São Paulo, quarta-feira, 25 de junho de 2008

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Muçulmanos se decepcionam com frieza de Obama

Inicialmente empolgados com candidatura do senador democrata, islâmicos dos EUA hoje lamentam ser mantidos à distância

ANDREA ELLIOTT
DO "NEW YORK TIMES"

Quando o senador democrata Barack Obama estava tentando conquistar os eleitores de Iowa, em dezembro, o deputado Keith Ellison, primeiro legislador muçulmano na história dos EUA, estava ansioso por ajudar. Ele acreditava que a mensagem de unidade defendida por Obama fosse ecoar de maneira profunda entre os muçulmanos do país.
Ofereceu-se para discursar em defesa de Obama em uma mesquita em Cedar Rapids, uma das mais antigas áreas em que uma presença muçulmana se estabeleceu no país. Mas antes que o discurso pudesse ocorrer, assessores de Obama pediram que Ellison cancelasse a visita, porque temiam que pudesse causar controvérsia.
Quando Obama iniciou sua campanha, os muçulmanos dos EUA responderam com entusiasmo, vendo-o como um defensor há muito aguardado da tolerância religiosa. Mas passado mais de um ano, dizem que o apreço não foi retribuído.
O senador visitou igrejas e sinagogas, mas não foi a nenhuma mesquita. Convites de organizações muçulmanas e árabes americanas foram todos ignorados. Na semana passada, duas mulheres muçulmanas que usavam véus nos cabelos foram impedidas por assessores de aparecer ao lado de Obama em um comício em Detroit.
Líderes políticos e civis islâmicos dizem compreender que seu apoio a Obama poderia representar problema para ele em uma época em que muitos americanos abrigam profunda desconfiança quanto aos muçulmanos. Mas esses líderes ainda assim expressam decepção e até raiva por Obama ter decidido mantê-los à distância.
Assessores de Obama negam que ele tenha mantido seus partidários muçulmanos afastados. Apontam declarações nas quais ele mencionou positivamente o islã nos EUA e um comercial de rádio que ele gravou recentemente em apoio à campanha do deputado Andre Carson, democrata de Indiana que recentemente se tornou o segundo muçulmano eleito para o Congresso americano.
Depois do episódio em Detroit, na semana passada, Obama telefonou para as duas muçulmanas para se desculpar.
Mas o gesto foi insuficiente aos olhos de líderes muçulmanos que dizem que o incidente em Detroit ilustra um descompasso entre a mensagem de unidade de Obama e sua estratégia de campanha.
A despeito das complicações envolvidas na luta pelo voto dos muçulmanos, Obama e seu rival republicano, o senador John McCain, podem vir a decidir que ignorar esse eleitorado talvez represente um risco, já que existem consideráveis concentrações de muçulmanos em Estados muito disputados como a Flórida, Michigan, Ohio e Virgínia, que podem decidir a eleição em novembro.


Tradução de PAULO MIGLIACCI

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