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ISRAEL
Ehud Olmert, prefeito de Jerusalém, que chega hoje a SP, diz que palestinos podem viver "facilmente" sem presença política na cidade
"Jerusalém seguirá indivisível", diz prefeito
MARCELO STAROBINAS
DA REDAÇÃO
"Jerusalém sempre vai permanecer a capital unida e indivisível
de Israel." Tradicional slogan da
direita nacionalista de Israel, essa
frase parecia fazer parte do passado há dois anos. O processo de
paz entre Israel e a Autoridade
Nacional Palestina levava muitos
a acreditar numa solução para o
conflito. Os dois povos conviveriam sem violência, compartilhando a "cidade da paz" como a
capital de dois Estados.
Agora, a violência de quase dois
anos da Intifada (levante palestino contra a ocupação israelense)
ressuscitou o slogan. Proferido
pelo prefeito de Jerusalém, Ehud
Olmert, 56, em entrevista à Folha
por telefone, sintetiza a corrente
de pensamento mais popular hoje
em Israel.
Cansados com a sucessão de
atentados suicidas, os israelenses
mostram desilusão com as iniciativas de paz do passado. E se negam a recompensar a violência
palestina com concessões políticas ou territoriais em Jerusalém.
Membro do Likud, partido do
primeiro-ministro Ariel Sharon,
Olmert retrata na entrevista a seguir essa descrença das autoridades de seu país numa solução negociada para o conflito no curto
prazo ou no médio.
Prefeito de Jerusalém desde novembro de 1993, Olmert chega
hoje a São Paulo, vindo da Argentina, numa visita em que terá encontros com a comunidade judaica e, possivelmente, com a prefeita Marta Suplicy.
Folha - O sr. acredita numa solução política para o atual conflito
entre palestinos e israelenses?
Olmert - Não estou muito esperançoso quanto a isso. A situação
está muito dura agora. Não vejo
nenhuma chance de isso acontecer antes de [o presidente da Autoridade Nacional Palestina" Iasser Arafat ser removido. Enquanto ele estiver lá, não vejo muitas
chances para uma rápida mudança no padrão das coisas.
Folha - E o sr. acredita que a segurança do Estado de Israel pode ser
melhorada sem uma solução política para a crise?
Olmert - Melhorada, sim. Resolvida completamente, não.
Folha - O ex-premiê Ehud Barak
ofereceu a Arafat, na cúpula de
Camp David [julho de 2000, nos
EUA", o que muitos dizem ter sido a
mais generosa oferta já feita por Israel aos palestinos sobre o futuro
de Jerusalém. O sr. pensa que, após
a Intifada, Israel voltará a oferecer
um acordo naqueles termos?
Olmert - Não. Eles não deviam
nem ter oferecido aquilo em
Camp David, isso foi um trágico
equívoco. É precisamente por isso
que Ehud Barak não é mais o primeiro-ministro. E acho que essa é
uma lição que todo premiê de Israel vai cuidadosamente aprender.
Folha - Como, então, o sr. vê o futuro de Jerusalém num contexto de
um eventual acordo com os palestinos?
Olmert - Jerusalém sempre vai
permanecer a capital unida e indivisível de Israel.
Folha - O sr. acredita que os palestinos vão aceitar algum dia fazer
a paz com Israel sem nenhum tipo
de presença em Jerusalém?
Olmert - Eles têm uma presença.
Eles vivem em Jerusalém. São
uma minoria de provavelmente
um terço da população.
Mas Jerusalém nunca foi a capital dos palestinos nem de nenhuma nação árabe. E não há motivos
para que se torne agora. Os palestinos podem viver facilmente sem
ter Jerusalém como sua capital.
Folha - Isso é o que pensa o atual
governo do primeiro-ministro Ariel
Sharon, não é?
Olmert - Com certeza.
Folha - A polícia recentemente invadiu o escritório do professor Sari
Nusseibeh, representante palestino em Jerusalém Oriental, visto como uma voz moderada. Ações como essa não são contraproducentes para Israel?
