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Oposição vê como último recurso ação africana
ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO
Mesmo sem uma reação decisiva da comunidade africana
até o momento, é na pressão
dos vizinhos que aposta o opositor MDC para criar condições
políticas de uma eleição justa
no Zimbábue. O próprio partido, porém, parece não saber o
que pode ser feito, e fez apelos
por orientação externa.
"Não estamos desistindo.
Queremos que a Comunidade
para o Desenvolvimento da
África Austral [SADC] e a
União Africana intervenham e
orientem os próximos passos.
O povo já fez tudo o que podia, é
hora de os líderes africanos nos
ajudarem", disse à Folha o representante do MDC na África
do Sul, Nqobizitha Mlilo.
Indagado sobre os riscos para o partido da suspensão da
participação no segundo turno,
Mlilo afirmou que "Mugabe declararia vitória de toda forma".
"A violência atingiu nível sem
precedentes. Hoje [ontem] há
helicópteros e tropas por toda
parte. Ficamos sem opções."
Apesar da confusão, o que o
MDC tem claro é que Mugabe
não poderá manter o poder por
muito tempo sem o apoio dos
vizinhos, principalmente devido ao colapso econômico do
Zimbábue -sob inflação anual
de centenas de milhares por
cento ao ano, segundo o jornal
"Financial Times".
E o MDC não descarta uma
ação de força. "É preciso que a
lei retorne ao Zimbábue, e, se
isso significa enviar tropas de
paz, estamos prontos", disse.
Analistas seguem na mesma
linha. O centro de estudos International Crisis Group, em
relatório do mês passado, diz
que, "com ou sem segundo turno, negociações chefiadas por
líderes africanos são essenciais
para ajudar a convencer os militares [do Zimbábue] a entregar o poder, assim como para
estabelecer os parâmetros para
um governo de transição".
Mas a SADC, tradicionalmente favorável a princípios de
soberania e não-intervenção,
não se posicionou com determinação contra o regime zimbabuano. Os crescentes sinais
de esperança provêm de governos individuais.
"O que está acontecendo no
Zimbábue é uma vergonha tremenda para todos nós", afirmou o presidente da Zâmbia,
Levy Mwanawasa. "Há muitas
coisas ilegais no processo eleitoral (...). Seria escandaloso para a SADC continuar em silêncio." Tanzânia, Suazilândia e
até Angola -cujo presidente
está no poder há mais tempo
do que Mugabe- também pediram à SADC maior envolvimento na crise.
O presidente da África do
Sul, porém, mediador oficial da
situação, continua a proteger
Mugabe. Ontem, ele sugeriu
que o MDC aceite um governo
de coalizão liderado pelo ditador -o que o partido se recusa
terminantemente a fazer. "Mugabe tem de sair. Esse é nosso
limite", diz Mlilo.
De toda forma, Mugabe não
terá um caminho fácil para se
agarrar ao poder. O MDC denunciou que o país está, na verdade, sendo governado por
uma junta militar. O governista
Zanu-PF, apesar de controlar o
aparato de segurança e instituições estatais, perdeu a maioria
no Parlamento para o MDC,
que recusa uma coalizão.
"As conseqüências da continuidade de Mugabe no poder
serão catastróficas", disse o
Crisis Group. "O declínio econômico irá se intensificar, com
mais zimbabuanos fugindo do
país, enquanto inflação, desemprego e sofrimento em
massa crescem."
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