São Paulo, quarta-feira, 25 de junho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

análise

Permanência de Mugabe se apóia em militarismo

DA REDAÇÃO

Além da resistência africana em intervir, é no apoio das forças de segurança que vem sendo buscada parte da explicação para a intransigência do ditador do Zimbábue, Robert Mugabe, em manter o segundo turno da eleição presidencial apesar da desistência da oposição e da condenação quase mundial.
Segundo o jornal britânico "Financial Times", a atitude de Mugabe "reflete a mudança de poder que ocorreu no [partido governista] Zanu-PF, favorecendo o Comando de Operações Conjuntas (JOC), formado por chefes de segurança e ministros seniores -"os quais não se importam com "amabilidades diplomáticas" e são indiferentes à hostilidade internacional crescente.
O JOC, para o jornal, suplantou até mesmo o gabinete de ministros na determinação dos rumos do país. E a aposta dos "securocratas" é que a pressão internacional vai arrefecer assim que o segundo turno terminar, Mugabe vencer, e a imprensa estrangeira perder o interesse.
A avaliação da importância das forças de segurança é compartilhada pelo opositor Movimento pela Mudança Democrática, que afirma que o Zimbábue já está sendo na verdade governado por uma junta militar -que tem tudo a perder com o fim do regime de Robert Mugabe.
É notório que o ditador, com o aprofundamento da crise econômica do país, cedeu parcelas significativas do poder ao JOC, aos militares e à polícia. Os "securocratas" ocupam posições de destaque em instituições civis que vão desde o Conselho de Comércio de Grãos até a Comissão de Supervisão Eleitoral.
E, de acordo com relatório do instituto de pesquisas Council on Foreign Relations (EUA), há crescentes sinais de que o controle dos líderes de segurança sobre o governo só aumentou desde o primeiro turno das eleições, em março, quando Mugabe foi derrotado.

Braços na economia
"A primeira regra de sobrevivência é: mantenha as forças de segurança felizes e pague-as bem" disse ao Council on Foreign Relations Knox Chitiyo, analista zimbabuano que dirige o programa para a África do Instituto Real de Serviços Unidos para Defesa e Segurança, em Londres. Mugabe seguiu à risca a regra.
Com isso, instituições estatais se tornaram cada vez mais militarizadas, e a influência dos chefes de segurança se estendeu à economia. A criação, em 2006, do Conselho de Segurança Nacional do Zimbábue reflete a simbiose: nas mãos do órgão foi depositada a supervisão de temas econômicos e de segurança alimentar.
Hoje, o Exército é responsável -e particularmente criticado- pela distribuição e produção de comida.
Além disso, "securocratas" estão também na direção do Banco Central do Zimbábue, sendo largamente responsabilizados pelas políticas inflacionárias que levaram o país à bancarrota.
Nem sinais de racha ajudaram a situação: até agora, as divisões apenas impediram as lideranças de segurança de promover uma transição. O Council on Foreign Relations diz que o Exército, por exemplo, está muito ocupado com suas divisões internas para ajudar a criar um novo governo.
Martin Rupiya, ex-coronel do Exército zimbabuano e hoje analista na África do Sul, resume a questão: "A batalha deles é por sobrevivência, por quaisquer meios".


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Plano B: Britânicos forjam estratégia militar
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.