|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Quarta Frota atiça retórica esquerdista
Reativação da esquadra dos EUA para América Latina provoca desconfiança e estimula aumento de gastos militares
Compras prévias incluem caças e submarinos por Caracas e aviões da Embraer por Quito e Santiago; região pode abrigar ações pontuais
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Duas semanas depois de ter
sido recriada, a Quarta Frota
americana ainda é uma esquadra de papel, mas continua poderosa na retórica dos líderes
esquerdistas da América Latina, sua região de operação.
O venezuelano Hugo Chávez, em visita à Rússia na semana passada, disse que os navios dos EUA não seriam bem-vindos em seu país, ao contrário de uma frota russa, que seria recebida "calorosamente".
Um erro de tradução sugeriu
que Chávez tinha oferecido
uma base naval aos russos, mas
ele não chegou a tanto. Seria
uma provocação exagerada, e
nem haveria interesse ou capacidade russa de operar na região agora. Em compensação,
suas prováveis compras de
mais material bélico poderão
alterar o balanço de forças na
região em um futuro próximo.
Quando necessário, o Comando Sul das Forças Armadas dos EUA sempre teve navios à disposição, retirados de
outras esquadras, para exercícios com os países da região ou
intervenções armadas.
Recriada após quase 60
anos, a Quarta Frota consiste
apenas em um quartel-general
com cerca de 120 militares, localizado na Flórida. Criá-la sob
esse nome foi uma óbvia medida administrativa, pois outras
regiões do planeta têm esquadras americanas numeradas (e
com real poder de combate).
Mas foi um equívoco diplomático, pois serviu como pretexto para os líderes de esquerda reclamarem da intervenção
"imperialista" local. "Seus fins
intervencionistas, não é preciso demonstrá-los", disse o aposentado ditador Fidel Castro.
Chávez -quarto em gastos
de Defesa na região, atrás de
Brasil, Colômbia e Chile-
aproveitou a recriação do comando para justificar suas
compras que tem feito de armamentos, sobretudo submarinos e caças russos, além de
um sistema de defesa aérea.
Teatro regional
Deixando de lado mísseis e
armas nucleares, a lista de
compras é justamente o arsenal possível a um país do porte
da Venezuela para tentar se
defender de um eventual ataque americano. Caças podem
ser varridos dos ares rapidamente, mas submarinos podem causar problemas mesmo
a esquadras sofisticadas.
Para os militares de outros
países, como o Brasil, essa injeção de material novo em um
país tenderia a quebrar o equilíbrio regional. A Venezuela
comprou 24 modernos caças
Sukhoi Su-30; se, como se especula agora, for comprar outros 24, terá a Força Aérea
mais bem equipada da região.
O avião de caça é um bom
parâmetro do potencial de um
país para guerra convencional,
pois concentra tecnologia e
poder de fogo, além de rápida
capacidade de intervenção.
Um conflito convencional
na América Latina seria de
curta duração, por conta de
pressões internacionais, custo
econômico e precariedade de
muitas forças armadas.
Um bom exemplo foi a Guerra de Cenepa entre Peru e
Equador, em janeiro e fevereiro de 1995, que envolveu pequeno número de tropas e de
aviação. O ataque aéreo colombiano às Farc (Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia)
no Equador foi outro exemplo
de operação militar pontual
que pode ocorrer no futuro.
Os militares da região têm
de lutar com o que está na mão,
sem tempo para mobilizações
prolongadas ou compras.
A Embraer está modernizando com tecnologia israelense os velhos caças americanos F-5 Tiger. O Brasil opera a
versão F-5E monoposto e a
versão biposto F-5F para treinamento. Seis destes caças F-5EM foram este mês aos EUA
participar de um famoso exercício de combate aéreo, a operação"Red Flag" da Força Aérea dos EUA, na Base Aérea
Nellis, perto de Las Vegas.
Texto Anterior: Fim do giro: Obama encerra tour com visita a premiê britânico Próximo Texto: Cuba: Raúl Castro fala aos cubanos em data simbólica Índice
|