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EUROPA
Manifestantes realizam "flash mobs" no metrô e danificam anúncios; indústria da propaganda reage com processos e mea-culpa
Franceses fazem campanha antipublicidade
LAURENCE GIRARD
DO ""LE MONDE"
Militantes antipublicidade que
denunciam a ""mercantilização da
cultura e dos espíritos" têm promovido "flash mobs" (manifestações organizadas pela internet)
no metrô parisiense para operações de rabiscar anúncios.
Em 17 de outubro, mais de 200
pessoas, incluindo estudantes,
professores, pesquisadores, militantes ou simples simpatizantes,
percorreram as linhas de metrô
com pincéis atômicos e latas de
tinta, cobrindo os cartazes publicitários expostos nas plataformas.
Calmos e organizados, os batalhões que partiram de diferentes
pontos de Paris seguiam orientações estritas, como a de não degradar o material e manter-se em
grupos, para o caso de uma intervenção policial. Seus slogans, entre eles ""a publicidade faz mal à
sua saúde", permaneceram visíveis por vários dias para os usuários do metrô.
No dia 7 deste mês a operação
foi repetida, desta vez com um
número maior de militantes.
A agência de publicidade Métrobus reagiu abrindo uma queixa, que cita também o provedor
Internet Ouvaton, escolhido pelos
militantes antipublicidade como
seu domicílio virtual, solicitando
os nomes dos internautas envolvidos. Um juiz deve pronunciar-se sobre a questão em dezembro.
""Não vou deixar de atacar aqueles que incitaram esta ação", afirmou o presidente da Métrobus,
Gérard Unger, que avaliou os prejuízos provocados pela ação em
quase 1 milhão, incluindo as indenizações e os custos de limpeza.
A operação surpreendeu por
sua amplitude e se insere numa
tendência que preocupa os publicitários. Há alguns anos já, várias
associações vêm combatendo a
publicidade. Elas seguem o exemplo da Resistência contra a Agressão Publicitária (RAP), por exemplo, ou do grupo Casseurs de Pub
(caçadores de anúncios).
Outros grupos, como o La Meute (a matilha), denunciam sistematicamente o sexismo contido
nos anúncios. O Paysages de
France (paisagens francesas), de
Grenoble, critica ""os cartazes e
slogans que não respeitam o ambiente", diz seu fundador, Pierre-Jean Delahousse.
Processado por difamação, em
2002, pela agência Défi, filial do
grupo Clear Channel Communication, o Paysages de France empreendeu um braço-de-ferro jurídico com ela. No episódio mais
recente do embate, em 5 de novembro, o tribunal de instância
superior de Dinan, em Côtes-d'Armor, se pronunciou a favor
da associação, que exige a retirada
dos outdoors instalados perto do
local conhecido como La Rance.
A agência apelou da decisão.
Mea-culpa
Os publicitários são sensíveis a
essas críticas e ao eco que elas têm
na opinião pública e nos jovens
recém-formados, menos inclinados a ingressar na profissão.
Eles deram uma resposta a seus
detratores na quarta-feira, na ocasião da Semana da Publicidade,
quando concederam o prêmio Effie 2003 de eficiência publicitária à
campanha antitabagista da agência BETC-Euro RSCG.
Em junho de 2002, uma mensagem foi difundida na imprensa e
na televisão: ""Traços de ácido cianídrico, mercúrio, acetona e amoníaco foram detectados num produto de consumo corriqueiro. Para mais informações, ligue 0800
404 404, ligação gratuita".
As pessoas correram ao telefone
-para descobrir que o produto
era nada mais, nada menos do
que o cigarro. O Instituto Nacional de Prevenção e Educação para
a Saúde (Inpes) contabilizou 1 milhão de telefonemas suscitados
pelo anúncio.
""É uma campanha interessante,
pois coloca em cena informações
que os consumidores não conheciam", destaca Rémi Babinet, diretor de criação da BETC Euro
RSCG e novo presidente do Clube
de Diretores Artísticos. Outras
campanhas premiadas também
tinham por objetivo, paradoxalmente, uma queda no consumo.
Também foi criado um serviço
telefônico para receber reclamações contra imagens vulgares e sexistas em propagandas em revistas, pôsteres e anúncios de TV.
A indústria da propaganda
francesa, que tradicionalmente
trabalha com a premissa de que
seios e nádegas vendem qualquer
coisa, também concordou com
um código mais rígido de conduta para manter "o respeito pela
dignidade das mulheres".
Com "The Independent"
Tradução de Clara Allain
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