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Indiferente a críticas, Mugabe toma posse
Dois dias após segundo turno, no qual obteve 85% dos votos, ditador do Zimbábue presta juramento para seu sexto mandato
Celeridade de divulgação dos resultados contrastou com a da primeira votação, na qual anúncio de vitória da oposição levou semanas
Efe
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Mugabe, com a faixa no peito, ao fundo, e no quadro na mão de soldado, durante a cerimônia de posse
DA REDAÇÃO
O ditador do Zimbábue, Robert Mugabe, 84, prestou juramento como presidente ontem
pela sexta vez, horas depois de
ter sido declarado o vencedor
absoluto de um segundo turno
marcado por violenta repressão à oposição.
Segundo a comissão eleitoral
nacional, Mugabe venceu com
85,51% dos votos. No primeiro
turno, realizado em março, ele
obteve 43,2 % contra 47,9% do
candidato da oposição, Morgan
Tsvangirai -a primeira derrota
oficial de Mugabe, no poder
desde 1980.
Os resultados oficiais da primeira votação demoraram semanas para serem divulgados,
contra 48 horas do segundo
turno, que nem deveria ter
acontecido, já que Tsvangirai
havia retirado sua candidatura.
O líder do opositor MDC
(Movimento pela Mudança Democrática) abandonou a disputa, após contabilizar ao menos
86 afiliados e simpatizantes
mortos desde 29 de março.
Tsvangirai também foi detido
consecutivas vezes nos últimos
meses, acusado de fazer comícios sem autorização e teve de
se refugiar na Embaixada da
Holanda. O secretário-geral do
MDC, Tendai Biti, poderá ser
condenado à morte, já que é
acusado de traição ao Estado.
A legitimidade dos próximos
cinco anos do novo governo de
Mugabe é questionada por países da África e lideranças mundiais. Os Estados Unidos pediram uma reação internacional
e anunciaram mais sanções políticas e econômicas, depois
que a missão de observadores
da Comunidade Sul-Africana
de Desenvolvimento (SADC)
afirmou ontem que a votação
"não refletiu a vontade do povo
do Zimbábue".
Um dos poucos grupos de
monitores internacionais presentes ao pleito, o Parlamento
Pan-Africano também declarou que a votação não foi idônea e pediu outra disputa. "Devem ser criadas condições para
que sejam feitas novas eleições
justas, o mais rápido possível,
em linha com a declaração democrática da União Africana",
disse o chefe da equipe de observadores, Marwick Khumalo.
Aceno à oposição
Para tentar aplacar os ânimos, Mugabe prometeu negociar com a oposição. Após jurar
respeitar a Constituição do
país, com a mão esquerda em
cima da Bíblia, o ditador fez
breve discurso.
"Mais cedo ou mais tarde, como partidos políticos diversos,
devemos começar sérias negociações", afirmou. Tsvangirai
também disse acreditar que o
governista Zanu-PF esteja
pronto para dialogar. "Sem negociação com o MDC, isso [a
posse de Mugabe] é um beco
sem saída", disse à imprensa.
Ele se negou a comparecer à
posse, a convite de Mugabe.
O ditador partiu ainda ontem
para o Egito, onde tem início
hoje uma reunião de chefes de
Estado da União Africana (UA).
O vice-presidente do MDC,
Thokozani Khupe, que está no
Egito para a cúpula, havia pedido em entrevista, que a UA envie tropas pacificadoras e um
mediador para o Zimbábue, no
lugar dos esforços sul-africanos. A ONG Human Rights
Watch reforçou o pedido.
O presidente da África do Sul,
Thabo Mbeki, foi apontado como mediador para a crise do
Zimbábue pelo bloco regional,
mas sua abordagem diplomática tímida é alvo de críticas.
O Reino Unido também
exorta a UA a não reconhecer a
eleição de Mugabe. O premiê
do Quênia, Raila Odinga, se declarou ontem à favor de que a
UA interceda, mas o chefe de
segurança do bloco, Ramtane
Lamamra, negou a possibilidade de envio de missões.
Um dos cenários para romper o impasse estaria na possibilidade de o MDC aceitar participar de um governo de coalizão até a convocação de novas
eleições presidenciais. Mas nada indica que essa alternativa
esteja sendo negociada.
Os países africanos pressionam Mugabe para dialogar com
Tsvangirai e encerrar a crise no
Zimbábue, que tem feito milhões de refugiados buscarem
abrigos em nações vizinhas.
Com agências internacionais.
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