|
Próximo Texto | Índice
ENTREVISTA
Desconfiança entrava o crédito
ELEAZAR DE CARVALHO FILHO
O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Eleazar de Carvalho Filho, 45, afirma
que tem viabilizado novos caminhos para
que pequenos empresários adquiram empréstimos a taxas de juros mais baixas que
as do mercado. Mas ressalta: capital de giro
só é financiado se associado a um projeto
de investimento. Em entrevista concedida
à Folha, ele diz que, embora falte aos
agentes financeiros maior confiança nos
pequenos empreendedores, estes, por sua
vez, procuram financiamento sem apresentar um projeto bem elaborado. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Folha - Como as pequenas empresas são
vistas no mercado de crédito?
Eleazar de Carvalho Filho - Elas têm dificuldades de acesso a recursos não só aqui
como em outros países. É um problema de
garantia, de um maior risco de crédito, o
que é uma limitação. O BNDES tem feito
uma série de esforços para superar isso, como o Fundo de Aval, que fornece aos bancos um instrumento adicional para mitigar
riscos. Se houver inadimplência, se as operações são bem-feitas e realizadas dentro
das regras, esse fundo permite que o banco
tenha acesso a um reembolso ou recuperação de uma parcela do que deixou de receber. Outro instrumento são os postos
avançados que nós abrimos nas entidades
empresariais pelo Brasil. A idéia é orientar
o pequeno empresário sobre os produtos
do banco e também mostrar como é que
ele atua junto ao agente financeiro, que é o
nosso canal de distribuição. Temos feito
também uma série de mudanças no que
diz respeito à própria relação do BNDES
com seus agentes [bancos credenciados],
para procurar induzi-los a ajudar os microempresários: eles têm maior acesso aos
recursos do banco para financiar as empresas grandes caso emprestem recursos
às pequenas e médias empresas.
Folha - O que é determinante para a pequena empresa obter crédito no mercado?
Carvalho Filho - É preciso apresentar um
cadastro e um projeto que comprove as garantias possíveis de serem prestadas. No
caso dos empréstimos solicitados aos bancos, que são de longo prazo, existe, por trás
deles, um projeto. É muito importante que
o empresário possa detalhá-lo e mostrar
como será o retorno do investimento ao
longo do tempo. É por ele que o banco vai
analisar a capacidade do empreendedor.
Folha - O presidente Fernando Henrique
Cardoso declarou que, na verdade, há problemas de acesso aos recursos do BNDES por
parte das micro e pequenas empresas. Quais
são as grandes dificuldades para se conseguir empréstimo, afinal?
Carvalho Filho - Não é um problema de
volume. É questão de ter garantias adequadas e um projeto sustentável. Temos todo
interesse em aumentar o financiamento
desse setor. É uma cobrança não só da sociedade, mas também que o próprio planejamento estratégico do BNDES define claramente. Na verdade, a pequena e a média
empresa não têm acesso a financiamento
de capital de giro. Só o financiamos quando ele está associado a um investimento.
Folha - Qual a porcentagem de pequenas
empresas que tiveram seus projetos de financiamento aprovados no ano passado?
Carvalho Filho - Não tenho como calcular
essa porcentagem, mas posso dizer que,
em 2001, o BNDES financiou 136.825 projetos de micro, pequenas e médias empresas, que corresponderam a 95% do número de operações do banco.
Folha - Que tipo de investimentos costumam ser financiados pelo BNDES?
Carvalho Filho - Ativos fixos ou semifixos,
ou seja, máquinas, equipamentos e investimentos de longo prazo e de capacitação.
Folha - E o que não pode ser financiado?
Carvalho Filho - Tem uma lista extensa,
que inclui capital de giro, isoladamente,
aquisição de veículos leves, importação de
equipamentos usados, casas, motéis, além
de uma série de atividades, como atividades financeiras e comércio de armas.
Folha - Qual é o prazo do pagamento da
amortização de um financiamento?
Carvalho Filho - Depende do tipo de empreendimento, mas, de modo geral, até
cinco anos para equipamentos. Para projetos, é montado um cronograma de acordo
com as necessidades do empreendedor.
Folha - Quanto tempo demora a avaliação
do processo para a emissão de crédito?
Carvalho Filho - Se for uma empresa que
já tem um relacionamento com o banco, é
só fazer um contrato. Se o projeto for complexo, pode demorar alguns meses.
Folha - Quanto custa, em média, um financiamento com recursos do BNDES?
Carvalho Filho - Uma das bases desse custo é a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo),
que hoje é de aproximadamente 10%
anuais. Outras envolvem o dólar norte-americano e uma taxa de juros externa, fixa ou flutuante. Há também a remuneração do banco. Em suma, falamos de uma
taxa nominal de cerca de 15% ao ano.
Próximo Texto: Fórum de Idéias: Qual o papel de micro e pequenos empresários na economia brasileira? Índice
|