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JOHN MCCAIN
ELE QUER SER "LÍDER DO MUNDO LIVRE"
Perseverante, republicano põe em xeque prognóstico de vitória fácil para oposição ao governo Bush
Fernando Rodrigues, da Sucursal de Brasília
Poucos levariam a sé-
rio se há um ano alguém ousasse prever John McCain como o
candidato republicano a presidente da República. Ele era
apenas um fracassado da campanha de 2000 (quando perdeu
a nomeação para George W.
Bush), tinha fama de falastrão e
sua idade (71 anos) não ajudava
numa disputa contra opositores democratas mais jovens e
cheios de energia como Hillary
Clinton e Barack Obama.
Para complicar, George W.
Bush amargava em 2007 um de
seus piores momentos, por
causa do fracasso da guerra no
Iraque. Um ex-militar como
McCain sendo eleito presidente parecia improvável.
Completava o quadro desalentador a disputa interna no
partido. Estavam no páreo contra McCain pesos-pesados, como o ex-prefeito de Nova York
Rudolph "Tolerância Zero"
Giuliani e o milionário ex-governador de Massachusetts
Mitt Romney -este exalando a
imagem de bem-sucedido, com
família fotogênica típica de séries de TV americanas.
Contra quase todas as previsões, o senador republicano pelo Arizona superou uma a uma
as dificuldades. Apresentou-se
de maneira simples, como o
mais confiável num país onde é
comum ouvir os eleitores dizendo que elegem não o presidente da República, mas "o líder do mundo livre".
Quem entrava no seu ônibus
de campanha surpreendia-se.
O republicano sentava-se com
os jornalistas e começava a responder perguntas sem parar, a
ponto de os repórteres ficarem
sem assunto.
Nessa toada, McCain assegurou a nomeação republicana já
no dia 4 de março passado, ao
conquistar o número de delegados suficiente para a convenção
do seu partido, na primeira semana de setembro.
Superar obstáculos parece
ser a marca desse político que
terá 72 anos quando assumir o
cargo se vencer a disputa pela
Casa Branca. Logo depois de
sua vitória interna no partido,
começaram as análises pessimistas na mídia dos EUA sobre
as dificuldades de McCain contra a avalanche democrata.
A idade avançada, seu câncer
de pele na região do pescoço
curado há alguns anos, o passado militar associado ao apoio à
Guerra do Iraque, a péssima
imagem de Bush e o suposto
desejo de mudança por parte
dos eleitores eram listados como fatores mortais.
Completavam a cesta de
itens negativos a incapacidade
de o senador de quatro mandatos pelo Arizona (eleito pela
primeira vez em 1986) de conectar-se com o eleitorado
mais jovem, sobretudo pela internet. No final de março,
quando McCain estabeleceu-se
de vez para os republicanos,
seus vídeos no YouTube tinham sido assistidos meras
2,86 milhões vezes. Os clipes de
Obama já registravam 35,6 milhões de cliques.
O republicano foi se ajeitando, enquanto os democratas se
digladiavam para escolher entre Obama e Hillary. De maio
até a metade de agosto, teve 5,8
milhões de acessos para seus
vídeos no YouTube, contra 2,6
milhões de seu adversário democrata.
A escalada de McCain fez o
que seria uma lavada a favor
dos democratas passar a ser
uma disputa apertada. Nas pesquisas mais recentes, McCain
nunca está, na média, mais do
que cinco pontos percentuais
atrás de Obama. Em várias,
aparecem empatados.
No espectro ideológico clássico, McCain está à esquerda
dos últimos três presidentes
eleitos pelo seu partido (Ronald Reagan e os dois Bush).
Ele é, em alguns aspectos, quase o que os americanos chamam de "liberal", alguém a favor de amplas liberdades civis.
McCain se posiciona contra a
prática de tortura, tática usada
nos últimos anos pelos militares dos EUA. Ele também considera razoável legalizar de maneira progressiva imigrantes
que estejam há muitos anos no
país sem documentação.
Casamento entre homossexuais não é algo que defenda,
mas o republicano acha correta
a união civil entre duas pessoas
do mesmo sexo. Em relação ao
ambiente, McCain se declara a
favor de meta para redução dos
gases do efeito estufa.
McCain agora toma todos os
cuidados com declarações que
possam ofender o eleitorado
religioso. "Ele está muito comprometido com as posições do
eleitorado religioso conservador e não comete os mesmos
deslizes de 2000", diz o professor de ciência política especializado em religião Richard Parker, da Universidade Harvard,
sobre a indicação que perdeu
para Bush, entre outros motivos por ser "liberal demais".
Na sua área prioritária, a defesa do país, faz questão de que
não confundam seu parcial liberalismo com uma posição relaxada. McCain apoiou as duas
guerras do Iraque e chegou a dizer que tanto fazia se as tropas
americanas permanecessem
"até cem anos" em Bagdá.
Quando estourou o recente
conflito entre Rússia e Geórgia,
ele se apressou em faturar o voto dos eleitores simpáticos ao
pensamento reducionista do
"bem contra o mal". Obama
curtia férias no Havaí.
N
ascido em 29 de
agosto de 1936 em Coco Solo,
na zona do Canal do Panamá,
McCain tem cidadania americana porque seus pais estavam
fora em missão oficial. Filho e
neto de almirantes, ele ingressou na mesma carreira militar.
Já como piloto da Marinha, lutou na Guerra do Vietnã e teve
seu avião abatido em 26 de outubro de 1967.
Capturado, virou troféu nas
mãos dos vietnamitas. Seu pai
era almirante e, à época, comandante das forças dos EUA
no Pacífico. Passou cinco anos
preso. Torturado, teve costelas
e pernas quebradas e dentes arrancados. Tem seqüelas até hoje, como dificuldade para levantar um dos braços acima da
altura do ombro. Já no fim da
guerra, foi solto em 15 de março
de 1973. Voltou como herói.
Em 1976, McCain foi designado pela Marinha para ser assessor responsável pelas relações com o Senado. Em 1981,
deu baixa no serviço militar e
instalou-se com sua segunda
mulher no Arizona. Em 1982,
foi eleito deputado federal por
esse Estado. Quatro anos depois, chegou ao Senado.
Teve dois casamentos e muitas namoradas -conta que teria namorado uma modelo brasileira em 1957, história nunca
comprovada. McCain ficou casado com sua primeira mulher,
Carol, de 1965 a 1980. Divorciou-se e casou-se com Cindy
Hensley -18 anos mais jovem
que ele e herdeira da Hensley &
Co., uma das maiores distribuidoras de bebidas dos EUA.
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