|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
análise
Esta corrida não é sobre a questão racial
MATT BAI
DO "NEW YORK TIMES"
Como muita coisa na campanha presidencial nos EUA,
a busca de um vice por Barack Obama ocorreu à sombra da questão racial. Antes
da decisão, uma série de pesquisas mostrou Obama e
John MCain quase empatados, e muitos democratas e
alguns jornalistas adotaram
um mantra: os brancos de
renda mais baixa resistem a
Obama por ele ser negro.
"O ponto fraco para ele são
os eleitores brancos, sobretudo os mais velhos", escreveu John Heilemann na
"New York". "Será que não é
um pouco possível que Obama seja contido pelo fato de
ser, sabe como é, negro?"
Todos os supostos favoritos a vice na chapa democrata, inclusive Joe Biden, o escolhido, eram vistos como alguém que faria a ponte entre
Obama e o eleitor branco cético. O raciocínio dos líderes
democratas era o de que
Obama precisava de um
companheiro que o validasse, um cara branco e pé-no-chão que atestasse, sobre o
presidenciável: "Esse cara é
tão americano quanto eu".
Assim que o nome de Biden foi anunciado, os comentaristas não tardaram a
dizer que ele não só agregava
experiência em política externa como apelo a homens
brancos de classe operária. O
discurso em que Biden aceitou a posição não economizou alusões a suas raízes católicas e irlandesas na Pensilvânia nem aos "bombeiros, policiais, professores e
operários com quem cresci".
Sem dúvida, Biden, senador conhecido por não ser
politicamente correto, causará forte impressão ao eleitorado branco operário. O
problema é que há vários
motivos para crer que a raça
de Obama não seja o obstáculo intransponível à sua
candidatura que muitos analistas parecem achar que é.
A tese de que é a cor que
impede o avanço de Obama
depende de uma premissa
simplista. Seus proponentes
argumentam que o democrata deveria ter uma vantagem
de dois dígitos a esta altura
da campanha e que o fato de
isso não estar acontecendo
só pode ser explicado pelo
racismo latente dos eleitores
mais velhos.
Afinal, o presidente republicano é profundamente
impopular, e até o mais burro dos eleitores deveria ver
que Obama é um candidato
melhor que McCain.
Meio a meio
Mas essas suposições não
procedem. Embora seja possível que a raça de Obama lhe
custe alguns eleitores, é também verdade que o eleitorado que votou nas duas últimas eleições se dividiu quase
igualmente entre os dois partidos majoritários. Seria desafiar as leis da política afirmar que os republicanos moderados e os conservadores
independentes deveriam rejeitar McCain (candidato
que muitos deles preferiam
em 2000) apenas porque não
gostam de George W. Bush.
Em segundo lugar, Obama
enfrenta obstáculos genuínos mais salientes que sua
cor. Sob qualquer critério,
ele exibe experiência modesta em cargos eletivos e quase
nenhuma em política externa. E representa não só um
marco racial na vida norte-americana como um salto de
geração. Há motivos legítimos para que alguns eleitores brancos mais velhos demorem a decidir votar nele.
Seria ingênuo sugerir que
a raça não afetará a eleição.
Mas o risco para os democratas é que suas profecias sombrias de preconceito acabem
sendo auto-realizáveis.
Desde 2000, muitos progressistas têm exibido desprezo pelo eleitor branco
menos escolarizado que vota
"contra seus interesses econômicos". Mas o certo é que
caricaturar uma dada fatia
do eleitorado deve torná-la
ainda menos inclinada a votar nos democratas. E essa
conversa toda sobre racismo
dificilmente ajudará.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Americanas Índice
|