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DISPUTA VOTO A VOTO
Divididos por fé, cor e geração
Capacidade de garantir voto dos independentes, dos jovens e das minorias definirá o 44º presidente
Andrea Murta, da Redação
Se há quatro anos o vo-
to conservador carregou George W. Bush de volta à Casa
Branca, hoje políticos e analistas esmiúçam o eleitorado
americano para tentar antecipar quem fará pender a balança
na escolha de seu 44º presidente. E descobrem que, em um
país onde 60% dos eleitores
não votam, a chave do Salão
Oval será daquele que tirar negros, religiosos ou independentes de casa em 4 de novembro.
Pode ser cedo para fazer previsões: segundo estudo do Centro de Pesquisas Pew neste
mês, um terço dos eleitores
ainda não se decidiu entre o democrata Barack Obama e o republicano John McCain. Mas,
com base em resultados de
2004 e pesquisas, é possível
identificar algumas tendências
que merecem observação.
Alexander Keyssar, especialista em política americana da
Universidade Harvard, destaca
o papel emergente do eleitorado negro neste ano. Mas não
pelo apoio maciço a Obama (de
88%, diz o Pew). Em 2004, o
candidato democrata John
Kerry conquistou cerca de 82%
dos votos dos negros. E perdeu.
"A diferença", afirma Keyssar, "é que neste ano ano devemos ter um volume muito
maior de negros indo às urnas".
Ele aponta também eleitores
brancos da classe trabalhadora
como grupo-chave. Obama tem
tido dificuldade em conquistar
esses eleitores, que, apesar da
tendência democrata por razões econômicas, preferiram
Hillary Clinton nas prévias.
"Pode haver certa relutância
em votar em um negro", diz o
analista. "E eles tendem a ser
nacionalistas em política externa", o que não favorece o senador de tom multilateralista.
Observando apenas o critério
de raça, os brancos têm preferido os republicanos. Em 2004,
58% votaram em Bush, e 41%
em Kerry, de acordo com a boca-de-urna da rede CNN feita à
época. Neste mês, o Pew encontrou 51% de preferência para
McCain e 39% para Obama.
Outro grupo importante é a
comunidade latina, que para
Keyssar deve votar mais no
Partido Democrata do que em
2004 (quando 40% apoiaram
Bush). Mas a previsão é perigosa: no começo da temporada de
primárias, só 15% dos latinos
apoiavam Obama, contra 59%
que preferiam Hillary.
De novo, o foco é o aumento
da participação. De 2000 a
2004, houve um crescimento
de 27% no comparecimento do
grupo, o que significou 7,6 milhões de latinos votando para
presidente. Agora, está previsto
1 milhão de eleitores a mais.
A inclinação das diversas faixas etárias também é alvo de
minuciosa análise. Um dos motivos é o aparente entusiasmo
do eleitorado jovem, que apóia
fortemente Obama.
O Pew diz que 58% dos eleitores de 18 a 29 anos favorecem
o democrata, ante 34% que preferem McCain. Especialistas,
porém, concordam que essa é
uma faixa incerta. "São os jovens com diploma universitário que estão fazendo barulho.
Os com baixa escolaridade não
são nada engajados em política", diz Curtis Gans, diretor do
Comitê para o Estudo do Eleitorado Americano.
E a alta escolaridade não é
determinante apenas entre os
jovens. Pesquisa do Gallup de
12 de agosto aponta que, usando o critério grau de educação,
é o eleitorado com pós-graduação que mais apóia Obama
(56%, ante 36% de McCain).
Entre eleitores mais velhos, a
situação muda de figura.
McCain está vencendo por 46%
a 42%. O padrão é parecido com
o de 2004, quando Bush ganhou de Kerry por 54% a 46%
entre os maiores de 60.
A
s mulheres mais
velhas têm índices ainda mais
favoráveis aos republicanos.
Eleitoras com mais de 65 anos
escolhem McCain por 42% a
35%, de acordo com pesquisa
do Pew de julho. Mulheres de
40 a 45 anos também preferem
o veterano do Vietnã (45% a
41%), segundo a Fox News.
Os resultados de Obama com
as mulheres acima dos 40 surpreenderam analistas, pois o
grupo costuma ser fiel ao Partido Democrata. Parte do problema, estimam, vem da insatisfação após a derrota de Hillary.
Mas as mais jovens conseguem pesar na balança e, entre
mulheres em geral, Obama
vence McCain por 51% a 38%
em agosto (dados do Pew).
E a religião? "Parte do que foi
extraordinário em 2004 foi o
alto comparecimento dos evangélicos, fator crucial para a vitória de Bush", diz Keyssar.
Há quatro anos, os valores
morais foram o principal fator
para escolha do candidato
(22%), segundo a CNN. Agora,
o primordial é a economia.
McCain está sete pontos à
frente entre protestantes
-49% a 42%. A margem é pequena frente a 2004, quando
Bush venceu por 59% a 40%.
"A situação de McCain é
complicada, pois ele não tem a
confiança dos conservadores
religiosos", afirma Gans. "Conservadores, religiosos ou não,
não irão votar nos mesmos
contingentes que em 2004. Para compensar, McCain terá que
conquistar os independentes."
Esse é outro desafio, já que,
em 2004 e agora, republicanos
e democratas praticamente
empatam nessa faixa.
Além de nível de apoio e volume de comparecimento às
urnas, um terceiro critério é
fundamental na hora de avaliar
o peso de grupos nas eleições:
sua distribuição geográfica.
São quantidades parecidas
de esquerdistas e conservadores que fazem Estados como
Ohio, Michigan, Pensilvânia e
Flórida serem chamados de
"swing states" -aqueles sem
preferência partidária definida.
A maioria, porém, tem tradições firmes. De acordo com a
média calculada pelo site Real
Clear Politics, só três Estados
têm preferência atual diferente
da de 2004: Novo México, Iowa
e Indiana votaram em Bush e
hoje se inclinam para Obama.
Mas, se Novo México e Iowa
votaram em Al Gore em 2000
-e portanto não é grande surpresa a tendência democrata
atual-, em Indiana o páreo será duro para Obama: o Estado
não elege um presidente democrata desde 1964. "Obama pode
ter um grupo de eleitores mais
entusiasmados, mas isso ainda
não é suficiente para que ele
vença", resume Gans.
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