São Paulo, quarta-feira, 30 de julho de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA/ LOBBY REPUBLICANO

McCain usa grupo "pró-democracia" para obter doações

Direção do Instituto Internacional Republicano dá a candidato acesso privilegiado a empresas e lobistas ligados ao partido

Dirigentes da entidade, que atua no exterior, hoje estão na campanha do senador; grupo organizou seminário político no Brasil em 2005

MIKE McINTIRE
DO "NEW YORK TIMES"

Enquanto o senador John McCain aguardava para falar no jantar anual de premiações do Instituto Republicano Internacional (IRI), grupo de promoção da democracia que ele lidera há 15 anos, lobistas e executivos de empresas dominavam o palco em um salão de bailes em Washington.
O primeiro a falar naquela noite em setembro de 2006 foi o vice-presidente do conselho de direção do instituto, Peter T. Madigan, arrecadador de fundos para a campanha de McCain e lobista com clientes de Dubai à Colômbia. Ele agradeceu a Timothy McKone, lobista da telefônica AT&T e arrecadador de fundos para McCain, e então apresentou o presidente da AT&T, Edward Whitacre Jr., que doara US$ 200 mil para o evento.
Na época, a AT&T buscava apoio político para uma fusão de US$ 80 bilhões com a BellSouth -outra cliente de Peter Madigan-, e Whitacre derramou-se em elogios a McCain, membro sênior do Comitê de Comércio do Senado.
O desfile de lobistas e levantadores de fundos no jantar é emblemático da liderança de McCain no instituto, um de dois grupos sem fins lucrativos criados nos anos Reagan para promover a democracia no exterior. Os dois são financiados pelos contribuintes, e cada um é aliado a um dos principais partidos políticos dos EUA.
[A Folha revelou, na semana passada, que em 2005 o IRI organizou um seminário no Brasil sobre a reforma política, na época em discussão no Congresso Nacional.] Ao longo dos anos, McCain vem alimentando sua reputação de crítico da influência dos interesses especiais sobre a política. Mas um exame de sua liderança no IRI revela uma organização que conflita com essa imagem de outsider.
A missão do IRI é condizente com o apoio declarado de McCain à exportação dos valores americanos. Mas o instituto também funciona como agregador de lobistas e republicanos fora do poder, oferecendo a grandes doadores uma maneira de ajudar tanto o partido quanto o próprio McCain.
Operando sem os limites impostos às doações de pessoas físicas a candidatos e partidos, o instituto, sob a égide de McCain, já solicitou milhões de dólares de 560 empresas que têm contratos com o governo.

Polêmicas
Sob a liderança de McCain no IRI, cerca de 14 lobistas já fizeram parte do conselho do instituto, alguns deles representando países em que o grupo atuava. Pelo menos sete integrantes do conselho de direção do IRI, que McCain preside, já estiveram envolvidos em sua campanha presidencial deste ano. McCain negou-se a ser entrevistado para esta reportagem. O porta-voz Brian Rogers disse que o senador "nunca pediu nem ofereceu-se para assumir uma posição sobre leis em troca de contribuições feitas ao IRI ou em função delas". Ele acrescentou que McCain "tem orgulho do trabalho do IRI".
Hoje com orçamento de cerca de US$ 78 milhões e 400 funcionários trabalhando em 70 países, o IRI cresceu em dimensões e estatura. Seu trabalho recente inclui a organização de debates de candidatos no Iraque e o treinamento de partidos políticos em Belarus.
Entretanto, embora o instituto diga que suas atividades são apartidárias e pacíficas, grupos de esquerda o acusam há anos de ingerência indevida em favor de uma agenda neoconservadora. Um ex-embaixador dos EUA no Haiti afirmou que agentes do instituto prejudicaram os esforços de reconciliação entre rivais políticos haitianos, contribuindo para o golpe de Estado de 2004.
Dois anos antes, o instituto foi criticado por ter elogiado a tentativa de golpe contra o presidente esquerdista venezuelano, Hugo Chávez. Os limites entre o instituto e as atividades políticas e de política externa de McCain vêm se confundindo. Madigan, o vice-presidente do conselho do IRI, representou o governo de El Salvador em 2004, quando a entidade monitorou as eleições nesse país. A firma de Madigan já representou seis governos estrangeiros e em alguns momentos fez lobby no gabinete de McCain no Senado.
Entre esses clientes figura o governo da Colômbia, que pagou à firma de Madigan US$ 590 mil nos últimos 18 meses.
Uma questão que Madigan vem defendendo -assim como McCain- é o acordo de livre-comércio com os EUA, que ainda está pendente de aprovação no Congresso americano.


Tradução de CLARA ALLAIN


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