São Paulo, domingo, 28 de julho de 2002

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ISRAEL

Ehud Olmert, prefeito de Jerusalém, que chega hoje a SP, diz que palestinos podem viver "facilmente" sem presença política na cidade

"Jerusalém seguirá indivisível", diz prefeito

MARCELO STAROBINAS
DA REDAÇÃO

"Jerusalém sempre vai permanecer a capital unida e indivisível de Israel." Tradicional slogan da direita nacionalista de Israel, essa frase parecia fazer parte do passado há dois anos. O processo de paz entre Israel e a Autoridade Nacional Palestina levava muitos a acreditar numa solução para o conflito. Os dois povos conviveriam sem violência, compartilhando a "cidade da paz" como a capital de dois Estados.
Agora, a violência de quase dois anos da Intifada (levante palestino contra a ocupação israelense) ressuscitou o slogan. Proferido pelo prefeito de Jerusalém, Ehud Olmert, 56, em entrevista à Folha por telefone, sintetiza a corrente de pensamento mais popular hoje em Israel.
Cansados com a sucessão de atentados suicidas, os israelenses mostram desilusão com as iniciativas de paz do passado. E se negam a recompensar a violência palestina com concessões políticas ou territoriais em Jerusalém.
Membro do Likud, partido do primeiro-ministro Ariel Sharon, Olmert retrata na entrevista a seguir essa descrença das autoridades de seu país numa solução negociada para o conflito no curto prazo ou no médio.
Prefeito de Jerusalém desde novembro de 1993, Olmert chega hoje a São Paulo, vindo da Argentina, numa visita em que terá encontros com a comunidade judaica e, possivelmente, com a prefeita Marta Suplicy.

Folha - O sr. acredita numa solução política para o atual conflito entre palestinos e israelenses?
Olmert -
Não estou muito esperançoso quanto a isso. A situação está muito dura agora. Não vejo nenhuma chance de isso acontecer antes de [o presidente da Autoridade Nacional Palestina" Iasser Arafat ser removido. Enquanto ele estiver lá, não vejo muitas chances para uma rápida mudança no padrão das coisas.

Folha - E o sr. acredita que a segurança do Estado de Israel pode ser melhorada sem uma solução política para a crise?
Olmert -
Melhorada, sim. Resolvida completamente, não.

Folha - O ex-premiê Ehud Barak ofereceu a Arafat, na cúpula de Camp David [julho de 2000, nos EUA", o que muitos dizem ter sido a mais generosa oferta já feita por Israel aos palestinos sobre o futuro de Jerusalém. O sr. pensa que, após a Intifada, Israel voltará a oferecer um acordo naqueles termos?
Olmert -
Não. Eles não deviam nem ter oferecido aquilo em Camp David, isso foi um trágico equívoco. É precisamente por isso que Ehud Barak não é mais o primeiro-ministro. E acho que essa é uma lição que todo premiê de Israel vai cuidadosamente aprender.

Folha - Como, então, o sr. vê o futuro de Jerusalém num contexto de um eventual acordo com os palestinos?
Olmert -
Jerusalém sempre vai permanecer a capital unida e indivisível de Israel.

Folha - O sr. acredita que os palestinos vão aceitar algum dia fazer a paz com Israel sem nenhum tipo de presença em Jerusalém?
Olmert -
Eles têm uma presença. Eles vivem em Jerusalém. São uma minoria de provavelmente um terço da população.
Mas Jerusalém nunca foi a capital dos palestinos nem de nenhuma nação árabe. E não há motivos para que se torne agora. Os palestinos podem viver facilmente sem ter Jerusalém como sua capital.

Folha - Isso é o que pensa o atual governo do primeiro-ministro Ariel Sharon, não é?
Olmert -
Com certeza.

Folha - A polícia recentemente invadiu o escritório do professor Sari Nusseibeh, representante palestino em Jerusalém Oriental, visto como uma voz moderada. Ações como essa não são contraproducentes para Israel?
Olmert -
Acho que você usou a palavra certa: ele é "visto" como um moderado. É verdade que ele é "visto" como moderado, mas ele agiu em violação aos acordos firmados entre Israel e os palestinos. É por isso que seu escritório foi invadido.
Posteriormente, ele veio ao Ministério de Segurança Pública e assinou um compromisso de nunca mais violar a lei israelense. O seu escritório, então, foi reaberto. O fato de ele ter assinado esse documento é uma prova viva de que, originalmente, a decisão de invadir o escritório dele foi correta.

Folha - O que o sr. tem a dizer sobre a Orient House (sede não-oficial da Autoridade Nacional Palestina em Jerusalém Oriental, invadida por Israel em agosto de 2001)? Ela continuará fechada?
Olmert -
Esqueça a Orient House, ela já era, já acabou. Continuará fechada.

Folha - Qual a sua opinião sobre esse recente ataque contra o líder da brigada militar do Hamas em Gaza, que resultou na morte de 14 pessoas além dele?
Olmert -
Ninguém afirma que o ataque foi feito com o objetivo de matar civis. Foi realizado para matar o maior terrorista dos palestinos, o comandante da brigada militar do Hamas.
Esse homem merecia a pena de morte e recebeu a pena de morte. E todos lamentamos que ele tenha levado consigo pessoas inocentes e familiares. Isso é algo absolutamente lamentável, sentimos muito que tenha acontecido.
Mas tínhamos de matar esse terrorista. Lamento que a informação que tínhamos não tenha indicado que havia civis dentro da casa.

Folha - Ao fazer ações como essa, em que morrem civis, Israel não está produzindo novos terroristas suicidas, ao gerar mais ódio entre os palestinos?
Olmert -
E, antes disso, já não havia terroristas suicidas? Não houve dois suicidas em Israel na semana passada, mesmo sem que isso tivesse ainda ocorrido?

Folha - Como está a situação em Jerusalém após a recente onda de ataques suicidas? O que é preciso fazer para melhorar a segurança?
Olmert -
Estamos fazendo muitas coisas. Começamos a construir uma nova cerca, que vai rodear a cidade com muros. Isso fará a infiltração de terroristas da cidade muito difícil.
A situação em Jerusalém hoje é relativamente boa, apesar do terrorismo. Há muita atividade, muito desenvolvimento.

Folha - Quando estará pronto o trecho desse muro no perímetro de Jerusalém? Ele vai separar bairros judeus e árabes da cidade?
Olmert -
Provavelmente estará pronto dentro de meio ano. Será fora da cidade, não vai separar os moradores de Jerusalém Oriental e de Jerusalém Ocidental.

Folha - Até que ponto a economia da cidade que o sr. dirige foi abalada até agora pela Intifada?
Olmert -
Bem, tudo é relativo na vida. Se você me pergunta se a economia foi afetada, certamente ela foi. Mas se questionar se a nossa economia está muito melhor do que a da Argentina ou a do Brasil, a resposta é provavelmente sim. Temos uma situação muito difícil porque o turismo é praticamente inexistente e a vida econômica está num ritmo mais lento. Mas a economia israelense é muito forte e tenho esperanças de que nos recuperemos em breve.

Folha - No Brasil, o sr. vai se reunir com autoridades do país?
Olmert -
Provavelmente terei um encontro com a prefeita de São Paulo [Marta Suplicy". Trocaremos opiniões em geral sobre como governar grandes cidades. Tenho certeza de que ela tem muito a me ensinar sobre isso.

Folha - Não o incomoda o fato de a prefeita pertencer a um partido [o PT" geralmente apontado como simpático à causa palestina?
Olmert -
Espero mudar a cabeça dela.


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