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Africanos pressionam Mugabe
Ditador do Zimbábue, que busca reeleição, é desencorajado por vizinhos; África do Sul pede adiamento
Líder opositor, que abdicou de candidatura, apela para
União Africana; voto seria ilegítimo, afirmam Angola,
Suazilândia e Tanzânia
DA REDAÇÃO
O projeto de Robert Mugabe
de se reeleger de qualquer maneira, no segundo turno presidencial de amanhã, no Zimbábue, sofreu ontem duas pancadas: com a declaração conjunta
dos três países representantes
da SADC (Comunidade Sul-Africana de Desenvolvimento),
de que a reeleição "não teria legitimidade" e com a iniciativa
da África do Sul, até agora conivente com o ditador, de propor
o adiamento das eleições.
No primeiro turno, em 29 de
março, Mugabe ficou em segundo lugar, atrás de Morgan
Tsvangirai, do MDC (Movimento pela Mudança Democrática). Mas o oponente retirou sua candidatura para o turno final ante a violenta campanha de intimidação que matou
cerca de 90 de seus partidários.
Tsvangirai está refugiado na
Embaixada da Holanda em Harare. Ele a deixou ontem brevemente para declarar que a reeleição de Mugabe seria "uma
impostura" e lançar um apelo
para que a União Africana, com
o apoio da ONU, propusesse
uma fórmula de transição.
O nome de Tsvangirai ainda
está nas cédulas preparadas para amanhã. A comissão eleitoral, controlada pela ditadura,
argumenta não ter como reverter as cédulas já impressas.
"O problema do Zimbábue é
africano e requer uma solução
africana", disse o líder da oposição. O "Financial Times" lembra que ele já pediu tropas internacionais e que outros inimigos de Mugabe pedem novas
sanções econômicas, algo de
efeitos duvidosos para um país
que já está na bancarrota.
O posicionamento da SADC
foi tomado na Suazilândia, que
integra ao lado da Tanzânia e
de Angola o trio de países que
procura uma solução alternativa ao continuísmo do ditador.
"Efetuar eleições dentro das
atuais circunstâncias poderá
comprometer a credibilidade e
a legitimidade dos resultados",
disseram os presidentes dos
países vizinhos, numa linguagem cuidadosa e, mesmo assim,
sem maiores ambigüidades.
Recuo sul-africano
Quanto à África do Sul, que
tem o peso de potência regional, a Reuters diz que seu governo enviou a Harare um
emissário encarregado de negociar "toda e qualquer opção",
entre elas o adiamento da votação de amanhã. A informação
partiu do porta-voz do governo
sul-africano, Themba Maseko.
O primeiro-ministro do Quênia, Raila Odinga, havia pedido
que o presidente da África do
Sul, Thabo Mbeki, deixasse de
falar em nome dos países da
África Austral, em razão de seu
comprometimento com o regime zimbabuano. A missão enviada a Harare sinaliza que
Mbeki está recuando e já considera alguma alternativa.
Quanto ao próprio ditador,
ele reafirmou que o segundo
turno presidencial seria realizado nesta sexta, conforme
previsto. Além da hostilidade
ou da desconfiança de seus vizinhos mais próximos, ele, caso
"reeleito", não terá seu governo
reconhecido pelo Reino Unido
e pelos Estados Unidos. Ambos
querem que a mesma posição
seja adotada pela União Européia e pela África do Sul.
Londres também pressiona
para que a União Africana faça
o mesmo. Se isso ocorresse,
Mugabe ou seus representantes deixariam de ser convidados para as reuniões daquela
organização africana.
Segundo a BBC, antes dessas
alternativas mais radicais um
dos cenários para romper o impasse estaria na possibilidade
de o MDC aceitar participar de
um governo de coalizão até a
convocação de novas eleições
presidenciais. Mas nada indica
que essa alternativa esteja sendo por enquanto negociada.
Com agências internacionais
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