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PRODUTOS RESPONSÁVEIS
Produto com função social ganha status de mercadoria sofisticada e conquista espaço nas prateleiras de lojas de decoração
Filantropia cede lugar a artigo "responsável"
SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA
O consumo de produtos feitos
por associações de portadores de
deficiência ou por comunidades
carentes deixou de ter caráter meramente filantrópico e virou também atrativo dos negócios. Itens
"socialmente responsáveis" estão
se tornando mercadoria sofisticada e atraem o público pelo que representam e também pela qualidade do trabalho dos artesãos.
Ou seja, saem de cena as lojas de
suvenires artesanais baratos e entram as lojas profissionais, nas
quais a mercadoria à venda conta
a história de uma comunidade.
"Percebi que havia muita coisa
legal sendo feita por comunidades, mas não havia prateleiras para vendê-las", diz Ricardo Pedroso, sócio da loja Projeto Terra, em
São Paulo, que só vende peças
"com história". O negócio deve se
expandir para outros Estados.
Ainda que haja mercado, continua sendo necessário oferecer
qualidade, beleza, funcionalidade
e bom acabamento nas peças.
"As pessoas não compram só
porque estão ajudando, é essencial que o produto tenha qualidade. Não existe mais o "comprar
por comprar'", diz Daniela Malavazzi, sócia da loja de artesanato
Empório. Nas suas prateleiras ela
expõe artigos de comunidades carentes de vários Estados. "Há uma
tendência de valorizar o trabalho
das comunidades", pondera.
Para o empresário Marcos Sancovsky, a venda de produtos artesanais que aliam um componente
social à estética se encaixa na proposta de sua loja no Instituto Tomie Otake, em São Paulo. A idéia,
diz, é vender peças assinadas por
artistas locais. "As obras foram
bem aceitas", comemora.
Filantropia x mercado
Se o produto "solidário" chegou
à condição de mercadoria, é porque muitas comunidades carentes tiveram ajuda de trabalhos voluntários, iniciados anos atrás, para qualificar artesãos de alto nível.
Para Paulo Itacarambi, diretor-executivo do Instituto Ethos de
Empresas e Responsabilidade Social, a compra de produtos feitos
por comunidades carentes é um
passo adiante à filantropia.
"A compra gera um benefício
para uma comunidade que precisar ter uma renda. É sempre melhor do que a doação direta."
Exemplo das benesses desse incentivo é o trabalho feito pela
Fundação Alavanca, fundada há
três anos pelo engenheiro e administrador Moysés Pluciennik.
A entidade ajuda um grupo de
mulheres de Ubatuba, município
no litoral norte de São Paulo, a
confeccionar bolsas de crochê. "A
nossa proposta é ter um produto
de qualidade para que, além de
ajudar a comunidade, o consumidor faça um bom negócio", diz.
A abertura de um mercado para
produtos "solidários" contribui
também para a elevação da auto-estima de todos os envolvidos.
"Quando vendemos, há uma relação de troca. É uma situação de
igual para igual", avalia Soeni Domingos Sandreschi, coordenadora institucional da Adere, instituição que há 31 anos atende adultos
portadores de deficiência.
A distância e a dificuldade de
comunicação com os artesãos são
fatores que dificultam a comercialização dos produtos. Em São
Paulo, no entanto, existem locais
que fazem a intermediação entre
as comunidades e os lojistas.
É o caso da Central Artesol, organização sem fins lucrativos que
lida com artesãos de 13 Estados, e
do Espaço Mundaréu, que vende
peças e representa comunidades.
Central Artesol - 0/xx/11/5511-3082;
Espaço Mundaréu - 0/xx/11/3032-4649
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