pedir às forças americanas que
saiam, elas sairão?
Rice- Os EUA só permanecerão
com o consentimento do governo. Mas os iraquianos querem um
Iraque estável, e eles ainda não
são capazes de garantir tal segurança. Nosso problema tem sido
que, quando falamos em ""transferência de soberania", muitos iraquianos pensam que partiremos
em 1º de julho. Nosso presidente
deixou claro que estaremos ali para eles, para lhes dar segurança,
mas que os EUA acreditam no
consentimento do governo.
Pergunta - Como a sra. avalia o
impacto da decisão espanhola de
abandonar a coalizão?
Rice- A maioria dos membros da
coalizão se manteve firme no Iraque e demonstrou sua intenção
de seguir adiante. A coalizão ainda é muito forte, e, uma vez que a
transferência de soberania tiver
sido realizada, veremos se outros
também vão contribuir.
Pergunta - Mas não ajuda em nada o fato de que o responsável pela
intervenção tenha agido tão mal.
Rice- É verdade, é duro. Mas
acho que já realizamos muito com
a coalizão. Saddam Hussein deixou o poder. Estamos reconstruindo grandes partes do país.
Muitas partes já estão estáveis. A
administração existente é a mais
liberal de todo o Oriente Médio
no que diz respeito aos direitos da
mulher, dos direitos individuais,
do papel do islã.
Vocês acham que poderia ter sido mais fácil? Eu não, porque estamos falando de grandes mudanças históricas, como foi difícil
em 1942, em 1943, em 1944 ou em
1948, durante o bloqueio de Berlim. A história européia prova que
as mudanças históricas levam
tempo. O povo iraquiano finalmente tem uma oportunidade, e,
se conseguir desfrutar os benefícios da liberdade, talvez o Oriente
Médio todo o consiga.
A aliança transatlântica é extraordinária, uma aliança de democracias que se uniram nas circunstâncias mais difíceis. Unimos
a Europa. E será que agora vamos
nos sentar e dizer: ""Já temos a
nossa liberdade, vamos desfrutá-la, vamos nos proteger, ser economicamente prósperos e deixar de
lado aqueles que não têm democracia?". Não seria apropriado para uma aliança que cresceu unida.
Falam do idealismo americano
como um problema no mundo.
Com todo o respeito, digo que,
sem o idealismo americano, não
teríamos derrotado Hitler, não teria havido uma Alemanha unificada nem uma Rússia livre.
Pergunta - A sra. poderia mencionar os erros cometidos no Iraque?
Rice- A história o fará. Mas o objetivo estratégico de um Iraque livre, estável e democrático é justo.
Não se pode julgar com base nas
notícias diárias, mas apenas com
base na história.
Tradução de Clara Allain
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