São Paulo, domingo, 25 de setembro de 2011 |
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ANÁLISE Dilma enfrenta duplo desafio na Assembleia-Geral da ONU MATIAS SPEKTOR ESPECIAL PARA A FOLHA Em sua primeira passagem pelo pódio da ONU, Dilma apontou um desafio duplo: o sucesso de nossas políticas internas demanda um sistema capitalista estável e nossa ascensão depende de uma estrutura internacional capaz de absorver interesses e valores do Brasil emergente. É inédita a complexidade da diplomacia brasileira, que precisa atuar em áreas que antes podia evitar. Como o Brasil não galgará posições no sistema internacional apenas por aquilo que é, e sim por aquilo que traz de valor agregado para a ordem global, em qualquer área da política externa que se considere, a necessidade de novas ideias é patente. Dilma entendeu. Alertou para risco real de violenta ruptura social na esteira da crise financeira. Responsabilizou pela crise da Grécia não apenas o governo em Atenas, mas também os que ganharam ou foram coniventes com a situação. Fez isso para concluir que o Brasil poderá ajudar a Europa porque é de seu interesse imediato. No trecho mais criativo e menos percebido pela imprensa, Dilma manifestou apreço pela "responsabilidade de proteger", princípio segundo o qual é legítimo usar força para preservar a vida de populações ameaçadas por seus próprios governantes. Mas matizou o apoio ao sugerir uma norma complementar -a "responsabilidade ao proteger". Trata-se de estabelecer critérios básicos para assegurar que intervenções, ao usar a força, façam sempre o mal menor. A expressão é uma solução inteligente para a difícil escolha entre cuidar de uma população ameaçada e abrir a caixa de Pandora da intervenção militar. O Brasil devia aproveitar os três meses que restam como membro rotativo do Conselho de Segurança da ONU para lançar ampla campanha de codificação dessa ideia. Num tema central, contudo, a presidente deixou a desejar. Lidou com a reforma do CS (Conselho de Segurança)de maneira burocrática. Foi um erro porque a passagem do Brasil pelo CS nestes dois anos foi a mais turbulenta de nossa história. O Brasil viu-se acusado de irresponsabilidade nos casos de Irã, Líbia e Síria. Essas críticas, o mais sério desafio ao pleito brasileiro, serão mais comuns quanto mais crescer o poder relativo do Brasil no mundo. O pódio da ONU é e continuará sendo lugar privilegiado para rebatê-las com firmeza. MATIAS SPEKTOR, doutor pela Universidade de Oxford, coordena o Centro de Relações Internacionais da FGV. Texto Anterior: Cuba ofereceu área promissora para a Petrobras Próximo Texto: Plano de estímulo criou poucas vagas nos EUA Índice | Comunicar Erros |
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