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"Política não é razão,
é sentimento", diz o
candidato favorito
ENVIADO ESPECIAL A ASSUNÇÃO
"A política não é racional, a política é sentimento". Com essa frase, Nicanor Duarte Frutos explica
sua estratégia de campanha, baseada no apelo emocional. Ex-radialista e ex-professor de comunicação, Duarte, 56, tem na linguagem simples usada em seus discursos um dos trunfos para tentar
vencer a eleição presidencial de
hoje e manter a hegemonia do seu
Partido Colorado, há 56 anos no
poder ininterruptamente.
"O coloradismo é seguido pelas
pessoas como uma religião", afirma Duarte, apontado pelas pesquisas como franco favorito. "Se
este [aponta para uma garrafa
plástica de água] fosse o candidato colorado, seria eleito".
Quando questionado se as acusações de corrupção generalizada
contra o governo do atual presidente, Luis González Macchi, do
qual foi ministro da Educação até
2001, não prejudicam sua campanha, ele afirma que a maioria das
pessoas está preocupada com o
desemprego. "O que o povo quer
é comer, beber e fazer amor", diz
em guarani, num ditado popular.
Ainda assim, ele faz questão de
se diferenciar da figura de González Macchi, a quem não apoiou
durante o processo de impeachment, por corrupção, rejeitado
em fevereiro pelo Senado: "Não
me interessa falar desse governo".
Confrontado com outro tema
sensível, o destino do ex-general
Lino Oviedo, condenado por uma
tentativa de golpe em 1996 e acusado de mandante no assassinato
do vice-presidente Luis María Argaña, em 1999, e atualmente exilado no Brasil, Duarte opta pelo silêncio. "Esse tema não existe."
Duarte Frutos falou à Folha em
sua casa, num bairro de classe
média alta de Assunção.
(RW)
Folha - O fato de o Partido Colorado estar no poder há tanto tempo
não é um problema?
Nicanor Duarte Frutos - O problema é da oposição, que não pode nos vencer porque não tem
imaginação, não tem vínculos
com os setores populares.
Folha - Mas o partido, ao se confundir praticamente com o Estado,
não gera uma situação que facilita
o clientelismo e a corrupção?
Duarte - A corrupção não é uma
questão de partido, é uma questão
cultural. Desde a queda do general [Alfredo] Stroessner [ditador
entre 1954 e 1989], quando acabou
o monopólio de poder que havia,
a corrupção se multiplicou. Nós
tivemos nos últimos dez anos
uma hegemonia da oposição no
Parlamento, e nesse período o
Congresso se deteriorou visivelmente. A corrupção não se erradica com caras novas ou trocando
um partido por outro, mas instalando uma consciência ética em
todos os setores da sociedade, facilitando os mecanismos de controle. A impunidade é mais grave
que a corrupção em si.
Folha - Houve impunidade no
atual governo?
Duarte - Houve uma grande debilidade institucional. Mas eu
penso no futuro do Paraguai, em
como vamos reativar a economia,
recuperar a confiança internacional, negociar os vencimentos de
nossa dívida externa. Prefiro falar
de nosso projeto, nosso estilo, de
nossa geração.
Folha - Quais serão as diferenças
entre o seu governo e o atual?
Duarte - Tenho gestão pública
comprovada. Não sou parte da
oligarquia familiar nem econômica do Paraguai, venho do campo.
Fui ministro duas vezes, nunca estive envolvido em escândalo. Ganhei a presidência de meu partido
por isso. As pessoas que trabalharão comigo devem ser homens e
mulheres com vocação, sensibilidade e, sobretudo, honestidade.
Folha - As divisões no Partido Colorado não tornarão sua relação
com o Congresso mais difícil?
Duarte - Na democracia, as relações entre os Poderes são sempre
delicadas. Mas tenho fé em que,
com ações claras e projetos de
conteúdo social, seremos seguidos pela maioria do Congresso.
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