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"Ahmadinejad é ingênuo ao discursar ao mundo"
Líder supremo é cordial, sem admirar presidente, diz Majd
DA REPORTAGEM LOCAL
Hooman Majd diz que o presidente iraniano, Mahmoud
Ahmadinejad, é um homem
profundamente religioso, nacionalista e "ingênuo em relação ao mundo externo".
FOLHA - Como o sr. descreve o presidente Mahmoud Ahmadinejad?
HOOMAN MAJD - O presidente
Ahmadinejad é um homem encantador e um mestre da política. É profundamente religioso
mas, acima disso, um fervoroso
nacionalista. Realmente acredita estar defendendo os direitos do Irã contra Ocidente, visto como dominante e injusto.
É também um homem simples, adepto de uma vida modesta e sem ostentação, em
conformidade com a imagem
de "homem do povo", que corresponde em grande parte à
realidade.
Além disso, é preciso ressaltar que ele está longe de ser um
sujeito cosmopolita. Antes de
virar presidente, nunca tinha
ido ao exterior. E até hoje continua demonstrando ser ainda
um tanto ingênuo no que diz
respeito ao mundo externo.
FOLHA - Porque ele insiste tanto na
destruição de Israel? De onde vem
tamanho ódio ao Estado judeu?
MAJD - Ele acredita que Israel
é um Estado ilegítimo fadado
ao desaparecimento, como foi a
União Soviética. Mas o presidente jamais insinuou qualquer participação iraniana nesse "desaparecimento". Creio
que ele nunca buscará uma
guerra contra Israel, até porque
decisões militares não cabem a
ele, mas ao líder supremo.
Não penso que Ahmadinejad
acredite que o "desaparecimento" de Israel acontecerá
durante sua vida. Mas como xiita devoto, que acredita no Messias e em um Deus justiceiro,
ele tem certeza de que esse dia
chegará. De qualquer maneira,
ninguém no Irã leva muito a sério as declarações do presidente sobre Israel.
FOLHA - Qual a verdadeira relação
entre Ahmadinejad e o líder supremo, aiatolá Ali Khamenei?
MAJD - As relações entre presidentes do país e líderes supremos são sempre cercadas de
mistério. Mas o líder máximo
geralmente dá ampla autonomia ao presidente e não interfere na sua gestão.
Essa política de boa vizinhança permite ao líder supremo ficar acima das disputas
partidárias, o que lhe confere a
credibilidade necessária para
ser de fato o guia da nação.
Khamenei pode até ser conservador, mas é também um
pragmático que respeita a vontade do povo expressada na escolha do presidente -desde
que isso não afete os valores revolucionários.
Todos sabem que ele discorda de Ahmadinejad em alguns
aspectos e concorda com ele
em outros, tanto quanto com o
ex-presidente Khatami.
O líder supremo recebe o
presidente e seus antecessores
com freqüência. Suas relações
com Ahmadinejad, por quem
não tem apreço particular, são
cordiais e práticas. Khatami
sempre o apóia em público, para não minar a credibilidade da
República Islâmica.
O líder supremo não deve endossar explicitamente nenhuma candidatura na eleição do
ano que vem, mas ficará claro
na hora certa quem ele apóia.
Mesmo assim, o candidato preferido por ele está longe de ter
vitória assegurada.
FOLHA - Um ataque israelense ou
americano poderia trazer algum benefício político a Ahmadinejad ou a
algum outro setor do Irã?
MAJD - Duvido. Em caso de um
ataque, Ahmadinejad seria responsabilizado por sua atitude
beligerante e provocadora em
relação a Israel. Não creio que
alguém no Irã seja favorável a
uma intervenção estrangeira. É
algo que traria apenas sofrimento, já que o país não poderia se defender.
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