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CÁUCASO
Candidato apoiado pelo Kremlin lidera a disputa; temor de ataques põe a região, em guerra desde 1999, em alerta máximo
Tchetchênia escolhe presidente sob ameaça rebelde
SOPHIE SHIHAB
DO "LE MONDE"
Em agosto de 1999, ataques
tchetchenos contra o vizinho Daguestão serviram de pretexto à
"segunda" guerra da Tchetchênia, a do presidente russo, Vladimir Putin, com o objetivo de liqüidar em meses toda a resistência ao domínio russo sobre o norte do Cáucaso.
Cinco anos depois, numa
Tchetchênia exangue e oficialmente normalizada, as coisas não
parecem ter mudado muito: 100
mil soldados posicionados no
país "liqüidam" regularmente os
"últimos mil bandidos" que ainda
atacam as repúblicas vizinhas, em
apoio aos mujahidin locais.
No final de junho, cerca de 600
deles tomaram o controle da Inguchétia. Em 12 de julho, a grande
cidade tchetchena de Avtoury
passou 12 horas sob controle dos
combatentes rebeldes.
Em agosto, surgiram novos
alertas no Daguestão e em Kabardino-Balkarie, seguidos por uma
grande operação noturna em
Grozni, a capital tchetchena, supostamente inatingível pelas forças rebeldes.
O ataque, conduzido uma semana antes do novo simulacro de
eleição presidencial de hoje, era
um recado claro: é preciso levar a
sério as promessas rebeldes de lutar "até a vitória".
Segundo o diário russo "Izvestia", citando um telegrama cifrado do ministro do Interior às suas
unidades na região, os combatentes pela independência conseguiram "restabelecer completamente a coordenação de seus bandos
armados".
Enquanto isso, as forças russas
continuam "mal coordenadas" e
lutam de maneira medíocre porque seus homens "não querem
morrer" e não confiam nos "soldados complementares" tchetchenos com quem dividem as
trincheiras.
Para oficiais entrevistados pelo
jornal, as forças russas já perderam a "guerra psicológica", ou
"ideológica", enquanto a população, "por livre vontade ou à força,
apóia os rebeldes".
Na verdade, o conjunto da população tchetchena nem de longe
apóia os líderes rebeldes, quer seja
o radical Chamil Bassaev, ou o
moderado presidente Aslan Maskhadov. Mas, excetuados os clãs
pró-russos envolvidos na administração local, os tchetchenos em
geral apóiam a idéia da guerra,
chamada ali de "ghazzawhat":
contra o invasor.
Eleições
Cinco anos de guerra -sete, se
contada a "primeira" guerra
tchetchena, a do presidente Boris
Ieltsin (1991-99)- não serviram
para nada, a não ser provocar a
eleição e a reeleição de presidentes sem poder, ao custo de milhares de vítimas.
Na votação de hoje, o "favorito"
é Alu Alkhanov, egresso das fileiras da polícia e que sempre lutou
no lado russo na Tchetchênia
-ao contrário de seu predecessor, o ex-líder rebelde Akhmad
Kadyrov, assassinado em maio
num atentado a bomba.
Alkhanov concorre com outros
seis candidatos considerados
simbólicos, numa disputa questionada. "Todas as eleições até hoje na Tchetchênia foram ilegítimas", disse Sergei Kovalyov, ativista de direitos humanos russo.
"Como se pode expressar o direito ao voto quando todas as ruas
estão bloqueadas e a movimentação é restrita?"
Apontada pelo Kremlin como
um passo na restauração da ordem, a votação acontece sob
ameaça de ataques -temor reforçado após a queda, na última
terça-feira, de dois aviões, supostamente derrubados por rebeldes.
Para garantir a segurança na região, cerca de 17 mil militares e
policiais foram colocados em
alerta máximo, com ordens para
atirar contra pessoas mascaradas.
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