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análise
Permanência de Mugabe se apóia em militarismo
DA REDAÇÃO
Além da resistência africana em intervir, é no apoio das
forças de segurança que vem
sendo buscada parte da explicação para a intransigência do ditador do Zimbábue,
Robert Mugabe, em manter
o segundo turno da eleição
presidencial apesar da desistência da oposição e da condenação quase mundial.
Segundo o jornal britânico
"Financial Times", a atitude
de Mugabe "reflete a mudança de poder que ocorreu no
[partido governista] Zanu-PF, favorecendo o Comando
de Operações Conjuntas
(JOC), formado por chefes
de segurança e ministros seniores -"os quais não se importam com "amabilidades
diplomáticas" e são indiferentes à hostilidade internacional crescente.
O JOC, para o jornal, suplantou até mesmo o gabinete de ministros na determinação dos rumos do país. E a
aposta dos "securocratas" é
que a pressão internacional
vai arrefecer assim que o segundo turno terminar, Mugabe vencer, e a imprensa estrangeira perder o interesse.
A avaliação da importância
das forças de segurança é
compartilhada pelo opositor
Movimento pela Mudança
Democrática, que afirma que
o Zimbábue já está sendo na
verdade governado por uma
junta militar -que tem tudo
a perder com o fim do regime
de Robert Mugabe.
É notório que o ditador,
com o aprofundamento da
crise econômica do país, cedeu parcelas significativas do
poder ao JOC, aos militares e
à polícia. Os "securocratas"
ocupam posições de destaque em instituições civis que
vão desde o Conselho de Comércio de Grãos até a Comissão de Supervisão Eleitoral.
E, de acordo com relatório
do instituto de pesquisas
Council on Foreign Relations (EUA), há crescentes
sinais de que o controle dos
líderes de segurança sobre o
governo só aumentou desde
o primeiro turno das eleições, em março, quando Mugabe foi derrotado.
Braços na economia
"A primeira regra de sobrevivência é: mantenha as
forças de segurança felizes e
pague-as bem" disse ao
Council on Foreign Relations Knox Chitiyo, analista
zimbabuano que dirige o
programa para a África do
Instituto Real de Serviços
Unidos para Defesa e Segurança, em Londres. Mugabe
seguiu à risca a regra.
Com isso, instituições estatais se tornaram cada vez
mais militarizadas, e a influência dos chefes de segurança se estendeu à economia. A criação, em 2006, do
Conselho de Segurança Nacional do Zimbábue reflete a
simbiose: nas mãos do órgão
foi depositada a supervisão
de temas econômicos e de segurança alimentar.
Hoje, o Exército é responsável -e particularmente
criticado- pela distribuição
e produção de comida.
Além disso, "securocratas"
estão também na direção do
Banco Central do Zimbábue,
sendo largamente responsabilizados pelas políticas inflacionárias que levaram o
país à bancarrota.
Nem sinais de racha ajudaram a situação: até agora, as
divisões apenas impediram
as lideranças de segurança
de promover uma transição.
O Council on Foreign Relations diz que o Exército, por
exemplo, está muito ocupado com suas divisões internas para ajudar a criar um
novo governo.
Martin Rupiya, ex-coronel
do Exército zimbabuano e
hoje analista na África do
Sul, resume a questão: "A batalha deles é por sobrevivência, por quaisquer meios".
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