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COMÉRCIO SAGRADO
Especialistas apontam aumento na compra de produtos ligados à fé, e não a instituições
Busca por religiosidade aquece nicho
PAULA LAGO
EDITORA-ASSISTENTE DE EMPREGOS E NEGÓCIOS
Um movimento da população
em busca de religiosidade, sem
a necessidade de ter de se ligar
a uma doutrina específica, somado ao característico sincretismo
brasileiro, potencializou os negócios ligados a esse nicho.
"As pessoas buscam objetos
com alguma conotação religiosa.
Esse fenômeno é visto como uma
espécie de intensificação de uma
espiritualidade que não está necessariamente vinculada a igrejas", diz Sílvia Fernandes, socióloga do Ceris (Centro de Estatística
Religiosa e Investigações Sociais).
Apesar de não existirem estatísticas que comprovem o fato, a
percepção do mercado leva a essa
direção. A revista "Família Cristã", voltada ao público católico,
por exemplo, tem
registrado crescimento mensal entre 3% e 4% desde
dezembro de 2003,
afirma a diretora,
Ivonete Kürten,
40. A tiragem saltou de 56 mil
exemplares em
abril de 2003 para
os atuais 70 mil.
"Hoje há uma procura imensa por
artigos religiosos
para satisfazer
uma necessidade
pessoal", avalia.
Nesse mercado,
as alternativas são
variadas: distribuir, produzir ou
vender produtos
diversos, como
CDs, imagens,
jóias e livros.
"O nicho existe, e a percepção
de que as religiões crescem é fato.
Como em qualquer negócio, é
preciso conhecer o público-alvo,
e, talvez até mais que nos outros,
respeitá-lo", diz João Abdalla,
consultor de marketing da unidade de orientação empresarial do
Sebrae-SP (Serviço de Apoio à
Micro e Pequena Empresa).
E lembra: "Tudo pode melindrar esse cliente. Palavras têm de
ser escolhidas a dedo. Apesar disso, deve ser visto como um nicho
qualquer, que requer visão comercial e atitude profissional".
Campeões de venda
No que diz respeito aos católicos, fitinhas, imagens e terços são
os campeões de venda. Fornecedor das fitinhas de Aparecida (SP) no shopping do Santuário Nacional, André Augusto, 27, distribui semanalmente 60 mil unidades.
Só de imagens de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Maria
Celeste Bechara vende 1.500 por
mês. Dona de estande no santuário desde a inauguração, há sete
anos, ela diz conseguir manter as
finanças em dia só até janeiro.
"Depois, as vendas só reiniciam
em maio. Para vender bem, precisamos receber 80 mil pessoas aos
domingos e de 30 mil a 40 mil aos
sábados, para compensar a baixa
atividade nos dias de semana."
Nas religiões evangélicas, a música é o destaque.
Tanto que Francisco
José dos Santos, 50,
proprietário da Livraria da Fé, mudou
de ramo: trocou a
palavra escrita pela
cantada e hoje comercializa só CDs.
Ele conta que, há dez
anos, montou o negócio com R$ 1.500.
"Pagava R$ 250 de
aluguel e renovava o
estoque à medida
que vendia." Hoje
ele diz vender mil
CDs por mês e pagar
R$ 7.700 de aluguel.
Ciente de que saber lidar com o
cliente é a chave do
negócio, Jairo Fridlin, 41, proprietário
da Editora e Livraria
Sêfer, ampliou sua
atuação. Ele, que há 11 anos atende a comunidade judaica, passou
a oferecer também acessórios ligados à religião. Recentemente,
começou a vender pela internet.
"Hoje 50% da clientela é de católicos, evangélicos ou pessoas de outras crenças que querem conhecer
a religião ou presentear judeus."
Os freqüentadores da loja de
móveis Daibutsudo, que vende
oratórios e acessórios budistas,
também mudaram. "Há dez anos,
a clientela era de japoneses, mas
houve uma renovação: os brasileiros já somam 40%", diz o projetista de móveis Gilson Carvalho.
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