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Corte acusa Uribe de armar complô
Presidente do tribunal diz que há "estranha aliança" entre Bogotá e paramilitares; presidente retruca
Reportagem sobre reuniões de secretários de Uribe com enviados dos "paras", que levavam gravações contra juízes, detonou nova crise
DA REDAÇÃO
O presidente da Colômbia,
Álvaro Uribe, e o presidente da
Corte Suprema de Justiça,
Francisco Ricaurte Gómez,
voltaram a trocar duras acusações ontem sobre supostos vínculos do governo e da Justiça
com chefes paramilitares, envolvidos com grupos de extermínio e tráfico de drogas.
O ressurgimento da crise entre Uribe e o principal tribunal
da Colômbia foi provocado por
uma reportagem da influente
revista "Semana", que revelou
que o secretário jurídico da
Presidência, Edmundo del Castrillo, e o de Imprensa, César
Velázquez, receberam, na sede
de governo, emissários do ex-chefe paramilitar Diego Murillo, o Don Berna.
Os enviados de Don Berna,
um dos ex-chefes das AUC (Autodefesas Unidas da Colômbia)
-poderosa coalizão paramilitar que em 2005 concordou
formalmente em deixar as armas-, entregaram ao governo
gravações clandestinas que
provariam que os juízes da Corte conspiravam contra Uribe.
O tribunal investiga laços entre cerca de 60 parlamentares,
a maioria da base governista, e
paramilitares, no chamado escândalo da "parapolítica". O
presidente já havia acusado a
Justiça de coagir testemunhas
a mencioná-lo nos processos.
Ontem, o presidente da Corte Suprema reagiu à reportagem. Disse haver "uma estranha aliança" entre setores do
governo e paramilitares e devolveu a Uribe a acusação de
"complô": "Aqui há algo próximo, uma convivência com criminosos para fazer montagens
contra a Corte".
Honra e extradição
Irritado, Uribe convocou entrevista coletiva na qual justificou os encontros com os emissários de Don Berna -um deles, integrante de uma quadrilha em atividade, foi assassinado no mês passado. "Tínhamos
de escutá-los, porque aqui houve tráfico de testemunhas, que
é grave." E continuou: "Tentaram enlamear o presidente, e o
presidente tem direito de defender sua honra". Acusou ainda os juízes de "embebedarem-se" com testemunhas.
"Vão falar de aliança? Que tal
o presidente dizer que o obstáculo da Corte à extradição era
uma aliança com paramilitares?", lançou Uribe, que atacou
um jornalista da "Semana".
Em maio, o governo colombiano extraditou aos EUA 14
ex-chefes paramilitares, entre
eles Don Berna, para cumprir
penas por narcotráfico, entre
outros crimes. À época, integrantes da Corte e ONGs criticaram a decisão dizendo que
ela dificultava a investigação da
"parapolítica" e de crimes contra a humanidade.
O argentino Luis Moreno
Ocampo, procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI),
está na Colômbia nesta semana
também para avaliar o impacto
das extradições. Ontem, Ricaurte disse que recorreria ao
TPI contra Uribe.
Com agências internacionais
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