São Paulo, segunda-feira, 29 de março de 2010

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Preocupação de Ratzinger era maior por doutrina

Como arcebispo de Munique, papa atuou mais contra dissidentes teológicos

Vaticanistas dizem que há poucas evidências de que o cardeal tenha investigado os 200 casos de "padres problemáticos" na diocese

DO "NEW YORK TIMES", EM MUNIQUE

Na época em que o papa Bento 16 era arcebispo de Munique e Freising, ele foi descrito como teólogo mais preocupado com discussões doutrinais do que com questões relativas a pessoal. É isso, dizem seus defensores, que ajuda a explicar porque ele não acompanhou de perto o caso de um padre pedófilo enviado a sua arquidiocese em 1980 e autorizado a trabalhar em uma paróquia.
Porém, em 1979, o ano antes de o cardeal Joseph Ratzinger aprovar a transferência do padre Peter Hullerman para Munique, ele bloqueou a indicação de um professor de teologia para a universidade local. E, em 1981, ele puniu um padre por celebrar uma missa em um protesto pacifista, levando-o a abandonar o sacerdócio.
Os quatro anos e meio durante os quais Bento 16 foi arcebispo é um dos períodos menos analisados de sua vida. Porém, essa época na qual ele presidiu sobre 1.713 padres e 2,2 milhões de católicos foi um ensaio geral para o cargo que ocupa atualmente, comandando os mais de 1 bilhão de fiéis no mundo todo.
Como arcebispo, Ratzinger gastou mais energia perseguindo dissidentes teológicos que predadores sexuais. Já no início dos anos 1980, era possível ter um vislumbre de um futuro papa preocupado em combater movimentos de desvio em relação às tradições da igreja. Vaticanistas dizem que há poucas evidências de que Bento 16 tenha passado muito tempo investigando mais de 200 casos de "padres problemáticos" na diocese, envolvidos em questões que incluíam abuso de álcool, adultério e pedofilia.
Andreas Englisch, vaticanista alemão autor de vários livros sobre Bento 16, disse que Ratzinger "nunca se interessou por questões burocráticas" e que, quando ele primeiro foi chamado para ser arcebispo de Munique, cogitou recusar o cargo.
"Ele proferia sermões belos e escrevia lindamente, mas deixava os detalhes a cargo de seus subordinados", disse Hannes Burger, que cobriu o período de Bento 16 como arcebispo para o jornal "Sueddeutsche Zeitung". "Era um bispo acadêmico, tendo Roma como sua meta."
Não se sabe com que grau de atenção ele pode ter acompanhado decisões sobre pessoal, especialmente por contar com um chefe administrativo, o vigário-geral Gerhard Gruber, que ocupava seu posto desde 1968. Agora, suas decisões administrativas são o foco central de atenção no escândalo envolvendo a igreja na Alemanha.
O reverendo Thomas P. Doyle, que trabalhou na embaixada do Vaticano em Washington e tornou-se um dos primeiros clérigos a lançar o alarme sobre os casos de abusos sexuais na igreja, comentou: "Como dizem os advogados, ou você sabia ou deveria ter sabido. O arcebispo é a autoridade máxima em sua diocese. A responsabilidade última é dele".


Tradução de CLARA ALLAIN


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