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Candidaturas de Menem, Kirchner e Rodríguez Saá põem em xeque espólio político do general Juan Perón
Disputa desfigura movimento peronista
DO ENVIADO A BUENOS AIRES
As caixas de som multiplicam
uma voz que parece saída de um
gramofone ao cantar a "Marcha
Peronista", hino oficial do peronismo ou, mais que isso, uma ode
ao general Juan Domingo Perón,
criador do movimento que dominou a política argentina no último
meio século.
"Por ese gran argentino/que se
supo conquistar/a la gran masa
del pueblo/combatiendo el capital", diz a estrofe.
Combatendo o capital? Só mesmo num hipotético gramofone. O
fragmentado peronismo de hoje
tem pouco parentesco com o que
foi o movimento populista mais
forte da América Latina.
O que mais se aproxima do modelo "combatendo o capital" é
Néstor Kirchner, que governou a
remota Província de Santa Cruz
durante 12 anos consecutivos.
Costuma dizer que não será
"um gerente do establishment" e
que subordinará "o poder econômico ao poder político".
Além disso, sua proposta para a
renegociação da dívida externa,
que o governo parou de pagar há
um ano e meio, prevê um desconto grande e um prazo muito longo, 50 anos, para o pagamento.
Não é exatamente o candidato
preferido dos mercados, mas
tampouco é tido como revolucionário.
No outro extremo fica Carlos
Saúl Menem, que se elegeu, em
1989, prometendo um "salariazo"
e entregou uma revolução liberal
que nada tinha a ver com as tradições peronistas.
Mesmo os meios de comunicação que o apóiam dizem que é o
candidato dos mercados (ao lado
de López Murphy).
No meio de ambos, o também
ex-governador (e ex-presidente
por uma semana) Adolfo Rodríguez Saá, que tem em comum
com Menem as suspeitas de corrupção, no longo reinado de 20
anos na Província de San Luis.
"Rodríguez Saá parece saído de
um manual do peronista típico",
brinca o analista Oscar Raúl Cardoso, pelo discurso populista.
Foi ele quem decretou a moratória da dívida externa argentina,
o maior calote da história. Combatendo então o capital? Não,
apenas não havia um centavo para pagar a dívida.
É possível que a fragmentação
do peronismo em três candidaturas que criticam umas às outras
tanto ou mais do que criticam os
demais adversários possa ser remendada depois da eleição, se um
deles ganhar.
Mas é também possível que o
movimento que ganhou seis das
oito eleições realizadas desde sua
criação (quando, obviamente,
não estava proscrito) sofra o mesmo penoso destino de sua mais
tradicional adversária, a UCR
(União Cívica Radical).
(CLÓVIS ROSSI)
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