|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Árabes só pensam em vingança", afirma israelense
MICHEL GAWENDO
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM JERUSALÉM
A volta da ameaça de terrorismo
em Jerusalém levou muitos moradores a mudarem os hábitos para
evitar aglomerações e locais considerados alvos potenciais de
atentados -como restaurantes
conhecidos, calçadões no centro
da cidade e mercados abertos.
Segundo moradores ouvidos
durante esta semana, a vida estava
voltando ao normal desde o início
da trégua anunciada por grupos
terroristas, em 29 de junho. Mas o
sentimento de medo voltou desde
terça-feira, quando um imã radical de Hebron explodiu-se num
ônibus lotado com judeus religiosos e matou 20 pessoas.
No dia seguinte, Israel revidou,
matando com disparos de mísseis
um dos fundadores do Hamas, Ismail Abu Chanab, o que levou os
grupos militantes a prometerem
mais atentados. Na quinta-feira,
foi declarado pelos grupos terroristas o fim formal da trégua.
A secretária Tal Golan, 23, deixou de ir ao mercado aberto de
Machané Yehuda na sexta-feira
-"onde os preços são mais baixos e tem mais variedade"- e fez
as compras para o fim de semana
em um supermercado comum.
"Não foi fácil ouvir as notícias
sobre o atentado desta semana.
Minha primeira reação é evitar lugares com muita gente. O shuk
[mercado] já sofreu ataques graves e é muito visado", afirmou.
No mercado, a segurança não
parecia ter sido reforçada na sexta-feira. Na entrada principal,
dois soldados armados com metralhadoras revistavam algumas
bolsas. Um deles disse que não
que tinha permissão para ser entrevistado, mas afirmou que o
movimento parecia o mesmo de
todas as manhãs de sexta.
Dentro, porém, a não ser no
corredor principal, caótico como
sempre, pouca gente circulava e
muita lojas estavam vazias. "Sei
que pode acontecer um atentado.
Não dá para eliminar todo o risco,
mas me sinto mais seguro aqui do
que nos EUA", disse, enquanto
comprava caixas de cereal matinal, o americano John Little, 36,
católico que se mudou para Jerusalém há oito anos para trabalhar
numa empresa de softwares.
Na saída do mercado, um homem carregando sacolas com frutas e pães contou que, nesta semana, fez as compras com pressa.
"Em épocas assim, não é bom ficar escolhendo muito ou ficar batendo papo no mercado. Comprei
o que precisava e saí", disse. "É
claro que tenho medo. Atentados
podem ocorrer em todo lugar.
Nem vou sair no fim de semana."
A cerca de dez minutos de caminhada do mercado, o local do ataque da última terça-feira estava
agitado. No lugar exato da explosão, num cruzamento, foram colocados alguns ramos de flores,
um pequeno altar com velas e
uma pilha de livros de orações.
O estudante de seminário rabínico Shai Cohen, 30, que mora
perto dali, acha que o fim da trégua resultará em novos atentados
em breve, mas que isso depende
mais do comportamento dos judeus, e menos das promessas de
vingança dos grupos terroristas.
"Somos um povo que acredita
em Deus e que tudo o que Ele faz é
para o bem. Quando acontece um
ataque, temos de lembrar que
precisamos ajudar uns aos outros.
Se nos comportarmos bem, de
acordo com a vontade de Deus,
não acontecerão atentados."
Enquanto Shai falava, um grupo
de estudantes de outro seminário
rabínico passou e, aos poucos, alguns deles se interessaram em
conversar com a reportagem.
"Meu rabino falou que, quando
deixamos de fazer boas ações,
Deus dá medo aos judeus e coragem para os árabes, e eles fazem
atrocidades. Israel se fortalece
quando os judeus fazem boas
ações", disse um deles. Outro
acha que "o problema é que os
árabes têm ódio no coração".
"Eles só pensam em vingança e
vão realizar outros ataques aqui".
Na cidade antiga de Jerusalém,
ao leste da parte moderna, soldados da tropa de choque da polícia
israelense vigiavam a entrada do
local conhecido pelos judeus como Monte do Templo e por Esplanada das Mesquitas pelos muçulmanos. O acesso ao local foi
reaberto para visitas de não-muçulmanos, mas, por causa do fim
da trégua, voltou a ser fechado.
Alguns turistas acompanhavam
as orações no Muro das Lamentações, considerado o local mais sagrado do judaísmo. "Logo que
cheguei a Israel, ouvi sobre o atentado. Fiquei triste e ansioso. Antes
de ir a algum lugar, pergunto a israelenses se é seguro", disse o indiano Ganesh Banglore, 30, que
escolheu Jerusalém e Tel Aviv para passar as férias com amigos.
O dono de restaurante Yossef
Sade, 43, disse que o movimento
cai muito quando há ataques. "Este fim de semana vai ser muito
fraco. Não aguento mais essa história de atentado-revide-atentado. As pessoas deixam de sair de
casa ou só vão para o shopping."
No mesmo horário, milhares de
palestinos enchiam as ruas da Cidade de Gaza no funeral do líder
do Hamas morto na quinta-feira
por um ataque com mísseis disparados por Israel. Gritavam que
vingariam a morte do militante
com outros ataques terroristas.
Para o mecânico palestino Mohammed, que não quis dizer seu
sobrenome por temer "represálias" de Israel, os atentados suicidas "não vão terminar até que os
palestinos tenham um Estado".
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Frase Índice
|