Olmert - Acho que você usou a
palavra certa: ele é "visto" como
um moderado. É verdade que ele
é "visto" como moderado, mas
ele agiu em violação aos acordos
firmados entre Israel e os palestinos. É por isso que seu escritório
foi invadido.
Posteriormente, ele veio ao Ministério de Segurança Pública e
assinou um compromisso de
nunca mais violar a lei israelense.
O seu escritório, então, foi reaberto. O fato de ele ter assinado esse
documento é uma prova viva de
que, originalmente, a decisão de
invadir o escritório dele foi correta.
Folha - O que o sr. tem a dizer sobre a Orient House (sede não-oficial da Autoridade Nacional Palestina em Jerusalém Oriental, invadida por Israel em agosto de 2001)?
Ela continuará fechada?
Olmert - Esqueça a Orient House, ela já era, já acabou. Continuará fechada.
Folha - Qual a sua opinião sobre
esse recente ataque contra o líder
da brigada militar do Hamas em
Gaza, que resultou na morte de 14
pessoas além dele?
Olmert - Ninguém afirma que o
ataque foi feito com o objetivo de
matar civis. Foi realizado para
matar o maior terrorista dos palestinos, o comandante da brigada militar do Hamas.
Esse homem merecia a pena de
morte e recebeu a pena de morte.
E todos lamentamos que ele tenha
levado consigo pessoas inocentes
e familiares. Isso é algo absolutamente lamentável, sentimos muito que tenha acontecido.
Mas tínhamos de matar esse terrorista. Lamento que a informação que tínhamos não tenha indicado que havia civis dentro da casa.
Folha - Ao fazer ações como essa,
em que morrem civis, Israel não está produzindo novos terroristas
suicidas, ao gerar mais ódio entre
os palestinos?
Olmert - E, antes disso, já não havia terroristas suicidas? Não houve dois suicidas em Israel na semana passada, mesmo sem que
isso tivesse ainda ocorrido?
Folha - Como está a situação em
Jerusalém após a recente onda de
ataques suicidas? O que é preciso
fazer para melhorar a segurança?
Olmert - Estamos fazendo muitas coisas. Começamos a construir uma nova cerca, que vai rodear a cidade com muros. Isso fará a infiltração de terroristas da cidade muito difícil.
A situação em Jerusalém hoje é
relativamente boa, apesar do terrorismo. Há muita atividade,
muito desenvolvimento.
Folha - Quando estará pronto o
trecho desse muro no perímetro de
Jerusalém? Ele vai separar bairros
judeus e árabes da cidade?
Olmert - Provavelmente estará
pronto dentro de meio ano. Será
fora da cidade, não vai separar os
moradores de Jerusalém Oriental
e de Jerusalém Ocidental.
Folha - Até que ponto a economia
da cidade que o sr. dirige foi abalada até agora pela Intifada?
Olmert - Bem, tudo é relativo na
vida. Se você me pergunta se a
economia foi afetada, certamente
ela foi. Mas se questionar se a nossa economia está muito melhor
do que a da Argentina ou a do
Brasil, a resposta é provavelmente
sim. Temos uma situação muito
difícil porque o turismo é praticamente inexistente e a vida econômica está num ritmo mais lento.
Mas a economia israelense é muito forte e tenho esperanças de que
nos recuperemos em breve.
Folha - No Brasil, o sr. vai se reunir com autoridades do país?
Olmert - Provavelmente terei
um encontro com a prefeita de
São Paulo [Marta Suplicy". Trocaremos opiniões em geral sobre
como governar grandes cidades.
Tenho certeza de que ela tem
muito a me ensinar sobre isso.
Folha - Não o incomoda o fato de
a prefeita pertencer a um partido
[o PT" geralmente apontado como
simpático à causa palestina?
Olmert - Espero mudar a cabeça
dela.
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