|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Preocupação de Ratzinger era maior por doutrina
Como arcebispo de Munique, papa
atuou mais contra dissidentes teológicos
Vaticanistas dizem que há poucas evidências de que o cardeal tenha investigado os 200 casos de "padres problemáticos" na diocese
DO "NEW YORK TIMES", EM MUNIQUE
Na época em que o papa Bento 16 era arcebispo de Munique
e Freising, ele foi descrito como
teólogo mais preocupado com
discussões doutrinais do que
com questões relativas a pessoal. É isso, dizem seus defensores, que ajuda a explicar porque ele não acompanhou de
perto o caso de um padre pedófilo enviado a sua arquidiocese
em 1980 e autorizado a trabalhar em uma paróquia.
Porém, em 1979, o ano antes
de o cardeal Joseph Ratzinger
aprovar a transferência do padre Peter Hullerman para Munique, ele bloqueou a indicação
de um professor de teologia para a universidade local. E, em
1981, ele puniu um padre por
celebrar uma missa em um protesto pacifista, levando-o a
abandonar o sacerdócio.
Os quatro anos e meio durante os quais Bento 16 foi arcebispo é um dos períodos menos
analisados de sua vida. Porém,
essa época na qual ele presidiu
sobre 1.713 padres e 2,2 milhões
de católicos foi um ensaio geral
para o cargo que ocupa atualmente, comandando os mais de
1 bilhão de fiéis no mundo todo.
Como arcebispo, Ratzinger
gastou mais energia perseguindo dissidentes teológicos que
predadores sexuais. Já no início dos anos 1980, era possível
ter um vislumbre de um futuro
papa preocupado em combater
movimentos de desvio em relação às tradições da igreja. Vaticanistas dizem que há poucas
evidências de que Bento 16 tenha passado muito tempo investigando mais de 200 casos
de "padres problemáticos" na
diocese, envolvidos em questões que incluíam abuso de álcool, adultério e pedofilia.
Andreas Englisch, vaticanista alemão autor de vários livros
sobre Bento 16, disse que Ratzinger "nunca se interessou por
questões burocráticas" e que,
quando ele primeiro foi chamado para ser arcebispo de Munique, cogitou recusar o cargo.
"Ele proferia sermões belos e
escrevia lindamente, mas deixava os detalhes a cargo de seus
subordinados", disse Hannes
Burger, que cobriu o período de
Bento 16 como arcebispo para o
jornal "Sueddeutsche Zeitung".
"Era um bispo acadêmico, tendo Roma como sua meta."
Não se sabe com que grau de
atenção ele pode ter acompanhado decisões sobre pessoal,
especialmente por contar com
um chefe administrativo, o vigário-geral Gerhard Gruber,
que ocupava seu posto desde
1968. Agora, suas decisões administrativas são o foco central
de atenção no escândalo envolvendo a igreja na Alemanha.
O reverendo Thomas P. Doyle, que trabalhou na embaixada
do Vaticano em Washington e
tornou-se um dos primeiros
clérigos a lançar o alarme sobre
os casos de abusos sexuais na
igreja, comentou: "Como dizem os advogados, ou você sabia ou deveria ter sabido. O arcebispo é a autoridade máxima
em sua diocese. A responsabilidade última é dele".
Tradução de CLARA ALLAIN
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Farc libertam primeiro refém prometido Índice
|