|
Próximo Texto | Índice
África do Sul rejeita ação internacional no Zimbábue
Partido governista diz que britânicos são parcialmente responsáveis por crise
CNA critica 2º turno eleitoral após violência motivar retirada do líder da oposição, que pede intervenção armada contra Mugabe
Desmond Kwande/France Presse
|
|
O ditador zimbabuano, Robert Mugabe, faz comício em Banket
DA REDAÇÃO
O partido governista da África do Sul rejeitou terminantemente ontem uma intervenção
externa para pôr fim à crise no
Zimbábue por meio da derrubada do ditador Robert Mugabe, embora tenha criticado em
termos duros a violência promovida pelo regime.
Líderes africanos sofrem
pressão quase universal por
uma ação. Eles são vistos como
os únicos capazes de resolver a
crise eleitoral que deverá confirmar Mugabe no poder, apesar da denunciada falta de condições para uma votação justa.
Em comunicado, o Congresso Nacional Africano (CNA)
afirmou que "quaisquer tentativas por parte de atores externos de impor uma mudança de
regime irão apenas aprofundar
a crise". "Sempre foi e continua
a ser nossa opinião que os desafios do Zimbábue só podem ser
resolvidos pelos próprios zimbabuanos. Nada do que aconteceu nos últimos meses nos persuadiu a rever essa opinião."
A África do Sul é um dos países de maior influência no Zimbábue, pela estreita relação de
seu presidente, Thabo Mbeki,
com o governo local e por seu
peso econômico e político na
África subsaariana.
Segundo turno
O comunicado chega em
meio ao aprofundamento da
crise no país. Mesmo depois
que o partido opositor Movimento pela Mudança Democrática (MDC) desistiu, no domingo, de disputar a eleição
presidencial devido à repressão, Mugabe continua fazendo
campanha política.
O MDC oficializou a desistência ontem. Mas o segundo
turno da votação, marcado para
a próxima sexta, foi mantido.
O MDC afirma que 86 simpatizantes seus foram mortos, e
200 mil, expulsos de suas casas,
após a vitória de seu candidato,
Morgan Tsvangirai, no primeiro turno. Tsvangirai segue refugiado na Embaixada da Holanda, para onde fugiu após ser
alertado de que soldados estavam a caminho de sua casa.
Ontem, em entrevista à
emissora pública holandesa
Radio 1, Tsvangirai se disse
confiante de que Mugabe "não
conseguirá seguir em desafio à
posição internacional". Em comentário publicado hoje no
diário britânico "The Guardian", ele conclamou os líderes
mundiais a enviarem "uma força militar" a seu país.
Condenação
No comunicado de ontem o
CNA adota tom muito mais duro do que o usado até agora por
Mbeki e deixa claro que não
concorda com a realização do
segundo turno. "Eleições justas
e livres são impossíveis no clima político atual do país. A própria legitimidade do segundo
turno já foi comprometida pelas ações tanto do Zanu-PF
quanto dos membros do aparato estatal, que nem mesmo escondem sua parcialidade em
favor do partido governista."
Mas o CNA também dedicou
grande parte do texto a relembrar o passado colonial do Zimbábue e o papel do Zanu-PF,
partido de Mugabe, na libertação do país do domínio do Reino Unido. Em sentimento em
geral compartilhado pelas ex-colônias africanas, o CNA enfatiza o descrédito com que recebe as atuais críticas das potências ocidentais, especialmente
do Reino Unido, a Mugabe.
O texto diz que a ex-metrópole tem grande responsabilidade pela atual crise. "Nenhum
governo colonial na África,
muito menos o Reino Unido na
Rodésia [antigo nome do Zimbábue], jamais demonstrou
respeito pelos princípios [de
autodeterminação e liberdades
civis]. Foi o povo do Zimbábue,
sob a liderança da Frente Patriótica [hoje no Zanu-PF], que
lutou por esses direitos."
A posição da influente Comunidade pelo Desenvolvimento da África Austral
(SADC), até agora, ficou próxima à do CNA. O órgão discutirá
crise em reunião de emergência hoje na Suazilândia.
Ontem, Mugabe disse que
pode negociar com opositores
após o segundo turno. "Estamos abertos a uma discussão",
disse o ditador, que ressalvou:
"mas temos nossos próprios
princípios". Analistas são céticos quanto à possibilidade de
um acordo.
Com agências internacionais
Próximo Texto: Frases Índice
|