São Paulo, quarta-feira, 23 de julho de 2008

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Sérvia agrada à UE, mas não acaba com ceticismo

DA REPORTAGEM LOCAL

Apenas duas semanas depois de assumir o poder, o governo sérvio do premiê pró-Ocidente Mirko Cvetkovic deu, com a captura de Radovan Karadzic, um passo decisivo em direção à União Européia. Mas autoridades do bloco deixaram claro ontem que "ainda é cedo" para avançar a candidatura sérvia.
A UE abriu formalmente as portas à Sérvia em novembro de 2007, por meio de um pacto de estabilização e associação, considerado como a ante-sala da adesão ao bloco. Mas a aplicação do acordo ficou condicionada à "plena cooperação" de Belgrado com o Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia, em Haia (Holanda).
Como condição, os europeus exigem que Belgrado entregue à Justiça internacional os maiores criminosos das guerras dos anos 90 nos Bálcãs. Nesse sentido, a prisão de Karadzic foi elogiada pelos 27 países-membros, que divulgaram ontem um comunicado destacando que é "um passo adiante" rumo à adesão sérvia.
Mas a Holanda considerou o gesto insuficiente e a França, atual presidente da UE, insistiu que "ainda é cedo para tirar conclusões". Os europeus pedem a captura do chefe militar de Karadzic, Ratko Mladic.
A exigência aumenta a pressão sobre Cvetkovic, que assumiu no último dia 7 prometendo romper com o governo anterior, nacionalista e tido como leniente com os acusados de crimes de guerra foragidos.
Um dos maiores especialistas franceses em Bálcãs, Jean-Arnault Dérens disse à Folha que a pressão européia é injusta e revela o próprio desconforto interno do bloco europeu. "Os europeus queriam Karadzic e Mladic, e eis que um deles agora está preso. Simbolicamente, isso representa muito mais do que metade do problema resolvido. O novo governo sérvio deu um show de boa vontade, e a bola agora deveria estar no campo da UE", diz.
"Com a rejeição do Tratado de Lisboa [conjunto de regras para aprimorar a institucionalidade do bloco e acelerar o processo decisório] pelos irlandeses e a crise das instituições do bloco, os europeus não sabem onde estão. Isso explica em parte o embaraço diante do tema da ampliação", afirma.
Para Dérens, a UE deveria reconhecer o empenho político de Cvetkovic: "O novo chefe da inteligência sérvia assumiu quatro dias antes da captura de Karadzic. Ou ele é um gênio ou apenas encontrou em alguma mesa todas as informações de que precisava, o que provaria que faltava apenas vontade política ao governo anterior".
Concorda o americano Mark Schneider, do International Crisis Group. "Aqueles que protegiam os foragidos continuam na ativa?", questiona.
O também americano Charles Kupchan, do Council on Foreign Relations, aposta que a Sérvia continuará buscando agradar aos europeus. "Isso demonstra que as autoridades sérvias estão preparadas para deter pessoas ainda veneradas pelos ultranacionalistas. Acho que a Sérvia fará tudo para prender Mladic". (SAMY ADGHIRNI)


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