|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Sérvia agrada à UE, mas não acaba com ceticismo
DA REPORTAGEM LOCAL
Apenas duas semanas depois
de assumir o poder, o governo
sérvio do premiê pró-Ocidente
Mirko Cvetkovic deu, com a
captura de Radovan Karadzic,
um passo decisivo em direção à
União Européia. Mas autoridades do bloco deixaram claro ontem que "ainda é cedo" para
avançar a candidatura sérvia.
A UE abriu formalmente as
portas à Sérvia em novembro
de 2007, por meio de um pacto
de estabilização e associação,
considerado como a ante-sala
da adesão ao bloco. Mas a aplicação do acordo ficou condicionada à "plena cooperação" de
Belgrado com o Tribunal Penal
Internacional para a ex-Iugoslávia, em Haia (Holanda).
Como condição, os europeus
exigem que Belgrado entregue
à Justiça internacional os
maiores criminosos das guerras dos anos 90 nos Bálcãs.
Nesse sentido, a prisão de Karadzic foi elogiada pelos 27 países-membros, que divulgaram
ontem um comunicado destacando que é "um passo adiante"
rumo à adesão sérvia.
Mas a Holanda considerou o
gesto insuficiente e a França,
atual presidente da UE, insistiu
que "ainda é cedo para tirar
conclusões". Os europeus pedem a captura do chefe militar
de Karadzic, Ratko Mladic.
A exigência aumenta a pressão sobre Cvetkovic, que assumiu no último dia 7 prometendo romper com o governo anterior, nacionalista e tido como
leniente com os acusados de
crimes de guerra foragidos.
Um dos maiores especialistas franceses em Bálcãs, Jean-Arnault Dérens disse à Folha
que a pressão européia é injusta e revela o próprio desconforto interno do bloco europeu.
"Os europeus queriam Karadzic e Mladic, e eis que um deles
agora está preso. Simbolicamente, isso representa muito
mais do que metade do problema resolvido. O novo governo
sérvio deu um show de boa
vontade, e a bola agora deveria
estar no campo da UE", diz.
"Com a rejeição do Tratado
de Lisboa [conjunto de regras
para aprimorar a institucionalidade do bloco e acelerar o
processo decisório] pelos irlandeses e a crise das instituições
do bloco, os europeus não sabem onde estão. Isso explica
em parte o embaraço diante do
tema da ampliação", afirma.
Para Dérens, a UE deveria
reconhecer o empenho político
de Cvetkovic: "O novo chefe da
inteligência sérvia assumiu
quatro dias antes da captura de
Karadzic. Ou ele é um gênio ou
apenas encontrou em alguma
mesa todas as informações de
que precisava, o que provaria
que faltava apenas vontade política ao governo anterior".
Concorda o americano Mark
Schneider, do International
Crisis Group. "Aqueles que
protegiam os foragidos continuam na ativa?", questiona.
O também americano Charles Kupchan, do Council on Foreign Relations, aposta que a
Sérvia continuará buscando
agradar aos europeus. "Isso demonstra que as autoridades
sérvias estão preparadas para
deter pessoas ainda veneradas
pelos ultranacionalistas. Acho
que a Sérvia fará tudo para
prender Mladic".
(SAMY ADGHIRNI)
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Frase Índice
|