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SUCESSÃO NOS EUA / FOGO AMIGO
Clinton ainda mina candidatura de Obama
Antes do discurso da mulher na convenção democrata, ex-presidente insiste em que Hillary seria uma aposta mais viável
Ex-candidata foi escalada para mostrar que partido
"curou" feridas internas
após campanha agressiva durante fase de primárias
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A DENVER
Enquanto os oradores esquentavam a platéia nas horas
que antecediam o discurso de
Hillary Clinton, que estava previsto para acontecer a partir
das 20h30 locais de ontem
(23h30 de Brasília), um delegado solitário de Iowa erguia um
cartaz com os dizeres: "Sem
drama: vote em Obama". Em
vão, aparentemente: o segundo
dia da Convenção Nacional Democrata foi pródigo em drama.
A começar por Bill Clinton.
No momento em que o comando da campanha se reunia em
torno de Hillary em busca de
um discurso que unisse o partido, o ex-presidente fugia do
script e voltava a criticar indiretamente Barack Obama.
Em evento durante o dia na
cidade, fez uma questão hipotética que sugeria que o Partido
Democrata havia errado ao escolher o senador, e não a mulher do ex-presidente, como o
candidato. "Suponha que você
é um eleitor e tem o candidato
X e o candidato Y. O candidato
X concorda com você em tudo,
mas você não acredita que ele
será bem-sucedido. Já o candidato Y concorda com você em
metade das questões, mas pode
ser bem-sucedido. Em qual deles você votará?", indagou.
E respondeu: "É tão difícil saber como transformar boas intenções em mudanças reais na
vida das pessoas que você representa". Após uma pausa, o
político esclareceu: "Isso [que
ele falava] não tem nada a ver
com o que está acontecendo
agora" -a convenção.
X, obviamente, é Obama; Y é
a mulher de Bill, Hillary Clinton. De caso pensado ou sem
calcular o peso de suas palavras, o ex-presidente deu mais
um exemplo da dificuldade que
o partido enfrenta para se unir
em torno da candidatura de
Obama, que venceu a ex-primeira-dama nas primárias com
uma pequena margem.
Segundo pesquisa da CNN
divulgada na segunda, 27% dos
eleitores de Hillary dizem que
votarão em John McCain; é um
salto em relação à pesquisa anterior, feita no final de junho,
quando apenas 16% dos clintonistas ouvidos diziam que votariam no oponente. O partido
esperava o oposto: que, com o
tempo e a consolidação do nome de Obama como candidato
democrata, os descontentes se
conformassem.
Não foi o que aconteceu. Daí
a esperança depositada no discurso que Hillary faria ontem à
noite. A expectativa era a de
que ela daria um apoio inequívoco à candidatura de Obama.
Seria antecedida por um vídeo
em sua homenagem narrado
pela filha, Chelsea. Bill estaria
na platéia, mas ainda não estava claro se subiria ao palco ao final. O ex-presidente discursa
hoje na convenção.
Tão logo o que ele disse veio a
público, um assessor do ex-presidente disparou um e-mail
com panos quentes: "O presidente Clinton entende que essa
convenção é do senador Obama
e está aqui para fazer tudo o que
puder para fazer dele nosso
próximo presidente". Foi ecoada pelo consultor político Paul
Begala, amigo de longa data do
casal: "Bill é 100% Obama".
Nas horas seguintes, no entanto, outros pequenos sinais
indicavam o contrário. Assessores de Bill Clinton diziam
que ele não estava feliz com o
tema que lhe foi destinado no
discurso de hoje, segurança nacional; preferia falar de economia, pois poderia citar seus
anos na Casa Branca, quando o
país crescia em ritmo recorde.
Além disso, pessoas ligadas
ao casal diziam que suas equipes não planejavam ficar na cidade até amanhã, quando Obama fará o discurso em que aceitará oficialmente a indicação
do partido. Em texto publicado
na revista "New Republic", Howard Wolfson, ex-diretor de
comunicações da campanha de
Hillary, escreveu que o ex-presidente "acha que a campanha
de Obama diminuiu sistematicamente os acertos de sua administração" e que acredita que
foi "pintado injustamente como racista".
Críticas a McCain
Enquanto isso, depois da
avaliação do comando da campanha de que o primeiro dia havia sido brando demais em relação a McCain e ao governo de
George W. Bush, os oradores
que falaram até a conclusão
desta edição elevaram o tom
das críticas. Do governador de
Nova York, David Paterson, ao
congressista Dennis Kucinich,
todos seguiram a orientação.
Aos gritos de "Acorde, América", Kucinich, ex-pré-candidato à Presidência disse que o
país não agüentaria mais quatro anos de republicanos.
"Eles podem colocar escutas
em nossos telefones, mas não
podem limitar nossa criatividade. Eles podem abrir nossa correspondência, mas não conseguem abrir oportunidades econômicas. Acorde, América."
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