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Tsvangirai deixa disputa presidencial no Zimbábue
Para oposicionista, clima de violência impede eleições livres e justas no país
Ele acusa governo de querer perpetuar Mugabe, há 28 anos no poder; ministro diz que votação, prevista para sexta-feira, ainda ocorrerá
DA REDAÇÃO
O líder da oposição do Zimbábue, Morgan Tsvangirai,
anunciou ontem sua desistência da disputa eleitoral contra o
ditador Robert Mugabe argumentando ser impossível uma
eleição livre e justa com o atual
clima de violência no país.
Tsvangirai fez um apelo à
União Européia, às Nações
Unidas e à União Africana para
darem um fim ao "genocídio"
na ex-colônia britânica.
Poucas horas antes, o partido
de Tsvangirai, o Movimento
por Mudanças Democráticas
(MD, disse que uma passeata
sua fora interrompida violentamente por milícias jovens pró-Mugabe, que se perpetua no
poder há 28 anos.
O presidente não se manifestou sobre a decisão do candidato oposicionista.
"Nós do Movimento por Mudanças Democráticas decidimos que não participaremos
mais deste violento e ilegítimo
processo eleitoral", disse.
O MDC e Tsvangirai derrotaram Mugabe no primeiro turno, em 29 de março, mas não
conseguiram a maioria absoluta necessária para evitar o segundo turno.
Mas, desde então, vêm acusado as milícias e as forças de segurança do governo de tentarem assegurar, por meio da força, a vitória de Mugabe.
Tsvangirai relembrou essas
denúncia em seu comunicado
de ontem, afirmando haver um
roteiro patrocinado pelo Estado para manter Mugabe, 84, no
poder. "Não podemos pedir a
eles [os eleitores] para depositarem seu voto no dia 27, pois o
voto poderia lhes custar as vidas", disse.
Novas propostas
O líder oposicionista também disse que, na quarta-feira,
irá apresentar propostas para
melhorar a situação do país. A
oposição já disse seguidas vezes
que receberia bem a proposta
de formação de um governo de
"cura nacional", incluindo
membros do partido situacionista Zanu-PF -embora não o
próprio Robert Mugabe.
O MDC também anunciou na
noite de ontem que irá retirar
formalmente a candidatura de
Tsvangirai da eleição prevista
para sexta-feira.
"O triste é que eles [a Comissão Eleitoral] querem se antecipar. Eles terão a carta [de desistência]. A resolução acabou
de ser tomada hoje. Nós lhe daremos sua carta", afirmou o
porta-voz do MDC, Nelson
Chamisa.
Contudo o ministro da Informação do Zimbábue, Sikhanyiso Ndlovu, disse que a votação
irá prosseguir, segundo o que
prevê a Constituição e também
para dar mostra do apoio da população a seu longevo líder.
"A Constituição diz que, se
alguém deixa a corrida presidencial, a votação não será suspensa."
E prosseguiu: "É uma eleição
do povo de Zimbábue contra o
Reino Unido e os EUA", voltando ao tema recorrente usado
pelo governo -de que Tsvangirai é um fantoche das potências
ocidentais, que querem recolonizar o Zimbábue.
Segundo o MDC, helicópteros do Exército estavam patrulhando Harare e Bulawayo
-capital e segunda maior da cidade do país, respectivamente- e que o país estava efetivamente sob regras militares.
Mais de 2.000 jovens membros do partido de Mugabe, o
Zanu-Paf, estariam atacando
cidadãos no centro de Harare,
ainda segundo o MDC.
A agência de notícias Associated Press informou que, no
início da noite de ontem, era
grande a tensão nas ruas da capital, que era percorrida por
grupos de milícias. Os hotéis da
capital dispensaram seus funcionários mais cedo, temendo
por sua segurança.
Segundo Tsvangirai, 86
membros do MDC já teriam sido mortos e outros 200 mil treriam sido desalojados de suas
casas. O próprio ex-candidato
oposicionista chegou a ser detido cinco vezes pela polícia,
quando estava em campanha.
O Zimbábue, que já foi um
dos celeiros da África Austral,
teve sua economia rural desorganizada pela desapropriação,
a partir de 2000, de propriedades pertencentes a fazendeiros
brancos.
Há falta de leite, carne e trigo.
A taxa de desemprego é de 80%,
e a inflação anual está em 165
mil por cento.
Com agências internacionais
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