São Paulo, segunda-feira, 26 de setembro de 2011

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Igreja em Havana vive de "truques e subterfúgios"

DE BRASÍLIA

A Igreja Católica em Cuba adotou resistência "pacífica e discreta", tendo que recorrer a "pequenos truques e subterfúgios" no trato com a ditadura de Fidel Castro, confidenciou o arcebispo de Havana, Jaime Ortega, ao então chanceler brasileiro, Luiz Felipe Lampreia.
Ortega disse a Lampreia que a "psicologia" de Fidel é semelhante à do ditador Francisco Franco (1892-1975) no sentido de que, pressionado, não se mexia.
Dois telegramas confidenciais do Itamaraty obtidos pela Folha registram diálogos diplomáticos que Lampreia teve durante visita à ilha em maio de 1998.
Ele fez contatos com o arcebispo Jaime Ortega e com o ativista de direitos humanos Elizardo Sanchéz, dissidente cubano preso em diversas ocasiões pelo regime.

APOIO
Sánchez afirmou a Lampreia que vinha "dialogando constantemente com os governos da União Europeia, inclusive por meio de suas embaixadas em Havana", e pediu a mesmo atenção diplomática do Brasil.
O chanceler Lampreia disse na ocasião que concordava com o pedido do ativista, segundo revelam os telegramas diplomáticos.
O então ministro das Relações Exteriores do Brasil também se encontrou com Ricardo Alarcon, um alto dirigente do regime de Fidel Castro.
Lampreia saiu pessimamente impressionado da conversa, que lhe relevou "de forma clara, as visões reducionistas, as intransigências e o dogmatismo cerrado que animam a alta cúpula em Cuba", escreveu.

CARTA
Dias depois, o embaixador de Cuba em Brasília, Ramón Sánchez Parodi, entregou a Lampreia uma carta do chanceler cubano Roberto Robaina, que repeliu uma frase pública do brasileiro sobre direitos humanos em Cuba.
A conversa com o embaixador foi tensa.
"Reafirmei que certos aspectos de minha visita a Havana, apesar de haverem sido uma decepção para o presidente Fernando Henrique Cardoso e para mim, em nada afetariam a disposição brasileira de manter relações amistosas com Cuba", escreveu Lampreia.
O chanceler fez ainda uma dura constatação a respeito do teor da carta de Robaina: "[Como as] cinco páginas concentram-se na ideia de que a singularidade da experiência cubana deslegitimam as pressões internacionais em prol da democracia e dos direitos humanos naquele país, prefiro deixar passar algum tempo antes de dar sequência a um 'diálogo' que, nesse campo, não parece viável." (RV E FO)


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