São Paulo, quarta-feira, 30 de julho de 2008

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Contra a corrente, Petrobras investe no Irã

Ao contrário de outras petrolíferas, estatal brasileira mantém planos no país, apesar de pressão dos EUA

SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL

Resistindo a pressões da Casa Branca, a Petrobras decidiu manter seus investimentos e planos no Irã, ao contrário de outras gigantes petrolíferas que congelaram recentemente sua atuação no país.
A estatal brasileira, cujo escritório em Teerã tem 12 funcionários e serve como base de operações para todo o Oriente Médio, arrematou licitação do governo iraniano em 2003 para a prospecção no bloco de Tusan, na embocadura do estreito de Hormuz, golfo Pérsico. No início deste ano, o contrato foi estendido até julho de 2009.
A empresa não só pretende honrar o compromisso com o Irã como também alimenta planos de multiplicar por 15 o investimento já feito no país -estimado em US$ 32 milhões- se novas reservas significativas forem encontradas.
Uma fonte iraniana disse que um outro contrato de prospecção no norte do país está em negociação. E a Petrobras não esconde o desejo de atuar também na produção.
As petrolíferas européias estão no caminho inverso -apesar de o Irã ser o quarto maior exportador mundial de petróleo e detentor das segundas maiores reservas de gás.
No mês passado, a francesa Total suspendeu seu maior projeto de investimentos no país. Em maio, a anglo-holandesa Shell e a espanhola Repsol engavetaram US$ 10 bilhões em contratos para a exploração de South Pars, a maior reserva de gás no mundo.
As empresas alegam que a suspensão dos investimentos no Irã não equivale a uma retirada do país, mas afirmam que o impasse sobre o programa nuclear de Teerã deixou um ambiente "muito arriscado" para manter grandes projetos na região -Israel chegou a ameaçar bombardear o Irã.
Para além da justificativa oficial, a decisão das petrolíferas é vista como resultado da política de isolamento imposta por Washigton ao Irã, acusado pelos EUA de patrocinar o terrorismo e de desenvolver secretamente um arsenal nuclear.
Como forma de pressionar as petrolíferas européias, a Casa Branca vinha ameaçando recorrer ao dispositivo legal que permite restringir as atividades nos EUA de empresas estrangeiras que tenham investimentos superiores a US$ 20 milhões no país asiático.
A decisão brasileira de manter atividades petrolíferas no Irã causou estranhamento no governo americano. Fontes diplomáticas dos EUA disseram à reportagem que o Brasil está enviando a "mensagem errada" a Teerã, além de "minar" o esforço internacional para convencer o país a suspender seu programa nuclear.
O Brasil sustenta que as sanções ao Irã não proíbem atividades petrolíferas e mantém relações cordiais com Teerã -o chanceler Celso Amorim disse à Folha em fevereiro que o presidente Mahmoud Ahmadinejad seria "bem recebido" no Brasil. As divergências sobre o tema já haviam sido escancaradas em visita do presidente Lula aos EUA, em 2007.


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