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SUCESSÃO NOS EUA/ LOBBY REPUBLICANO
McCain usa grupo "pró-democracia" para obter doações
Direção do Instituto Internacional Republicano dá a candidato acesso privilegiado a empresas e lobistas ligados ao partido
Dirigentes da entidade, que atua no exterior, hoje estão na campanha do senador; grupo organizou seminário político no Brasil em 2005
MIKE McINTIRE
DO "NEW YORK TIMES"
Enquanto o senador John
McCain aguardava para falar
no jantar anual de premiações
do Instituto Republicano Internacional (IRI), grupo de
promoção da democracia que
ele lidera há 15 anos, lobistas e
executivos de empresas dominavam o palco em um salão de
bailes em Washington.
O primeiro a falar naquela
noite em setembro de 2006 foi
o vice-presidente do conselho
de direção do instituto, Peter T.
Madigan, arrecadador de fundos para a campanha de
McCain e lobista com clientes
de Dubai à Colômbia. Ele agradeceu a Timothy McKone, lobista da telefônica AT&T e arrecadador de fundos para
McCain, e então apresentou o
presidente da AT&T, Edward
Whitacre Jr., que doara US$
200 mil para o evento.
Na época, a AT&T buscava
apoio político para uma fusão
de US$ 80 bilhões com a BellSouth -outra cliente de Peter
Madigan-, e Whitacre derramou-se em elogios a McCain,
membro sênior do Comitê de
Comércio do Senado.
O desfile de lobistas e levantadores de fundos no jantar é
emblemático da liderança de
McCain no instituto, um de
dois grupos sem fins lucrativos
criados nos anos Reagan para
promover a democracia no exterior. Os dois são financiados
pelos contribuintes, e cada um
é aliado a um dos principais
partidos políticos dos EUA.
[A Folha revelou, na semana
passada, que em 2005 o IRI organizou um seminário no Brasil sobre a reforma política, na
época em discussão no Congresso Nacional.]
Ao longo dos anos, McCain
vem alimentando sua reputação de crítico da influência dos
interesses especiais sobre a política. Mas um exame de sua liderança no IRI revela uma organização que conflita com essa imagem de outsider.
A missão do IRI é condizente
com o apoio declarado de
McCain à exportação dos valores americanos. Mas o instituto
também funciona como agregador de lobistas e republicanos fora do poder, oferecendo a
grandes doadores uma maneira de ajudar tanto o partido
quanto o próprio McCain.
Operando sem os limites impostos às doações de pessoas físicas a candidatos e partidos, o
instituto, sob a égide de
McCain, já solicitou milhões de
dólares de 560 empresas que
têm contratos com o governo.
Polêmicas
Sob a liderança de McCain no
IRI, cerca de 14 lobistas já fizeram parte do conselho do instituto, alguns deles representando países em que o grupo atuava. Pelo menos sete integrantes
do conselho de direção do IRI,
que McCain preside, já estiveram envolvidos em sua campanha presidencial deste ano.
McCain negou-se a ser entrevistado para esta reportagem.
O porta-voz Brian Rogers disse
que o senador "nunca pediu
nem ofereceu-se para assumir
uma posição sobre leis em troca de contribuições feitas ao
IRI ou em função delas". Ele
acrescentou que McCain "tem
orgulho do trabalho do IRI".
Hoje com orçamento de cerca de US$ 78 milhões e 400 funcionários trabalhando em 70
países, o IRI cresceu em dimensões e estatura. Seu trabalho recente inclui a organização de debates de candidatos
no Iraque e o treinamento de
partidos políticos em Belarus.
Entretanto, embora o instituto diga que suas atividades
são apartidárias e pacíficas,
grupos de esquerda o acusam
há anos de ingerência indevida
em favor de uma agenda neoconservadora. Um ex-embaixador dos EUA no Haiti afirmou
que agentes do instituto prejudicaram os esforços de reconciliação entre rivais políticos haitianos, contribuindo para o golpe de Estado de 2004.
Dois anos antes, o instituto
foi criticado por ter elogiado a
tentativa de golpe contra o presidente esquerdista venezuelano, Hugo Chávez.
Os limites entre o instituto e
as atividades políticas e de política externa de McCain vêm se
confundindo. Madigan, o vice-presidente do conselho do IRI,
representou o governo de El
Salvador em 2004, quando a
entidade monitorou as eleições
nesse país. A firma de Madigan
já representou seis governos
estrangeiros e em alguns momentos fez lobby no gabinete
de McCain no Senado.
Entre esses clientes figura o
governo da Colômbia, que pagou à firma de Madigan US$
590 mil nos últimos 18 meses.
Uma questão que Madigan vem
defendendo -assim como
McCain- é o acordo de livre-comércio com os EUA, que ainda está pendente de aprovação
no Congresso americano.
Tradução de CLARA ALLAIN
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