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DIREITOS HUMANOS
Ex-militar Cavallo é acusado de tortura durante ditadura e será julgado em corte espanhola
México extradita argentino à Espanha
ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES
O ex-militar argentino Ricardo
Cavallo foi extraditado ontem para a Espanha. Será julgado por
violação aos direitos humanos
contra cidadãos espanhóis que viviam na Argentina durante o último governo militar (1976-1983).
Cavallo é ex-oficial da Esma (Escola Mecânica Armada), que foi
um campo de tortura da última
ditadura argentina.
O ex-militar foi detido pela Justiça mexicana em agosto de 2000.
Ele vivia no México com outro
nome para fugir dos diversos processos contra ele. É acusado por
prática de tortura e genocídio enquanto trabalhou na Esma, entre
novembro de 1979 e maio de 1980.
O pedido de extradição foi encaminhado ao governo mexicano
pelo juiz espanhol Baltazar Garzón, que julga casos de violação
aos direitos humanos contra cidadãos espanhóis durante os governos militares da América Latina e
ficou célebre ao pedir a extradição
do ex-ditador chileno Augusto Pinochet.
A autorização para a extradição
foi concedida pela Justiça mexicana, que tem um tratado bilateral
para esses casos com a Espanha, e
não teve interferência do governo
argentino, apesar das críticas de
setores ligados aos militares dentro do país. Esses segmentos alegam que a decisão "atenta contra
a soberania nacional". O governo
Kirchner, por sua vez, preferiu
não interferir e até deu sinais de
que irá facilitar novos pedidos. Só
da Espanha, são 98.
O julgamento do ex-militar é
visto como o primeiro passo para
que outros casos como o dele sejam analisados e punidos. Na Argentina, há centenas de outros pedidos de extradição que foram negados durante os últimos governos. O atual presidente, Néstor
Kirchner, já sinalizou que pretende facilitar o julgamento e a punição de militares que estiveram envolvidos com tortura.
O advogado de Cavallo, Manuel
Plata García, tentou adiar ao máximo a conclusão de sua extradição. Mas, ontem, informou que,
neste momento, "a extradição é a
melhor opção para que Cavallo
tenha direito a se defender".
Lembrança
Vítimas do ex-torturador foram
as responsáveis pela sua prisão no
México. Cavallo participava como
palestrante de um seminário,
quando ex-presos políticos argentinos que estavam ou viviam
no país o reconheceram.
"Nunca vou me esquecer da voz
dele durante as torturas", disse
um deles. Dois dos sobreviventes
das torturas de Cavallo são Ana
Testa e Victor Lordkipanise, testemunhas de acusação.
Em entrevista a uma agência de
notícias argentina, Testa disse
lembrar de todos os detalhes das
práticas de tortura utilizadas por
Cavallo. "Não posso esquecer essa
voz, me dá calafrios, e a reconheceria mesmo daqui a cem anos; isso me incomoda porque quero
apagar essas cenas da memória."
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